Gestão de pessoas, Liderança

A maior oportunidade de toda uma geração

Está hoje, na mão dos gestores, o conhecimento para fazer história em suas organizações. Mas há um obstáculo importante no caminho: o ego
É sócio da RIA, empresa especializada em construir segurança psicológica em equipes. Criador do PlayGrounded, a Ginástica do Humor, é jornalista (Folha de S.Paulo, Veja, Superinteressante e Vida Simples), foi sócio da consultoria Origami e consultor em branding. Ator e improvisador, integra o grupo Jogo da Cena.

Compartilhar:

No meu [último artigo nesta coluna](https://www.revistahsm.com.br/post/a-quem-serve-o-silencio), falei sobre a pandemia de silêncio e omissão nas equipes, um mal que assola ambientes de trabalho no mundo todo. Finalizei o texto perguntando: a quem serve que os times fiquem calados e omitam suas ideias, questionamentos, dúvidas ou falhas? Vou dar a minha versão de resposta a essa pergunta.

Primeiro, vamos entender a quem não interessa que os colaboradores se calem: as organizações.

O que ganham uma empresa e seus acionistas quando os colaboradores deixam de levantar a mão para apontar problemas que eles veem em assuntos relevantes, para dar sugestões que consideram válidas, para dirimir dúvidas ou para apontar erros que precisam ser sanados ou compreendidos? A resposta é óbvia: a organização não ganha nada.

Conscientemente, nenhum gestor, líder de equipe ou pessoa de responsabilidade endossaria esses comportamentos. No entanto, somos nós, as lideranças e gestores, os maiores responsáveis pelo silêncio nas nossas equipes.

E não é difícil entender porque isso acontece. É muito desafiador lidar com uma equipe em que as pessoas se sentem à vontade para falar, sugerir, questionar, desafiar o status quo. É preciso uma grande dose de autoconfiança para assumir as limitações que todos nós temos, diante de um grupo que desafia nosso conhecimento, questiona nossas ideias, pensa diferente.

É preciso uma grande dose de humildade para admitir que estamos equivocados, iludidos, que não sabemos ou não temos competência suficiente em determinado assunto ou função.

É preciso uma grande dose de vulnerabilidade para abrir espaço a quem sabe mais do que nós, em prol dos nossos objetivos compartilhados.

Além disso, é preciso ainda mais confiança, vulnerabilidade e humildade para ouvir atenta e interessadamente o pensamento diferente, quando ainda não temos certeza do valor que ele contém.

Muito mais fácil é utilizar o poder que a hierarquia nos confere para intimidar questionamentos pertinentes, calar o dissenso enriquecedor, escamotear as falhas recorrentes, driblar processos caducos, evitar abalar o status quo e ignorar as ideias distintas das nossas.

As reuniões ficam mais breves, as relações ganham uma aparência de polidez, há menos ruído visível no ambiente, as coisas ficam no lugar certo.

## Um jogo milenar

“Ah, Rodrigo, em que mundo você vive? Essa dinâmica de poder é o que move a humanidade desde o início dos tempos”.

Concordo. Manipular o poder para obter comportamentos esperados pelo grupo é só um outro nome para “processo de socialização”. É assim que a gente aprende, desde tenra idade, a operar em grupo: adequar-se para não ser excluído por quem tem poder. Qual a principal moeda de troca dos pais para obter dos filhos os comportamentos desejados? Ameaça. “Mamãe não vai gostar de você, se você fizer isso. Melhor fazer o que eu quero, em vez do que você quer.”

E os pais fazem isso na melhor das intenções, habitados pelo amor mais verdadeiro que um ser humano é capaz; pois eles acham que sabem o que é melhor para seus filhos. E qual é o gestor que acha que não sabe o que é melhor para seu time?

## A pesquisa que mudou o jogo

A diferença é que hoje temos dados que nos mostram que não sabemos o que é melhor para nossos times. E o divisor de águas, que descortinou uma verdade há muito intuída, foi o projeto Aristóteles (que [já citei aqui](https://www.revistahsm.com.br/post/nao-e-quem-e-como)), cuja principal descoberta pode ser resumida pela seguinte frase: são mais eficientes as equipes em que as pessoas se sentem à vontade para contribuir e não se omitem. O resultado revogou o habeas corpus de práticas agressivas ou violentas por parte dos gestores.

Até então, coibir abusos das lideranças tratava-se de uma questão moral e ética, quase um custo necessário para a organização operar. Desde 2015, quando o estudo foi publicado, esse tipo de atitude passou a ser também um atentado aos resultados, ao EBITDA e ao retorno aos acionistas. Eliminar o bullying e incentivar a participação passa a ser um investimento.

Estamos diante da maior oportunidade da nossa geração, em matéria de ganhos de gestão. Um tesouro que alcança ganhos na casa de dois dígitos. A boa notícia é que a única coisa que separa você dessa preciosidade é o seu ego. A má notícia é que, se você não se dispuser a buscá-la, pode ter certeza de que alguém que compete com você irá.

*Gostou do artigo de Rodrigo Vergara? Confira conteúdos semelhantes [assinando nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter) e escutando [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts) em sua plataforma de streaming favorita.*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Relacionamentos geram resultados

Em tempos de alta performance e tecnologia, o verdadeiro diferencial está na empatia: um ativo invisível que transforma vínculos em resultados.

Tecnologia & inteligencia artificial, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
3 de outubro de 2025
A IA está redefinindo o trabalho - e cabe ao RH liderar a jornada que equilibra eficiência tecnológica com desenvolvimento humano e cultura organizacional.

Michelle Cascardo, Latam Sr Sales Manager na Deel

5 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
2 de outubro de 2025
Na indústria automotiva, a IA Generativa não é mais tendência - é o motor da próxima revolução em eficiência, personalização e experiência do cliente.

Lorena França - Hub Mobilidade do Learning Village

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
1º de outubro de 2025
No mundo pós-IA, profissionais 50+ são mais que relevantes - são pontes vivas entre gerações, capazes de transformar conhecimento em vantagem competitiva.

Cris Sabbag - COO da Talento Sênior

4 minutos min de leitura
Inovação
30 de setembro
O Brasil tem talento reconhecido no design - mas sem políticas públicas e apoio estratégico, seguimos premiando ideias sem transformar setores.

Rodrigo Magnago

6 minutos min de leitura
Liderança
29 de setembro de 2025
No topo da liderança, o maior desafio pode ser a solidão - e a resposta está na força do aprendizado entre pares.

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

4 minutos min de leitura
ESG, Empreendedorismo
29 de setembro de 2025
No Dia Internacional de Conscientização sobre Perdas e Desperdício de Alimentos, conheça negócios de impacto que estão transformando excedentes em soluções reais - gerando valor econômico, social e ambiental.

Priscila Socoloski CEO da Connecting Food e Lucas Infante, CEO da Food To Save

2 minutos min de leitura
Cultura organizacional
25 de setembro de 2025
Transformar uma organização exige mais do que mudar processos - é preciso decifrar os símbolos, narrativas e relações que sustentam sua cultura.

Manoel Pimentel

10 minutos min de leitura
Uncategorized
25 de setembro de 2025
Feedback não é um discurso final - é uma construção contínua que exige escuta, contexto e vínculo para gerar evolução real.

Jacqueline Resch e Vivian Cristina Rio Stella

4 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
24 de setembro de 2025
A IA na educação já é realidade - e seu verdadeiro valor surge quando é usada com intencionalidade para transformar práticas pedagógicas e ampliar o potencial de aprendizagem.

Rafael Ferreira Mello - Pesquisador Sênior no CESAR

5 minutos min de leitura
Inovação
23 de setembro de 2025
Em um mercado onde donos centralizam decisões de P&D sem métricas críveis e diretores ignoram o design como ferramenta estratégica, Leme revela o paradoxo que trava nosso potencial: executivos querem inovar, mas faltam-lhes os frameworks mínimos para transformar criatividade em riqueza. Sua fala é um alerta para quem acredita que prêmios de design são conquistas isoladas – na verdade, eles são sintomas de ecossistemas maduros de inovação, nos quais o Brasil ainda patina.

Rodrigo Magnago

5 min de leitura