Cultura organizacional

Copycat behavior: o retorno do modelo de trabalho presencial

A gestão de mudanças está sendo colocada em xeque com o movimento de volta do modelo de trabalho 100% presencial pelas empresas que buscam o fortalecimento da cultura organizacional e o aumento da produtividade dos colaboradores
Tássia Bezerra é jornalista, profissional de marketing certificada (CDMP) e pós-graduanda em economia comportamental pela ESPM. Tem mais de nove anos de experiência profissional com amplo conhecimento em gestão de projetos, funil de marketing, relações públicas e planejamento estratégico de conteúdo.

Compartilhar:

Você provavelmente já notou o retorno ao trabalho presencial, seja zapeando as vagas pelo LinkedIn ou sendo estimulado a ir ao escritório se estiver empregado. Sua percepção não está errada. A 24ª edição do Índice de Confiança Robert Half (ICRH), [divulgada em junho deste ano](https://exame.com/carreira/empregados-preferem-home-office-ou-trabalho-hibrido-empresas-o-presencial-como-ter-um-consenso/), aponta que 59% das empresas estão funcionando em modelo híbrido, 33% exigem a presença diária no escritório, e apenas 8% seguem totalmente em home office.

A pesquisa, que ouviu cerca 1.161 profissionais brasileiros divididos entre recrutadores, profissionais empregados e profissionais desempregados, conclui que o modelo de trabalho preferido pelas pessoas é o híbrido, e ainda apresenta um cenário emblemático: o retorno 100% presencial faria 38% dos profissionais empregados no Brasil ir para um novo emprego que seja híbrido ou home office.

Os principais motivos das empresas adotarem o trabalho presencial apontados no levantamento são o enfraquecimento da cultura organizacional, a percepção de queda na produtividade dos profissionais e dificuldades com a gestão remota.

## Outra perspectiva para a volta ao presencial mundo afora
De acordo com a McKinsey Global Institute, em relatório [divulgado este mês pela Bloomberg Línea](https://www.bloomberglinea.com.br/2023/07/13/home-office-reduzira-valor-de-escritorios-em-us-800-bilhoes-diz-mckinsey/), o trabalho remoto pode reduzir em US$ 800 bilhões o valor dos edifícios empresariais em grandes cidades, como Nova York, Londres e Xangai. A redução representa uma queda de 26% em comparação aos níveis de 2019 e pode se agravar para até 42%, segundo a empresa de consultoria.

Essa mudança também afeta o comércio, pois os modelos de trabalho influenciam onde as pessoas fazem compras e vivem. A McKinsey estima que a movimentação perto das lojas nas áreas metropolitanas permanece de 10% a 20% abaixo dos níveis pré-pandemia. Assim, apresentam-se as perdas potenciais que o setor imobiliário e o comércio enfrentam devido às mudanças nos modelos de trabalho pós-pandemia.

## O copycat behavior mais uma vez?
Jeffrey Pfeffer, professor da Stanford Graduate School of Business, em [uma pesquisa sobre o impacto das demissões em massa](https://news.stanford.edu/2022/12/05/explains-recent-tech-layoffs-worried/) na saúde das pessoas, usou o termo *copycat behavior* como um dos motivadores para a onda vertiginosa de layoffs que vem acontecendo desde meados de 2022. Ele explica o fenômeno como um tipo de “contágio social”: se uma empresa adota uma estratégia ou direcionamento, é provável que outras empresas irão pelo mesmo caminho adotado.

O *copycat behavior* (que podemos traduzir livremente como comportamento imitador) pode estar por trás de decisões supostamente estratégicas do board de uma empresa, mas que, na realidade, nem sempre são embasadas na ciência e por isso podem causar profundo impacto nos resultados de negócio, na visibilidade da marca empregadora e, mais importante, na vida de pessoas.

Seria a volta do modelo de trabalho 100% presencial um tipo de copycat behavior do mercado? Essa é a pergunta de milhões.

## Impacto na credibilidade da gestão de mudanças
O conceito de gestão de mudanças tem raízes no estudo do comportamento humano e organizacional e se mostra como uma necessidade para as empresas passarem por mudanças de cenários garantindo engajamento e, consequentemente, resultados.

Sendo bem aplicada, a gestão de mudanças deveria, em tese, mitigar as razões levantadas pelo ICRH como motivadores da volta ao trabalho presencial porque todas elas passam por aspectos como liderança, inovação e desenvolvimento humano. Fica a dúvida se as verdadeiras motivações foram, de fato, mapeadas.

[De acordo com April Rinne](https://hbr.org/2023/05/change-management-requires-a-change-mindset), líder global do Fórum Econômico Mundial e uma das 50 futuristas líderes femininas do mundo pela Forbes, a mentalidade de mudança impulsiona a gestão de mudanças, e não o contrário. April acredita que todas as organizações, de todos os tamanhos, lutam com a mudança de alguma forma.

Para a futurista, embora as empresas de médio porte não sejam exceção, elas possuem uma vantagem competitiva. Ao contrário de pequenas empresas com recursos limitados, ou grandes empresas sobrecarregadas pela burocracia ou normas “sempre fizemos assim”, as empresas de médio porte estão no ponto ideal para repensar como se relacionar com a mudança de maneira eficaz, arriscando a adotar estratégias alinhadas a pesquisas de cenários de experiência do colaborador, a respectiva influência no engajamento e impactos na produtividade e resultados.

O ponto da inclusão também é importante, uma vez que ele passa por um programa de jornada de trabalho que possibilite contemplar pessoas que moram em diferentes localidades. Fica evidente que a questão não é, necessariamente, sobre qual modelo é melhor (home office vs híbrido ou presencial), mas, sim, como as empresas desenham as suas jornadas para o colaborador.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Uncategorized
25 de setembro de 2025
Feedback não é um discurso final - é uma construção contínua que exige escuta, contexto e vínculo para gerar evolução real.

Jacqueline Resch e Vivian Cristina Rio Stella

4 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
24 de setembro de 2025
A IA na educação já é realidade - e seu verdadeiro valor surge quando é usada com intencionalidade para transformar práticas pedagógicas e ampliar o potencial de aprendizagem.

Rafael Ferreira Mello - Pesquisador Sênior no CESAR

5 minutos min de leitura
Inovação
23 de setembro de 2025
Em um mercado onde donos centralizam decisões de P&D sem métricas críveis e diretores ignoram o design como ferramenta estratégica, Leme revela o paradoxo que trava nosso potencial: executivos querem inovar, mas faltam-lhes os frameworks mínimos para transformar criatividade em riqueza. Sua fala é um alerta para quem acredita que prêmios de design são conquistas isoladas – na verdade, eles são sintomas de ecossistemas maduros de inovação, nos quais o Brasil ainda patina.

Rodrigo Magnago

5 min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
22 de setembro de 2025
Engajar grandes líderes começa pela experiência: não é sobre o que sua marca oferece, mas sobre como ela faz cada cliente se sentir - com propósito, valor e conexão real.

Bruno Padredi - CEP da B2B Match

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Liderança
19 de setembro de 2025
Descubra como uma gestão menos hierárquica e mais humanizada pode transformar a cultura organizacional.

Cristiano Zanetta - Empresário, palestrante TED e filantropo

0 min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Inovação & estratégia
19 de setembro de 2025
Sem engajamento real, a IA vira promessa não cumprida. A adoção eficaz começa quando as pessoas entendem, usam e confiam na tecnologia.

Leandro Mattos - Expert em neurociência da Singularity Brazil

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de setembro de 2025
Ignorar o talento sênior não é só um erro cultural - é uma falha estratégica que pode custar caro em inovação, reputação e resultados.

João Roncati - Diretor da People + Strategy

3 minutos min de leitura
Inovação
16 de setembro de 2025
Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Magnago

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Bem-estar & saúde, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
15 de setembro de 2025
O luto não pede licença - e também acontece dentro das empresas. Falar sobre dor é parte de construir uma cultura organizacional verdadeiramente humana e segura.

Virginia Planet - Sócia e consultora da House of Feelings

2 minutos min de leitura
Marketing & growth, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
12 de setembro de 2025
O futuro do varejo já está digitando na sua tela. O WhatsApp virou canal de vendas, atendimento e fidelização - e está redefinindo a experiência do consumidor brasileiro.

Leonardo Bruno Melo - Global head of sales da Connectly

4 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)