Empreendedorismo
3 min de leitura

3As Framework: o papel da ‘Agência’ nas transformações organizacionais

A agência dos agentes em sistemas complexos atua como força motriz na transformação organizacional, conectando indivíduos, tecnologias e ambientes em arranjos dinâmicos que moldam as interações sociais e catalisam mudanças de forma inovadora e colaborativa.
É Chief Scientific Officer na The Cynefin Co. Brazil e possui uma trajetória de pioneirismo com agilidade e complexidade. Teve trabalhos de grande destaque envolvendo a disciplina Agile Coaching, como a publicação do livro The Agile Coaching DNA, e introduzindo o conceito de plasticidade organizacional para comunidades e organizações. Na Austrália, esteve envolvido em iniciativas de transformação nas áreas financeira e de segurança civil, onde utilizou complexidade aplicada como base do seu trabalho. Mais recentemente foi Diretor de Business Agility para Americas da consultoria alemã GFT.

Compartilhar:

Liderança, panorama, futuro

Nos dois artigos anteriores, exploramos os conceitos de Assemblage (Aglutinação) e de Affordances (Disponibilidades), ambos componentes do 3As Framework criado por Dave Snowden. Agora, concluímos essa série de artigos com uma análise do conceito de Agency (Agência), suas relações com os conceitos de Assemblage e Affordances, e suas implicações e potencial para catalisar mudanças em sistemas sociais.

O conceito de ‘Agência’ refere-se a qualquer pessoa (individual ou coletiva) ou qualquer coisa (como tecnologias, artefatos e lugares) que exista em um sistema e tenha a capacidade de agir e modificá-lo. Analisar um sistema social sob a perspectiva das ‘Agências’ tem como principal objetivo entender quem ou o que atua nesse sistema, o grau de liberdade dessas ações e os diferentes níveis de influência sobre o contexto em questão.

Na sociologia e na antropologia, Agência refere-se à capacidade de indivíduos ou grupos de agir de forma independente, tomar decisões e exercer influência sobre o mundo ao seu redor. Esse conceito é essencial para compreender como as pessoas interagem com as estruturas sociais, exercem controle sobre suas próprias vidas e são influenciadas ou moldam as condições em que vivem. Em ambas as disciplinas, há um constante diálogo entre a liberdade de ação e as limitações impostas por estruturas sociais, culturais e materiais.

No contexto organizacional e empresarial, este conceito se manifesta de várias formas e em múltiplos níveis, envolvendo a capacidade de indivíduos, grupos, departamentos e até tecnologias e processos de tomar decisões e influenciar o desempenho da empresa. Elementos externos, como clientes, fornecedores, concorrentes, parceiros, associações, governos e órgãos reguladores, também exercem algum nível de ‘agência’ sobre a organização.

Agency em contextos complexos 

A relação entre Agência e sistemas sociais complexos é fundamental para entender como indivíduos, grupos e entidades interagem dentro de estruturas sociais dinâmicas e interconectadas. Em sistemas sociais complexos, as ações de agentes, sejam individuais ou coletivos, não resultam apenas de decisões autônomas, mas também são moldadas por uma rede de relações e interações que influenciam, de maneira recíproca, o comportamento e os resultados globais do sistema. Essa interdependência significa que a agência não pode ser compreendida isoladamente, mas deve ser analisada no contexto do sistema como um todo.

Nos sistemas complexos, a agência tende a ser distribuída entre múltiplos agentes, em vez de concentrada em um único ator ou entidade central. Para entender as dinâmicas do sistema, é crucial analisar como diferentes agentes — de indivíduos a instituições e tecnologias — exercem influência, colaboram e, por vezes, competem entre si. Cada agente tem um grau de ‘agência’ condicionado pelo sistema, e suas ações contribuem para o comportamento emergente do próprio sistema.

A noção de emergência é central para a relação entre Agência e sistemas complexos. A agência de um agente individual, por si só, pode ter efeitos limitados; no entanto, quando esse agente interage com outros agentes e com o ambiente sistêmico, suas ações podem gerar resultados inesperados e não lineares. Por exemplo, as escolhas de consumo de um grupo de pessoas, ao interagirem com o mercado e com políticas econômicas, podem desencadear mudanças significativas nos padrões de produção e oferta.

Essa interdependência também limita a agência de alguns agentes, já que suas ações estão sempre sujeitas a restrições estruturais e à imprevisibilidade das interações. Contudo, ela também cria oportunidades para cooperação, onde a conexão entre diferentes agentes pode amplificar sua agência coletiva, resultando em transformações mais amplas.

A relação entre Agency,  Assemblages e Affordances

A relação entre os conceitos de Agency e Assemblage (conforme explicado em artigo anterior) está profundamente ligada às ideias de ação, multiplicidade e relações dinâmicas. Ambos abordam a ação e a transformação em sistemas complexos, mas a partir de perspectivas ligeiramente diferentes. Enquanto a Agência se concentra na capacidade dos agentes (humanos e não humanos) de agir e influenciar sistemas, o Assemblage refere-se à forma como esses agentes são organizados, conectados e moldados em arranjos dinâmicos que permitem ou restringem essa ação.

A Agência pode ser vista como a força ou a potência que impulsiona a desterritorialização de um Assemblage, provocando mudanças e possibilitando novas configurações. A capacidade de um agente, individual ou coletivo, de agir não é fixa, mas depende de como ele se conecta ao Assemblage em que está inserido. Ao alterar essas conexões, por meio de ações diretas ou indiretas, é possível modificar o comportamento e os efeitos desse ‘agenciamento’.

Um bom exemplo da integração entre Agência e Assemblage pode ser observado no cotidiano urbano das cidades. Uma cidade pode ser vista como um Assemblage de elementos como humanos (moradores, autoridades), infraestruturas (estradas, edifícios, redes de transporte), tecnologias (internet, eletricidade) e práticas culturais (hábitos de mobilidade, consumo).

Nesse contexto, a agência não reside apenas nas pessoas, mas é distribuída entre todos esses elementos. Alterações em qualquer um desses componentes — como a introdução de uma nova tecnologia de transporte ou mudanças nas políticas públicas — podem reconfigurar o Assemblage urbano, criando novos padrões de mobilidade e interação.

O conceito de Affordances (disponibilidades) ajuda a entender as dinâmicas das agências em um sistema. Utilizar as agências disponíveis em um sistema social para catalisar mudanças e melhorias requer uma compreensão profunda dos vetores que influenciam ou moldam o sistema, além da identificação dos agentes-chave e suas capacidades de ação. A eficácia em promover mudanças depende de como essa agência é mobilizada, distribuída e ampliada, sempre em diálogo com as estruturas que limitam ou facilitam essas ações.

Agency como construtores de mudanças organizacionais

Compreender essas dinâmicas é essencial para facilitar processos de mudança nas organizações. Uma abordagem eficaz para catalisar transformações em sistemas sociais complexos é a formação de alianças sistêmicas entre diferentes agentes, cada um trazendo suas capacidades de ação para colaborar em prol de um objetivo comum. Ao unir forças, atores com diferentes formas de agência — como recursos econômicos, poder político, conhecimento técnico e influência social — podem ampliar significativamente sua capacidade de transformar o sistema.

O ecossistema do Cynefin Framework, com suas diversas lentes de análise e métodos, auxilia na compreensão das implicações e potenciais acerca do fenômeno das agências em sistemas sociais. A Agência é um elemento relevante capaz de provocar mudanças de estado no sistema, mas também de restringir e limitar as opções de movimento dentro desse mesmo sistema.

Identificar os elementos que exercem agência em um sistema social é essencial para qualquer organização que esteja em uma jornada de transformação. Com essa compreensão dos agentes e suas relações, as organizações podem elaborar estratégias mais eficazes para mudar suas formas de trabalho, estruturas, práticas e negócios de maneira geral.

Compartilhar:

É Chief Scientific Officer na The Cynefin Co. Brazil e possui uma trajetória de pioneirismo com agilidade e complexidade. Teve trabalhos de grande destaque envolvendo a disciplina Agile Coaching, como a publicação do livro The Agile Coaching DNA, e introduzindo o conceito de plasticidade organizacional para comunidades e organizações. Na Austrália, esteve envolvido em iniciativas de transformação nas áreas financeira e de segurança civil, onde utilizou complexidade aplicada como base do seu trabalho. Mais recentemente foi Diretor de Business Agility para Americas da consultoria alemã GFT.

Artigos relacionados

Reputação sólida, ética líquida: o desafio da integridade no mundo corporativo

No mundo corporativo, reputação se constrói com narrativas, mas se sustenta com integridade real – e é justamente aí que muitas empresas tropeçam. É o momento de encarar os dilemas éticos que atravessam culturas organizacionais, revelando os riscos de valores líquidos e o custo invisível da incoerência entre discurso e prática.

Vivemos a reinvenção do CEO?

Está na hora de entender como o papel de CEO deixou de ser sinônimo de comando isolado para se tornar o epicentro de uma liderança adaptativa, colaborativa e guiada por propósito. A era do “chefão” dá lugar ao maestro estratégico que rege talentos diversos em um cenário de mudanças constantes.

ESG, Cultura organizacional, Inovação
6 de agosto de 2025
Inovar exige enxergar além do óbvio - e é aí que a diversidade se torna protagonista. A B&Partners.co transformou esse conceito em estratégia, conectando inclusão, cultura organizacional e metas globais e impactou 17 empresas da network!

Dilma Campos, Gisele Rosa e Gustavo Alonso Pereira

9 minutos min de leitura
Cultura organizacional, ESG, Gestão de pessoas, Liderança, Marketing
5 de agosto de 2025
No mundo corporativo, reputação se constrói com narrativas, mas se sustenta com integridade real - e é justamente aí que muitas empresas tropeçam. É o momento de encarar os dilemas éticos que atravessam culturas organizacionais, revelando os riscos de valores líquidos e o custo invisível da incoerência entre discurso e prática.

Cristiano Zanetta

6 minutos min de leitura
Inteligência artificial e gestão, Estratégia e Execução, Transformação Digital, Gestão de pessoas
29 de julho de 2025
Adotar IA deixou de ser uma aposta e se tornou urgência competitiva - mas transformar intenção em prática exige bem mais do que ambição.

Vitor Maciel

3 minutos min de leitura
Carreira, Aprendizado, Desenvolvimento pessoal, Lifelong learning, Pessoas, Sociedade
27 de julho de 2025
"Tudo parecia perfeito… até que deixou de ser."

Lilian Cruz

5 minutos min de leitura
Inteligência Artificial, Gestão de pessoas, Tecnologia e inovação
28 de julho de 2025
A ascensão dos conselheiros de IA levanta uma pergunta incômoda: quem de fato está tomando as decisões?

Marcelo Murilo

8 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Liderança
25 de julho de 2025
Está na hora de entender como o papel de CEO deixou de ser sinônimo de comando isolado para se tornar o epicentro de uma liderança adaptativa, colaborativa e guiada por propósito. A era do “chefão” dá lugar ao maestro estratégico que rege talentos diversos em um cenário de mudanças constantes.

Bruno Padredi

2 minutos min de leitura
Desenvolvimento pessoal, Carreira, Carreira, Desenvolvimento pessoal
23 de julho de 2025
Liderar hoje exige muito mais do que seguir um currículo pré-formatado. O que faz sentido para um executivo pode não ressoar em nada para outro. A forma como aprendemos precisa acompanhar a velocidade das mudanças, os contextos individuais e a maturidade de cada trajetória profissional. Chegou a hora de parar de esperar por soluções genéricas - e começar a desenhar, com propósito, o que realmente nos prepara para liderar.

Rubens Pimentel

4 minutos min de leitura
Pessoas, Cultura organizacional, Gestão de pessoas, Liderança, times e cultura, Liderança, Gestão de Pessoas
23 de julho de 2025
Entre idades, estilos e velocidades, o que parece distância pode virar aprendizado. Quando escuta substitui julgamento e curiosidade toma o lugar da resistência, as gerações não competem - colaboram. É nessa troca sincera que nasce o que importa: respeito, inovação e crescimento mútuo.

Ricardo Pessoa

5 minutos min de leitura
Liderança, Marketing e vendas
22 de julho de 2025
Em um mercado saturado de soluções, o que diferencia é a história que você conta - e vive. Quando marcas e líderes investem em narrativas genuínas, construídas com propósito e coerência, não só geram valor: criam conexões reais. E nesse jogo, reputação vale mais que visibilidade.

Anna Luísa Beserra

5 minutos min de leitura
Tecnologia e inovação
15 de julho 2025
Em tempos de aceleração digital e inteligência artificial, este artigo propõe a literacia histórica como chave estratégica para líderes e organizações: compreender o passado torna-se essencial para interpretar o presente e construir futuros com profundidade, propósito e memória.

Anna Flávia Ribeiro

17 min de leitura