Conteúdo exclusivo Singularity University

A economia da criatividade exponencial

Computação na nuvem, ecossistemas colaborativos, códigos abertos, inteligência artificial. Graças à tecnologia, vivemos o melhor momento da história para gerar ideias
Especialista em Economia Exponencial na Singularity University Brazil e professor convidado da Escola de Economia de São Paulo. É engenheiro de software, mestre em finanças e criador da iniciativa Exonomics.com.br.

Compartilhar:

Faz tempo que a palavra exponencial tomou conta dos artigos e das palestras sobre tecnologia. Mas será que entendemos seu poder em outros contextos, como na economia e na criatividade? Se pensarmos no aumento do processamento computacional e na digitalização que provocou o rápido crescimento dos negócios nos últimos anos fica fácil ver uma curva de crescimento exponencial surgir, mas nem sempre ela é tão evidente. Essa curva representa, antes de tudo, um acúmulo, seja de riquezas, seja de tecnologias, seja de ideias.

A moeda britânica de duas libras traz a inscrição “Sobre os ombros de gigantes” em sua borda, uma referência à citação de Isaac Newton quanto à importância de outros pesquisadores para que ele chegasse às suas descobertas científicas disruptivas, que ampliaram a habilidade tecnológica do mundo. É possível que não tenha sido mera homenagem ou coincidência, talvez parte do governo do Reino Unido já soubesse a importância da acumulação de ideias criativas para a economia (e vice-versa). Nunca saberemos, mas fico feliz em poder usar a criatividade para imaginar tal visão de futuro.

## Acumulação de ideias
A máquina econômica funciona sob a pressão das urgências do gerenciamento de escassez. Quando uma ideia criativa resolve um problema parece que algo mágico e inesperado aconteceu, mas olhando de perto vemos a mágica se tornar ciência, e ela então passa a criar os avanços que fazem a economia tornar o mundo mais abundante e as nossas vidas mais seguras e confortáveis.

A enxurrada de ideias ao redor do mundo tem ganhado vida por meio da tecnologia e proporcionado um entendimento maior da importância da criatividade para a economia. Em vista disso, ao invés de marginalizar áreas de pesquisa aos distantes laboratórios, muitas empresas estão dando assento estratégico aos executivos de inovação.

A criatividade tecnológica tem impactos reais no futuro e requer investimento de capital, mas o aspecto mais importante da tecnologia é que ela permite criar inovações que impactam a maneira como vivemos. A infraestrutura tecnológica que construímos até aqui nos permite enxergar um potencial de crescimento muito maior do que no passado, e isso proporciona um ambiente atraente para investir em empresas que desejam ser criativas. A computação na nuvem, por exemplo, oferece uma infinidade de ferramentas que vêm democratizando a tecnologia e ajudando empresas criativas a combinarem soluções prontas para gerarem inovações no mercado. É a arte de criar um novo produto e adicionar valor econômico a ele.
As nuvens de gigantes como Microsoft, Amazon e Google mais parecem um parque de diversões para quem tem ideias e criatividade. Novas empresas surgem todos os dias ao redor desse ecossistema, e códigos abertos viram produtos de prateleira, proporcionando uma espécie de comoditização de algoritmos em que a criatividade se traduz na capacidade de combinação de partes construídas e acumuladas por outras pessoas. A troca de dados pelo modelo de APIs (Application Programming Interface) e os movimentos de descentralização como o Open Banking facilitam a criação de novos arranjos e arquiteturas econômicas que parecem não ter limites. É o melhor momento da história para ser criativo e usar a criatividade para transformar a economia.

Uma economia pujante incentiva a geração e a implementação de ideias inovadoras por meio de uma orquestração harmônica de instituições que ajudam a criar o balanço perfeito entre competição e colaboração. Se a proteção intelectual incentiva inventores a monetizarem ideias antes mesmo de elas serem implantadas, esse instituto também pode atrasar o tempo para que uma ideia chegue ao mercado e beneficie toda a sociedade. Empresas como a Tesla, montadora de carros autônomos elétricos que se tornou a quinta maior empresa em valor de mercado do mundo, optam por abrir mão de patentes em prol do poder cumulativo de ideais em plataformas abertas e ecossistemas colaborativos, fortalecendo o ambiente capaz de gerar a criatividade exponencial.

A hiperconectividade e a hiperautomatização devem nos levar a um crescimento econômico autoincremental, ou seja, o uso cada vez mais intenso da tecnologia nas indústrias fará nascer uma quantidade ainda maior de soluções criativas, e essas soluções criativas acumuladas (digitalmente) servirão como base para que novas soluções sejam criadas a partir da tecnologia, sem a necessidade de intervenções humanas. Afinal, a mágica da criatividade se revela a partir da criação de novas associações e combinações de informações, tarefa que os modelos de inteligência artificial têm se tornado cada vez mais precisos em fazer. O receio dos riscos de algoritmos de inteligência artificial desconhecidos nos leva à seguinte pergunta: uma máquina pode ser mais criativa do que um humano?

## A criatividade das máquinas
A OpenAI, empresa sem fins lucrativos criada por Elon Musk para realizar pesquisas abertas em inteligência artificial, afirma em seu site que “avançará na prosperidade sustentável em face do risco e das oportunidades globais”. A equipe está investindo pesadamente em IA, e o vice-presidente de engenharia da empresa, Ben Lillie, disse que a decisão veio em um momento em que a empresa deseja assumir um papel de liderança na orientação do campo. “Na próxima década, acreditamos que surgirão sistemas de IA muito mais inteligentes e capazes do que os humanos”, disse ele em um e-mail aos funcionários. “O desafio para as máquinas é que elas exigirão maior flexibilidade e capacidade de aprender rapidamente em situações desconhecidas. Isso exigirá novas técnicas para permitir que o aprendizado de máquina seja executado em qualquer dispositivo de hardware.”

Não se trata da inteligência artificial, mas dos desafios de gerenciar, empregar ou mesmo fazer parte de uma comunidade de tecnologia inclusiva. Quando você joga um jogo, provavelmente isso não requer qualquer conhecimento de neurociência, não requer o conhecimento de que a mente humana é inerentemente defeituosa, propensa a preencher lacunas de conhecimento ou fatos que nem mesmo percebemos, as únicas regras para pensar são aquelas pelas quais vivemos. Esta é uma história sobre cada um de nós como indivíduos, com nossas próprias identidades, talentos e perspectivas, e como podemos trabalhar juntos para trazer mudanças positivas em nossas comunidades. Esta é uma história sobre o potencial dos humanos de moldar seu próprio futuro e transformar o que é possível. Esta é uma história sobre como podemos construir comunidades humanas em uma época em que a tecnologia não é mais um espetáculo secundário, mas o principal motor de nossa sociedade.

Uma economia tecnológica é aquela na qual a maioria das atividades econômicas, de finanças à educação, são realizadas por agentes econômicos que estão continuamente capacitados para inovar. A revolução tecnológica que estamos vivendo é também a revolução da inteligência e, portanto, da forma como enxergamos a economia e a criatividade. Se você tem alguma dúvida de que as máquinas podem nos ajudar no caminho exponencial, releia o parágrafo anterior: ele não foi escrito por mim, mas pelo algoritmo de inteligência artificial conhecido por GPT-3 criado e disponibilizado publicamente através de uma API pela OpenAI. Ele usa 175 bilhões de parâmetros para fazer o processamento de linguagem natural, o que é dez vezes mais do que o seu antecessor.
A propósito, deixei mais um parágrafo escrito pelo algoritmo, se você encontrá-lo, me conta depois mandando uma mensagem pelo site Exonomics.com.br.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando o colaborador é o problema

Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura – às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Cultura organizacional, Bem-estar & saúde, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
15 de setembro de 2025
O luto não pede licença - e também acontece dentro das empresas. Falar sobre dor é parte de construir uma cultura organizacional verdadeiramente humana e segura.

Virginia Planet - Sócia e consultora da House of Feelings

2 minutos min de leitura
Marketing & growth, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
12 de setembro de 2025
O futuro do varejo já está digitando na sua tela. O WhatsApp virou canal de vendas, atendimento e fidelização - e está redefinindo a experiência do consumidor brasileiro.

Leonardo Bruno Melo - Global head of sales da Connectly

4 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
11 de setembro de 2025
Agilidade não é sobre seguir frameworks - é sobre gerar valor. Veja como OKRs e Team Topologies podem impulsionar times de produto sem virar mais uma camada de burocracia.

João Zanocelo - VP de Produto e Marketing e cofundador da BossaBox

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, compliance, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Liderança
10 de setembro de 2025
Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura - às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Tatiana Pimenta - CEO da Vittude

5 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
9 de setembro de 2025
Experiência também é capital. O ROEx propõe uma nova métrica para valorizar o repertório acumulado de profissionais em times multigeracionais - e transforma diversidade etária em vantagem estratégica.

Fran Winandy e Martin Henkel

10 minutos min de leitura
Inovação
8 de setembro de 2025
No segundo episódio da série de entrevistas sobre o iF Awards, Clarissa Biolchini, Head de Design & Consumer Insights da Electrolux nos conta a estratégia por trás de produtos que vendem, encantam e reinventam o cuidado doméstico.

Rodrigo Magnago

2 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
5 de setembro de 2025
O maior desafio profissional hoje não é a tecnologia - é o tempo. Descubra como processos claros, IA consciente e disciplina podem transformar sobrecarga em produtividade real.

Diego Nogare

6 minutos min de leitura
Marketing & growth, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Liderança
4 de setembro de 2025
Inspirar ou limitar? O benchmark pode ser útil - até o momento em que te afasta da sua singularidade. Descubra quando olhar para fora deixa de fazer sentido.

Bruna Lopes de Barros

3 minutos min de leitura
Inovação
Em entrevista com Rodrigo Magnago, Fernando Gama nos conta como a Docol tem despontado unindo a cultura do design na organização

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
ESG, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
3 de setembro de 2025
O plástico nasceu como símbolo do progresso - hoje, desafia o futuro do planeta. Entenda como uma invenção de 1907 moldou a sociedade moderna e se tornou um dos maiores dilemas ambientais da nossa era.

Anna Luísa Beserra - CEO da SDW

0 min de leitura