ESG
5 min de leitura

Crise de saúde mental no Brasil: como superar esse desafio?

Brasil é o 4º país com mais crises de saúde mental no mundo e 500 mil afastamentos em 2023. As empresas que ignoram esse tsunami pagarão o preço em produtividade e talentos.
Diretora de Produto e Operações da Mapa HDS. É Psicóloga, Mestre em Psicologia pela PUC-MG, e pós-graduada em Psicologia Organizacional e do Trabalho pela PUC-MG, e realizou pesquisa sobre fatores psicossociais no trabalho de profissionais de Tecnologia. Integrante do grupo de pesquisas PSITRAPP da PUC-MG e do CT - Saúde Mental e Riscos Psicossociais Relacionados ao Trabalho - ABERGO.

Compartilhar:

A crise de saúde mental tem impactado cada vez mais brasileiros ao longo dos últimos anos. Segundo o relatório global World Mental Health Day 2024, divulgado em outubro, o país é o 4º que mais sofre com esses distúrbios. A preocupação com a saúde mental é recente para a maior parte das pessoas, sendo que, em 2018, segundo o documento, apenas 18% dos entrevistados citaram alguma apreensão em relação ao bem-estar psicológico. No entanto, após a pandemia, houve um salto dessa porcentagem, chegando a 40% em 2021, 49% em 2022 e 52% no ano passado, atingindo um novo pico em 2024, com 54%.

Além disso, de acordo com dados coletados pelo Ministério da Previdência Social, no ano passado, foram quase meio milhão de afastamentos de profissionais dos seus cargos, o maior número em pelo menos dez anos. A pesquisa mostrou que os transtornos mentais chegaram a uma situação incapacitante como nunca visto. Apesar de atingir o seu pico na pandemia, tem se tornado uma questão cada vez mais presente no dia a dia dos brasileiros, uma vez que estão ganhando consciência que a questão emocional importa tanto quanto a física. 

Ignorar essa nova realidade pode agravar ainda mais o problema, tornando as disfunções comportamentais mais frequentes e intensas. Entretanto, muitas condições podem não ser uma patologia no início, mas se transformam em uma síndrome do burnout, do pânico ou ansiedade generalizada, se não forem tratadas. Dessa forma, o primeiro passo é procurar ajuda e identificar os sintomas para que seja realizado um diagnóstico. 

No ambiente corporativo, por sua vez, as estratégias para melhorar a saúde mental dos colaboradores envolve, inicialmente, a realização de uma análise psicossocial e a criação de um espaço laboral mais seguro. Adotar políticas de tolerância zero contra assédio e discriminação, promover a igualdade de oportunidades e valorizar a diversidade de etnia, cultura, gênero, idade e orientação sexual também são medidas que ajudam a deixar o trabalhador mais confortável e contemplado.  

Sendo assim, para enfrentar a crise é preciso reestruturar como o trabalho e as relações interpessoais estão estabelecidas. Não basta somente oferecer assistência psicológica para resolver o problema, é preciso buscar uma prevenção para que isso não aconteça mais. Trata-se de um processo interno, que deve ser apoiado por intervenções de saúde pública de conscientização e fornecer uma escuta sem julgamentos. 

Identificar aspectos como influências socioculturais, traços de personalidade, comportamento de risco, stress, entre outros construtos, por meio de orientações personalizadas, faz com que os colaboradores tenham mais facilidade de expressar as suas dificuldades e receios em relação ao ambiente de trabalho. Além disso, outro procedimento essencial a ser adotado é a capacitação dos gestores em identificar sinais de abalo emocional e atuar de forma empática. 

Vale reforçar que o profissional precisa se sentir não apenas seguro, mas também motivado em suas atividades. Portanto, é importante implantar a cultura do feedback positivo e incentivar o reconhecimento de esforços e conquistas, promovendo um ambiente de apoio. Para quem exerce uma função que exige ficar na frente das telas, por exemplo, as empresas podem estimular a desconexão após o expediente para preservar a vida pessoal.

Por fim, ressalto que a saúde mental ganha protagonismo e, com isso, espera-se que as pesquisas sirvam de alerta para que empresas tratem o assunto como prioridade dentro da estrutura organizacional. Facilitar o acesso à terapia e ao suporte psicológico, além de utilizar ferramentas tecnológicas que permitam um diagnóstico organizacional focado nos aspectos psicossociais, são iniciativas que as organizações podem e devem fazer para melhorar o dia a dia dos trabalhadores e garantir um ambiente mais saudável para se trabalhar. 

Compartilhar:

Artigos relacionados

Reputação sólida, ética líquida: o desafio da integridade no mundo corporativo

No mundo corporativo, reputação se constrói com narrativas, mas se sustenta com integridade real – e é justamente aí que muitas empresas tropeçam. É o momento de encarar os dilemas éticos que atravessam culturas organizacionais, revelando os riscos de valores líquidos e o custo invisível da incoerência entre discurso e prática.

Vivemos a reinvenção do CEO?

Está na hora de entender como o papel de CEO deixou de ser sinônimo de comando isolado para se tornar o epicentro de uma liderança adaptativa, colaborativa e guiada por propósito. A era do “chefão” dá lugar ao maestro estratégico que rege talentos diversos em um cenário de mudanças constantes.

Inovação
Eventos não morreram, mas 78% dos participantes já rejeitam formatos ultrapassados. O OASIS Connection chega como antídoto: um laboratório vivo onde IA, wellness e conexões reais recriam o futuro dos negócios

Vanessa Chiarelli Schabbel

5 min de leitura
Marketing
Entenda por que 90% dos lançamentos fracassam quando ignoram a economia comportamental. O Nobel Daniel Kahneman revela como produtos são criados pela lógica, mas comprados pela emoção.

Priscila Alcântara

8 min de leitura
Liderança
Relatórios do ATD 2025 revelam: empresas skills-based se adaptam 40% mais rápido. O segredo? Trilhas de aprendizagem que falam a língua do negócio.

Caroline Verre

4 min de leitura
Liderança
Por em prática nunca é um trabalho fácil, mas sempre é um reaprendizado. Hora de expor isso e fazer o que realmente importa.

Caroline Verre

5 min de leitura
Inovação
Segundo a Gartner, ferramentas low-code e no-code já respondem por 70% das análises de dados corporativos. Entenda como elas estão democratizando a inteligência estratégica e por que sua empresa não pode ficar de fora dessa revolução.

Lucas Oller

6 min de leitura
ESG
No ATD 2025, Harvard revelou: 95% dos empregadores valorizam microcertificações. Mesmo assim, o reskilling que realmente transforma exige 3 princípios urgentes. Descubra como evitar o 'caos das credenciais' e construir trilhas que movem negócios e carreiras.

Poliana Abreu

6 min de leitura
Empreendedorismo
33 mil empresas japonesas ultrapassaram 100 anos com um segredo ignorado no Ocidente: compaixão gera mais longevidade que lucro máximo.

Poliana Abreu

6 min de leitura
Liderança
70% dos líderes não enxergam seus pontos cegos e as empresas pagam o preço. O antídoto? Autenticidade radical e 'Key People Impact' no lugar do controle tóxico

Poliana Abreu

7 min de leitura
Liderança
15 lições de liderança que Simone Biles ensinou no ATD 2025 sobre resiliência, autenticidade e como transformar pressão em excelência.

Caroline Verre

8 min de leitura
Liderança
Conheça 6 abordagens práticas para que sua aprendizagem se reconfigure da melhor forma

Carol Olinda

4 min de leitura