Uncategorized

Como ser honesta, segundo Jessica Alba

Em 2012, a atriz fundou, com o sócio Christopher Gavigan, a The Honest Company, com o propósito de criar e distribuir produtos de higiene e limpeza atóxicos, orgânicos e ecológicos. A bem-intencionada startup atraiu investidores, expandiu-se rápido e virou um unicórnio, mas vem descobrindo os desafios de crescer e, ao mesmo tempo, continuar a fazer jus ao nome

Compartilhar:

Durante sua primeira gravidez, em 2008, a atriz Jessica Alba passou um bom tempo pesquisando produtos para bebê e comprando-os online; queria que tudo fosse o mais natural possível. Muitos dos que adquiriu se mostraram decepcionantes, porém: apesar das embalagens de material reciclável, das fotos de natureza e de todas as promessas feitas, suas fichas técnicas revelaram a existência de componentes que ela procurava evitar. 

Como se não bastasse, a primeira filha nasceu e teve uma reação alérgica horrível ao sabão em pó especial que Alba tinha comprado para lavar suas roupinhas. Foi quando a atriz compareceu ao lançamento do livro _Healthy child health world_, de Christopher Gavigan, então CEO de uma organização sem fins lucrativos. O autor explica, com base no trabalho desenvolvido por sua ONG, como os pais devem proceder para evitar a contaminação dos filhos por produtos tóxicos. 

Alba aumentou a vigilância seguindo esses conselhos, mas percebeu que os poucos produtos verdadeiramente seguros não tinham a eficácia desejada na função a que se destinavam. 

Então, enxergou uma oportunidade de empreender e convidou Gavigan para fundar, com ela, uma empresa que fabricasse produtos que fossem realmente naturais, livres de químicos, e funcionassem. 

Assim surgiu, em 2012, a The Honest Company, com foco em criar e distribuir produtos atóxicos para bebês e gestantes, além de itens de higiene pessoal e de limpeza doméstica orgânicos e ecológicos. A startup levantou mais de US$ 200 milhões com fundos de venture capital e, em 2015, ganhou o status de unicórnio, com valor de mercado estimado em US$ 1,7 bilhão. De 17 produtos vendidos inicialmente, saltou para mais de 100 na carteira – acrescentou uma linha de cosméticos naturais, inclusive. De venda exclusivamente online, passou a ser comercializada também em grandes redes de lojas de departamentos, como Target e Nordstrom. Sua receita anual é de US$ 300 milhões (dados fornecidos pela empresa). 

O que Jessica Alba vem descobrindo, no entanto, é que ter honestidade nos negócios é bem mais desafiador do que parece, especialmente quando se cresce muito rápido. Nos dois últimos anos, a Honest fez três recalls de produtos – entre eles, fraldas e lenços umedecidos com suspeita de terem mofo (mas a empresa alega ter sido por excesso de zelo). Também foi processada por um cliente que disse que seu protetor solar não funcionava e, em junho de 2017, concordou em pagar US$ 1,5 milhão em uma ação de âmbito nacional nos Estados Unidos que alegava que seus produtos para lavar roupas e louça continham ingredientes químicos não naturais – como a produção da Honest é terceirizada, e para várias partes do mundo, é difícil controlar toda a cadeia de fornecimento. Depois de uma reorganização que incluiu 80 demissões e a contratação de um novo CEO – Nick Vlahos, ex-executivo da marca Clorox –, Alba espera ver sua empresa avançar para um novo patamar. Em entrevista à _Fast Company_, ela falou sobre as dores do crescimento. “Você nunca sabe realmente no que se meteu até estar ali, e cada dia é diferente”, diz, comparando o processo a ter filhos. “Mas tenho procurado evoluir com essas experiências. Ser empreendedora me entusiasma muito.” 

A atriz é a porta-voz da Honest e quem cuida de sua imagem – é a responsável pela decisão de indenização milionária para evitar uma batalha judicial. Ela entende que, devido à promessa explícita de honestidade, o público da empresa é muito mais exigente do que o usual. “Chamar uma organização de ‘Honest’ causa preocupações extras quando algo dá errado”, reforça Andrew Gilman, especialista em gestão de crises. 

Os produtos de limpeza, acusados de conterem ingredientes químicos não adequados à proposta da companhia, tiveram as fórmulas rapidamente alteradas – ainda que Alba atribua a mudança mais a um constante processo de aperfeiçoamento do que a uma reação às críticas dos consumidores que reverberaram na imprensa. 

A Honest agora quer reduzir preços para que seus produtos se tornem acessíveis a mais pessoas. Segundo Alba, a empresa está conseguindo baixar os preços graças à economia de escala e à maior eficiência tanto na produção como na precificação. 

O grande objetivo é transformar o que inicialmente estava estruturado como um e-commerce em uma companhia global omnicanal, como explica Alba. A experiência do novo CEO pode, em sua opinião, ajudar a tornar isso realidade. “Seu currículo como executivo é incrível; já trabalhou na [empresa de cosméticos] Burt’s Bee e supervisionou várias marcas na Clorox.” E ela também admite: “Como empreendedores, vamos aprendendo enquanto fazemos”. 

Um fator de pressão particular são as intermináveis especulações do mercado, que vão da suposta venda do negócio para a Unilever à abertura de capital em bolsa de valores, mas Alba prefere não falar sobre esses assuntos. “Eu me concentro no dia a dia – em como entregar a melhor experiência para o consumidor, em como realmente desenvolver a marca. Quanto ao restante das coisas, prefiro que outras pessoas falem por mim.” Os rumores sobre aquisição podem ter a ver com a compra da Seventh Generation pela Unilever em 2016. Já o IPO estava previsto; sua demora talvez se deva, conforme especialistas entrevistados pela CNN, aos recalls e processos judiciais. 

O número de clientes aumenta. A própria Alba teve seu terceiro bebê no último dia de 2017 – Hayes. Mas, como ela vem aprendendo, dar à luz um negócio honesto não é tão fácil.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Como superar o desafio da inovação com ambientes ainda informais?

Em um mercado onde donos centralizam decisões de P&D sem métricas críveis e diretores ignoram o design como ferramenta estratégica, Leme revela o paradoxo que trava nosso potencial: executivos querem inovar, mas faltam-lhes os frameworks mínimos para transformar criatividade em riqueza. Sua fala é um alerta para quem acredita que prêmios de design são conquistas isoladas – na verdade, eles são sintomas de ecossistemas maduros de inovação, nos quais o Brasil ainda patina.

A aposta calculada que levou o Boticário a ser premiado no iF Awards

Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Inovação
23 de setembro de 2025
Em um mercado onde donos centralizam decisões de P&D sem métricas críveis e diretores ignoram o design como ferramenta estratégica, Leme revela o paradoxo que trava nosso potencial: executivos querem inovar, mas faltam-lhes os frameworks mínimos para transformar criatividade em riqueza. Sua fala é um alerta para quem acredita que prêmios de design são conquistas isoladas – na verdade, eles são sintomas de ecossistemas maduros de inovação, nos quais o Brasil ainda patina.

Rodrigo Magnago

5 min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
22 de setembro de 2025
Engajar grandes líderes começa pela experiência: não é sobre o que sua marca oferece, mas sobre como ela faz cada cliente se sentir - com propósito, valor e conexão real.

Bruno Padredi - CEP da B2B Match

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Liderança
19 de setembro de 2025
Descubra como uma gestão menos hierárquica e mais humanizada pode transformar a cultura organizacional.

Cristiano Zanetta - Empresário, palestrante TED e filantropo

0 min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Inovação & estratégia
19 de setembro de 2025
Sem engajamento real, a IA vira promessa não cumprida. A adoção eficaz começa quando as pessoas entendem, usam e confiam na tecnologia.

Leandro Mattos - Expert em neurociência da Singularity Brazil

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de setembro de 2025
Ignorar o talento sênior não é só um erro cultural - é uma falha estratégica que pode custar caro em inovação, reputação e resultados.

João Roncati - Diretor da People + Strategy

3 minutos min de leitura
Inovação
16 de setembro de 2025
Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Magnago

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Bem-estar & saúde, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
15 de setembro de 2025
O luto não pede licença - e também acontece dentro das empresas. Falar sobre dor é parte de construir uma cultura organizacional verdadeiramente humana e segura.

Virginia Planet - Sócia e consultora da House of Feelings

2 minutos min de leitura
Marketing & growth, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
12 de setembro de 2025
O futuro do varejo já está digitando na sua tela. O WhatsApp virou canal de vendas, atendimento e fidelização - e está redefinindo a experiência do consumidor brasileiro.

Leonardo Bruno Melo - Global head of sales da Connectly

4 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
11 de setembro de 2025
Agilidade não é sobre seguir frameworks - é sobre gerar valor. Veja como OKRs e Team Topologies podem impulsionar times de produto sem virar mais uma camada de burocracia.

João Zanocelo - VP de Produto e Marketing e cofundador da BossaBox

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, compliance, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Liderança
10 de setembro de 2025
Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura - às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Tatiana Pimenta - CEO da Vittude

5 minutos min de leitura