Liderança, Gestão de pessoas

A diferença que a segurança psicológica faz

Quando o time conta com um círculo de segurança sólido, a confiança se estabelece e até a neuroquímica colabora para que juntos obtenham bons resultados
Viviane Mansi é executiva, conselheira e professora. É diretora de Comunicação na Diageo e passou por empresas como Toyota, GE, Votorantim e MSD. É coautora de Emoção e Comunicação – Reflexão para humanização das relações de trabalho.
Viviane Mansi é executiva da Toyota e da Fundação Toyota do Brasil, conselheira e professora. Participou da COP27, em novembro de 2022.

Compartilhar:

Cada vez mais ouvimos pessoas compartilhando suas frustrações com o trabalho, fato que vai na contramão do que diz a ciência sobre os benefícios de estarmos em paz com o nosso ganha-pão. Quando tudo está bem ao nosso redor, nós podemos focar em fazer as coisas darem certo; não perdemos tempo com distrações. E o sentimento de realização que experimentamos nessas ocasiões nos dá mais e mais vontade continuar.

Diferentes pesquisas sobre ambiente organizacional e engajamento dão conta de que tem sido cada vez maior o número de pessoas que experimentam desagrado ou frustração com seu trabalho.

Vamos nos “demorar” um pouco mais nessa questão. O que incomoda as pessoas, muitas vezes, não são os desafios externos. Ao contrário, quando alguém lamenta o trabalho provavelmente está sofrendo com as interações internas, sejam com outras áreas, colegas ou mesmo com a liderança imediata.

Simon Sinek, em um dos seus livros, fala um pouco sobre esse tema e possíveis razões para experimentarmos frustração ou estresse dentro de casa. Segundo o autor, isso acontece devido à falta de um círculo de segurança.

Ao criar esse círculo de segurança entre as pessoas da organização, a liderança reduz as ameaças que são sentidas dentro do grupo, liberando-o para dedicar mais tempo e energia para proteger a organização dos “perigos” constantes do exterior. Sem esse círculo de segurança, as pessoas acabam dedicando muito tempo e energia para se protegerem umas das outras.

Quando existe essa segurança interna, criamos um ambiente mais favorável à troca de informação, à inovação, à comunicação eficaz e, o que considero uma fortaleza para qualquer empresa, aos altos níveis de confiança.

Confiança, aliás, não cai do céu. Ela é construída no dia a dia a partir da convivência e das demonstrações sucessivas de suporte que as pessoas experimentam. Em um determinado ponto, nós podemos “baixar a guarda” sobre o ambiente, pois podemos dizer que o conhecemos e sabemos que estamos seguros.

Quando podemos colocar toda a nossa energia em avançar nos desafios externos, sem nos preocuparmos com os internos, experimentamos os efeitos da dopamina no organismo – uma sensação de satisfação. Talvez também tenhamos a oportunidade de sentir mais os efeitos da serotonina, ou uma sensação que nos invade quando nos damos conta de que gostamos um dos outros e somos respeitados. Nós nos sentimos mais fortes e confiantes.

Quando tudo vai bem, talvez o corpo também libere mais ocitocina. Ela melhora o nosso humor, nossa abertura para a interação social, diminui a ansiedade e aumenta a ligação entre nossos colegas (e família).

Tudo vai muito bem até que esse arranjo perfeito da segurança seja colocado em risco. Aí o cérebro passa a liberar outro tipo de substância: o cortisol. Ele não é um bom parceiro da ocitocina e a inibe. O cortisol tem a função de nos proteger dos inimigos e nos deixar preparados para lutar. Dentro das organizações, é uma porta aberta ao estresse.

Fica então a pergunta: quais têm sido as nossas ações concretas para regular (ou restaurar) o círculo de segurança? Consigo falar sobre um tema difícil? Se tenho uma cadeira de liderança, demonstro ao meu time que pode contar comigo? Como lidar se observarmos que falta segurança interna?

Reflexões que podem render um livro.

Deixe aqui nos comentários sua reflexão.

*Gostou do artigo da Viviane Mansi? Saiba mais sobre liderança e gestão de pessoas assinando gratuitamente [nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter) e escutando [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts) em sua plataforma de streaming favorita.*

Compartilhar:

Viviane Mansi é executiva, conselheira e professora. É diretora de Comunicação na Diageo e passou por empresas como Toyota, GE, Votorantim e MSD. É coautora de Emoção e Comunicação – Reflexão para humanização das relações de trabalho.

Artigos relacionados

Relacionamentos geram resultados

Em tempos de alta performance e tecnologia, o verdadeiro diferencial está na empatia: um ativo invisível que transforma vínculos em resultados.

Inovação
30 de setembro
O Brasil tem talento reconhecido no design - mas sem políticas públicas e apoio estratégico, seguimos premiando ideias sem transformar setores.

Rodrigo Magnago

6 minutos min de leitura
Liderança
29 de setembro de 2025
No topo da liderança, o maior desafio pode ser a solidão - e a resposta está na força do aprendizado entre pares.

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

4 minutos min de leitura
ESG, Empreendedorismo
29 de setembro de 2025
No Dia Internacional de Conscientização sobre Perdas e Desperdício de Alimentos, conheça negócios de impacto que estão transformando excedentes em soluções reais - gerando valor econômico, social e ambiental.

Priscila Socoloski CEO da Connecting Food e Lucas Infante, CEO da Food To Save

2 minutos min de leitura
Cultura organizacional
25 de setembro de 2025
Transformar uma organização exige mais do que mudar processos - é preciso decifrar os símbolos, narrativas e relações que sustentam sua cultura.

Manoel Pimentel

10 minutos min de leitura
Uncategorized
25 de setembro de 2025
Feedback não é um discurso final - é uma construção contínua que exige escuta, contexto e vínculo para gerar evolução real.

Jacqueline Resch e Vivian Cristina Rio Stella

4 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
24 de setembro de 2025
A IA na educação já é realidade - e seu verdadeiro valor surge quando é usada com intencionalidade para transformar práticas pedagógicas e ampliar o potencial de aprendizagem.

Rafael Ferreira Mello - Pesquisador Sênior no CESAR

5 minutos min de leitura
Inovação
23 de setembro de 2025
Em um mercado onde donos centralizam decisões de P&D sem métricas críveis e diretores ignoram o design como ferramenta estratégica, Leme revela o paradoxo que trava nosso potencial: executivos querem inovar, mas faltam-lhes os frameworks mínimos para transformar criatividade em riqueza. Sua fala é um alerta para quem acredita que prêmios de design são conquistas isoladas – na verdade, eles são sintomas de ecossistemas maduros de inovação, nos quais o Brasil ainda patina.

Rodrigo Magnago

5 min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
22 de setembro de 2025
Engajar grandes líderes começa pela experiência: não é sobre o que sua marca oferece, mas sobre como ela faz cada cliente se sentir - com propósito, valor e conexão real.

Bruno Padredi - CEP da B2B Match

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Liderança
19 de setembro de 2025
Descubra como uma gestão menos hierárquica e mais humanizada pode transformar a cultura organizacional.

Cristiano Zanetta - Empresário, palestrante TED e filantropo

0 min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Inovação & estratégia
19 de setembro de 2025
Sem engajamento real, a IA vira promessa não cumprida. A adoção eficaz começa quando as pessoas entendem, usam e confiam na tecnologia.

Leandro Mattos - Expert em neurociência da Singularity Brazil

3 minutos min de leitura