Estratégia e Execução

A engrenagem que permite sua empresa crescer sem perder a identidade

Algumas estratégias para conseguir uma escalabilidade global e saudável
Rodrigo Bernardinelli é CEO e cofundador da Digibee, plataforma de integração digital que acelera a tecnologia corporativa

Compartilhar:

Por trás da aura de sucesso que envolve startups consolidadas, descobrir a trilha para conquistar novos mercados e aumentar receita sem abrir mão da identidade é um desafio recorrente. Estamos falando da tão desejada escalabilidade global. Quem resolve essa equação, consequentemente, é convidado a caminhar pelo tapete vermelho das rodadas de investimentos conhecidas como séries A, B e C.

Por que os processos de expansão global são tão desafiadores, mesmo para startups que venceram barreiras de mercado e conquistaram grandes clientes? Porque escalar a operação não significa apenas aumentar a receita. Tampouco basta desenvolver soluções competitivas para garantir o sucesso no crescimento da operação.

O desafio está em formatar um modelo replicável em qualquer geografia, com horizontes de custos e geração de receita muito bem definidos. O olhar dos investidores está focado no retorno do capital.

Em uma economia cada vez mais digitalizada e globalizada, é preciso replicar o valor gerado. O principal desafio está em comprovar que o valor percebido por clientes tem potencial para atingir ganhos de escala, independentemente de geografias, indústrias e modelos de governo.

## Máquinas para escalabilidade
Aos olhos dos investidores, no entanto, não basta apresentar o valor gerado. É preciso desenvolver modelos que comprovem o potencial de ganho de escala, com previsibilidade de receita.

É imprescindível ainda que esses modelos sejam de fácil compreensão. Os times de investidores estão cada vez mais diversos. Não adianta construir estruturas complexas, porque só vai dificultar o entendimento e afastar o capital.

Nesse cenário, construímos um modelo estratégico que chamamos de “máquinas de escala”. Seu diferencial está na autonomia das engrenagens e na sua capacidade de replicar e se adaptar às necessidades de cada geografia ou indústria.

Na prática, esse modelo compreende três engrenagens para sustentar o crescimento em escala: “máquina de produto”, “máquina de receita” e “máquina de pessoas”. Quem quer investir tem mais clareza do quanto poderá aportar e o quanto isso representará em retorno financeiro.

A primeira máquina do modelo, a “máquina de produto”, tem como ponto de partida a estratégia que se transforma em funcionalidades para o cliente. Nesse cenário, utilizamos o “team topologies”, baseado no livro *[Team Topologies: Organizing Business and Technology Teams for Fast Flow](https://www.amazon.com.br/Team-Topologies-Organizing-Business-Technology/dp/1942788819/ref=asc_df_1942788819/?tag=googleshopp00-20&linkCode=df0&hvadid=379693121961&hvpos=&hvnetw=g&hvrand=12767652373422137509&hvpone=&hvptwo=&hvqmt=&hvdev=c&hvdvcmdl=&hvlocint=&hvlocphy=1001650&hvtargid=pla-814979121782&psc=1)*, de Manuel Pais e Matthew Skelton.

Esse método gerencia as interações entre equipes divididas em pequenos grupos de produtos ou funcionalidades. Se for necessário criar uma funcionalidade ou produto, um novo grupo será formado, sem prejuízo às estruturas já estabelecidas.

À medida que a plataforma se expande, novas funcionalidades são adicionadas. É possível agregar novos times para executar tarefas de forma coordenada, mesmo que os integrantes estejam fisicamente separados e em continentes distintos. Isso permite expandir a linha de produtos, sem perder qualidade ou cultura.

## Ganhos exponenciais de receita
Para impulsionar a mola do faturamento, a segunda máquina, chamada de “máquina de receita”, é alimentada pela prospecção de clientes e gera faturamento para a empresa. Nessa engrenagem, atuam times multidisciplinares, que batizamos de “pods”. Cada “pod” é composto por profissionais de geração de demanda, prospecção, vendas e “customers success”.

A vantagem dessa estrutura é a replicabilidade. É possível ter um “pod” focado no mercado dos Estados Unidos, outro para o mercado de São Paulo, etc. Posso dividir ainda em verticais, estruturando um “pod” somente para a indústria farmacêutica, por exemplo.

A beleza desse modelo é a possibilidade de replicar essas estruturas em quaisquer geografias ou indústrias, com visão plena de custos e geração de receita. O resultado dá previsibilidade para o negócio e, consequentemente, para os investidores.

A terceira engrenagem do nosso modelo é focada em pessoas. A “máquina de pessoas” tem potencial para transformar candidatos e colaboradores em talentos e futuros sócios.

O objetivo aqui é formar pessoas que possam liderar processos presentes em cada uma das máquinas. Há, portanto, uma clareza sobre o tamanho da estrutura dos times necessários para colocar em prática cada processo.

## Autonomia e governança
Ao criarmos esse modelo, percebemos que ele tende a ganhar mais força porque as máquinas funcionam com autonomia. Todos os processos necessários para que cada máquina desempenhe seu papel na íntegra estão contidos em cada uma delas. O desenrolar dessa engrenagem resulta ainda em alinhamento das pessoas e integração dos times aos processos.

Outro ganho é a formação de uma biblioteca de processos. Tudo está documentado. Para quem chega, é fácil encontrar a descrição dos processos e o que esperar de cada um deles. No dia a dia, essa estratégia aumenta a capacidade de promover melhorias nos processos.

Se melhorarmos 1% por dia, ao fim de um ano, triplicamos a eficiência. Engana-se quem relaciona o aprimoramento de processos a uma sofisticação em inovar. É muito mais simples, basta ter atenção a pequenos ajustes que, ao serem adicionados, tornam a máquina mais eficiente.

Sabe aquela pitadinha de tempero, o toque final dos chefs? Pois é, funciona mais ou menos assim. Um olhar atento é capaz de identificar pequenas engrenagens fora do ritmo.

Para completar a estratégia, é fundamental contar com um conjunto de métricas, as chamadas KPIs. Elas são imprescindíveis para mostrar o que, de fato, está funcionando e o que precisa ser aprimorado. Em ritmo coordenado, todas as três máquinas rodam sob o manto sagrado da governança.

Nos novos “tempos modernos”, as máquinas de escala não escravizam. As três máquinas conferem autonomia a processos, fomentam ideias e seduzem talentos. É uma engrenagem azeitada para desbravar mercados e escalar valor.

Compartilhar:

Artigos relacionados

ESG, Empreendedorismo
29 de setembro de 2025
No Dia Internacional de Conscientização sobre Perdas e Desperdício de Alimentos, conheça negócios de impacto que estão transformando excedentes em soluções reais - gerando valor econômico, social e ambiental.

Priscila Socoloski CEO da Connecting Food e Lucas Infante, CEO da Food To Save

2 minutos min de leitura
Cultura organizacional
25 de setembro de 2025
Transformar uma organização exige mais do que mudar processos - é preciso decifrar os símbolos, narrativas e relações que sustentam sua cultura.

Manoel Pimentel

10 minutos min de leitura
Uncategorized
25 de setembro de 2025
Feedback não é um discurso final - é uma construção contínua que exige escuta, contexto e vínculo para gerar evolução real.

Jacqueline Resch e Vivian Cristina Rio Stella

4 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
24 de setembro de 2025
A IA na educação já é realidade - e seu verdadeiro valor surge quando é usada com intencionalidade para transformar práticas pedagógicas e ampliar o potencial de aprendizagem.

Rafael Ferreira Mello - Pesquisador Sênior no CESAR

5 minutos min de leitura
Inovação
23 de setembro de 2025
Em um mercado onde donos centralizam decisões de P&D sem métricas críveis e diretores ignoram o design como ferramenta estratégica, Leme revela o paradoxo que trava nosso potencial: executivos querem inovar, mas faltam-lhes os frameworks mínimos para transformar criatividade em riqueza. Sua fala é um alerta para quem acredita que prêmios de design são conquistas isoladas – na verdade, eles são sintomas de ecossistemas maduros de inovação, nos quais o Brasil ainda patina.

Rodrigo Magnago

5 min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
22 de setembro de 2025
Engajar grandes líderes começa pela experiência: não é sobre o que sua marca oferece, mas sobre como ela faz cada cliente se sentir - com propósito, valor e conexão real.

Bruno Padredi - CEP da B2B Match

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Liderança
19 de setembro de 2025
Descubra como uma gestão menos hierárquica e mais humanizada pode transformar a cultura organizacional.

Cristiano Zanetta - Empresário, palestrante TED e filantropo

0 min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Inovação & estratégia
19 de setembro de 2025
Sem engajamento real, a IA vira promessa não cumprida. A adoção eficaz começa quando as pessoas entendem, usam e confiam na tecnologia.

Leandro Mattos - Expert em neurociência da Singularity Brazil

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de setembro de 2025
Ignorar o talento sênior não é só um erro cultural - é uma falha estratégica que pode custar caro em inovação, reputação e resultados.

João Roncati - Diretor da People + Strategy

3 minutos min de leitura
Inovação
16 de setembro de 2025
Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Magnago

4 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)