Uncategorized

Diversidade ou Racismo

A globalização produz novos racismos disfarçados em grupos de boa vontade
Psicanalista e psiquiatra, doutor em psicanálise e em medicina. Autor de vários livros, especialmente sobre o tratamento das mudanças subjetivas na pós-modernidade, recebeu o Prêmio Jabuti em 2013. É criador e apresentador do Programa TerraDois, da TV Cultura, eleito o melhor programa da TV brasileira em 2017 pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).

Compartilhar:

Até os nossos pais, o mundo era bem mais simples. Tudo acontecia no modelo dualista do branco ou preto. Ou trabalho, ou descanso; ou homem, ou mulher; ou certo, ou errado; ou rico, ou pobre; ou tradicional, ou rebelde; ou bonito, ou feio.

E o mundo era assim porque o laço entre as pessoas e com elas mesmas se organizava em torno a poucos e fortes padrões verticais de comportamento, que fabricavam essas dualidades maniqueístas. Aí, fomos acometidos pelo tsunami da revolução tecnológica, em especial a criação da web nos anos 1990, que transformou essa padronização hierarquizada em incontáveis possibilidades, gerando uma sociedade de múltipla escolha, flexível, variada. Do “dever ser” assim ou assado, conforme modelos preestabelecidos, passamos ao “poder ser” conforme o próprio desejo, o que, se por um lado é entusiasmante, por outro pode ser apavorante. Conhecemos a dificuldade de responder à pergunta que pus em título de um livro: Você quer o que deseja?

No primeiro momento foi tudo festa, foi um “liberou geral” cheio de alegrias. Mas durou pouco. O motivo é simples: ocorreu uma quebra das identidades. 

A identidade da pessoa humana não é como a dos animais que já vem prêt-à-porter, pronta para vestir. Nossa identidade se constrói na relação com o outro, desde o nascimento, ao recebermos um nome de família. A sociedade atual de múltiplas escolhas gera ansiedade nas pessoas, pela falta de quem lhes diga o certo e o errado. Daí ao horror à diversidade é um pequeno passo. Isso porque se alguém é diferente de José, ele fica em dúvida se não haveria uma melhor escolha a fazer. Constatamos uma forte sensação no ar de se estar perdendo alguma coisa importante. Os americanos, que adoram siglas, sintetizaram esse sentimento na expressão FOMO: “fear of missing out”, medo de estar perdendo alguma coisa. Esse medo leva as pessoas a se enclausurarem em grupos sociais que, sob a aparência de bom-mocismo, nada mais são do que clubes de elogios recíprocos. Poupo dar exemplos por saber o quanto irritaria cotistas de boa vontade. Paradoxalmente, como previu Jacques Lacan, a globalização levou ao surgimento e à proliferação de novos racismos. É onde estamos. 

Há solução? Sim. Temos que abandonar as tentativas de responder à insaciável expectativa do outro – missão fadada ao fracasso – e passar a constituir nossa identidade, em um duplo movimento: Invenção e Responsabilidade.  Invenção de uma resposta singular ao seu desejo, e responsabilidade de expressá-lo no mundo. Se assim fizermos, entenderemos a imensa importância da diversidade em todos os aspectos da nossa vida pessoal e profissional. É porque o outro é diferente de mim que eu posso, com ele, construir caminhos até então impensados. Contrariamente, a recusa da diversidade alimenta os novos racismos.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Como o fetiche geracional domina a agenda dos relatórios de tendência

Relatórios de tendências ajudam, mas não explicam tudo. Por exemplo, quando o assunto é comportamento jovem, não dá pra confiar só em categorias genéricas – como “Geração Z”. Por isso, vale refletir sobre como o fetiche geracional pode distorcer decisões estratégicas – e por que entender contextos reais é o que realmente gera valor.

Processo seletivo é a porta de entrada da inclusão

Ainda estamos contratando pessoas com deficiência da mesma forma que há décadas – e isso precisa mudar. Inclusão começa no processo seletivo, e ignorar essa etapa é excluir talentos. Ações afirmativas e comunicação acessível podem transformar sua empresa em um espaço realmente inclusivo.

Você tem repertório para liderar?

Liderar hoje exige mais do que estratégia – exige repertório. É preciso parar e refletir sobre o novo papel das lideranças em um mundo diverso, veloz e hiperconectado. O que você tem feito para acompanhar essa transformação?

Carreira, Aprendizado, Desenvolvimento pessoal, Lifelong learning, Pessoas, Sociedade
27 de julho de 2025
"Tudo parecia perfeito… até que deixou de ser."

Lilian Cruz

5 minutos min de leitura
Inteligência Artificial, Gestão de pessoas, Tecnologia e inovação
28 de julho de 2025
A ascensão dos conselheiros de IA levanta uma pergunta incômoda: quem de fato está tomando as decisões?

Marcelo Murilo

8 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Liderança
25 de julho de 2025
Está na hora de entender como o papel de CEO deixou de ser sinônimo de comando isolado para se tornar o epicentro de uma liderança adaptativa, colaborativa e guiada por propósito. A era do “chefão” dá lugar ao maestro estratégico que rege talentos diversos em um cenário de mudanças constantes.

Bruno Padredi

2 minutos min de leitura
Desenvolvimento pessoal, Carreira, Carreira, Desenvolvimento pessoal
23 de julho de 2025
Liderar hoje exige muito mais do que seguir um currículo pré-formatado. O que faz sentido para um executivo pode não ressoar em nada para outro. A forma como aprendemos precisa acompanhar a velocidade das mudanças, os contextos individuais e a maturidade de cada trajetória profissional. Chegou a hora de parar de esperar por soluções genéricas - e começar a desenhar, com propósito, o que realmente nos prepara para liderar.

Rubens Pimentel

4 minutos min de leitura
Pessoas, Cultura organizacional, Gestão de pessoas, Liderança, times e cultura, Liderança, Gestão de Pessoas
23 de julho de 2025
Entre idades, estilos e velocidades, o que parece distância pode virar aprendizado. Quando escuta substitui julgamento e curiosidade toma o lugar da resistência, as gerações não competem - colaboram. É nessa troca sincera que nasce o que importa: respeito, inovação e crescimento mútuo.

Ricardo Pessoa

5 minutos min de leitura
Liderança, Marketing e vendas
22 de julho de 2025
Em um mercado saturado de soluções, o que diferencia é a história que você conta - e vive. Quando marcas e líderes investem em narrativas genuínas, construídas com propósito e coerência, não só geram valor: criam conexões reais. E nesse jogo, reputação vale mais que visibilidade.

Anna Luísa Beserra

5 minutos min de leitura
Tecnologia e inovação
15 de julho 2025
Em tempos de aceleração digital e inteligência artificial, este artigo propõe a literacia histórica como chave estratégica para líderes e organizações: compreender o passado torna-se essencial para interpretar o presente e construir futuros com profundidade, propósito e memória.

Anna Flávia Ribeiro

17 min de leitura
Inovação
15 de julho de 2025
Olhar para um MBA como perda de tempo é um ponto cego que tem gerado bastante eco ultimamente. Precisamos entender que, num mundo complexo, cada estudo constrói nossas perspectivas para os desafios cotidianos.

Frederike Mette e Paulo Robilloti

6 min de leitura
User Experience, UX
Na era da indústria 5.0, priorizar as necessidades das pessoas aos objetivos do negócio ganha ainda mais relevância

GEP Worldwide - Manoella Oliveira

9 min de leitura
Tecnologia e inovação, Empreendedorismo
Esse fio tem a ver com a combinação de ciências e humanidades, que aumenta nossa capacidade de compreender o mundo e de resolver os grandes desafios que ele nos impõe

CESAR - Eduardo Peixoto

6 min de leitura

Baixe agora mesmo a edição #168