Uncategorized

Dividir para multiplicar?

O processo que deve ser completado pela HP no final de 2015 pode mostrar quando e como vale a pena realizar uma cisão nos negócios e, ainda, tirar o estigma que a ferramenta tem de “admissão do fracasso”, tornando-a estratégica para CEOs
Sandra Regina da Silva é colaboradora de HSM Management.

Compartilhar:

Um dos acontecimentos empresariais de 2015 será, sem dúvida, a divisão da HP em duas empresas, de uS$ 50 bilhões de receita anual cada uma. pode ser uma espécie de rubicão do mundo corporativo. Entre os especialistas que chamam a atenção para a relevância da movimentação da gigante da informática está Emilie Feldman, da Wharton School, que se dedica ao tema. Segundo ela, a operação poderá criar conhecimento para as cisões que ocorrerem daqui por diante, servir de base para definir quando a cisão é um caminho que gera valor aos acionistas, e talvez marcar o fim de anos de crescimento por aquisições –eliminando o estigma atual de que a cisão é um reconhecimento do fracasso, ou a “filha feia” da estratégia, e fazendo com que os CEOs usem a opção proativamente. 

A HP, com faturamento na casa de uS$ 112 bilhões anuais, dará origem à Hewlett-packard Enterprise e à Hp inc. a primeira terá foco em infraestrutura tecnológica, software e serviços para clientes corporativos, enquanto a segunda se dedicará aos negócios de computadores pessoais e impressoras. Em outras palavras, elas querem que o foco as ajude a surfar melhor nas ondas atuais. para a Hp Enterprise, a onda é o “novo estilo de TI” –computação em nuvem, grandes bancos de dados, segurança, mobilidade–, sempre do ponto de vista dos clientes corporativos. para a Hp inc., a onda são os smartphones e os tablets, que ainda não conseguiu aproveitar, e até os computadores pessoais, onde vem perdendo terreno.

**CONHECIMENTO** 

Qual é a melhor maneira de dividir uma empresa em duas? Essa é uma pergunta ainda sem respostas suficientes. Há muitos aspectos delicados a considerar em um processo assim –tão delicados ou mais do que os de uma integração, uma vez que os estudos de neurociência já mostraram que perdas encontram maior resistência do cérebro humano. 

Questões como identidade e cultura, relacionamentos com stakeholders em geral (fornecedores, clientes e os próprios colaboradores) e distribuição de recursos são pontos potenciais de conflitos –ou de produtividade. um processo de cisão, na opinião de José paulo Rocha, sócio-líder da área de finanças corporativas da firma de consultoria Deloitte no Brasil, é complexo. “O processo de separação de negócios não é trivial, porque em geral as empresas têm um compartilhamento de recursos, como de pessoal e infraestrutura, chegando até a não ter fronteiras entre seus diversos negócios. 

Para não gerar ineficiência econômica, a cisão exige preparação prévia, planejamento e muitas vezes investimento. caso contrário, o custo pode ser alto, e o sacrifício, não valer a pena”, pondera. Isso significa que a geração de valor para os acionistas não são favas contadas em uma cisão. No caso da HP, a CEO Meg Whitman se disse convencida de que o valor será criado. “Geraremos valor de longo prazo para os acionistas”, atestou ela em um comunicado à imprensa no fim do ano passado.

**QUANDO FAZER**

Rocha, da Deloitte, explica que a cisão deve ser levada em conta sempre que houver fatores financeiros e/ou estratégicos que a justifiquem. Mostra-se uma alternativa para empresas com alguma dificuldade financeira, uma vez que as ajuda a obter recursos. ao se cindirem, as organizações em geral reduzem um pouco do tamanho, diminuem o capital de giro necessário e podem eventualmente receber recursos com a venda de ações ou partes a terceiros. 

Já a decisão estratégica é motivada pela percepção de que não se está tendo sucesso em alguma frente do negócio. “Quando uma empresa se diversifica, por exemplo, pode não obter sucesso com o que não é seu core business”, explica rocha. algumas cisões ainda podem acontecer para que a empresa se desfaça de alguma unidade geográfica, embora seja raro –como se, no Brasil, uma empresa se separasse em duas, uma do Nordeste e outra do Sudeste, por exemplo. a decisão de construir as duas novas Hps é considerada correta segundo esse raciocínio, em especial no campo estratégico, na medida em que foco, independência e flexibilidade permitirão às duas empresas aproveitar as oportunidades derivadas das rápidas dinâmicas de mercado, o que não vem acontecendo hoje. mas e quanto ao timing? alguns analistas acreditam que a decisão está atrasada, porque as motivações já estavam dadas desde antes de 2011. a professora Feldman, de Wharton, discorda, como disse ao site Knowledge@Wharton. “Era preciso tempo suficiente da expansão da Hp por meio de aquisições [Compaq, EDS, 3Com, Palm etc.] e, agora, já se passou.” 

**FIM DE UMA ERA**

Nos últimos dois anos, o mercado norte-americano está assistindo a um número maior de divisões de empresas. Dois exemplos são a eBay, que promoveu a cisão da PayPal, e a Symantec, que admitiu planos de ter dois negócios: um focado em segurança e outro em gestão da informação. isso pode representar o fim da febre de fusões e aquisições que já dura décadas. No Brasil, por enquanto, o forte continua a ser a consolidação, conforme rocha, como tem sido nos últimos 15 anos, o que é explicado pela busca por ganho de eficiência. Mas pondera-se que talvez seja apenas uma questão de ciclo de vida. a cisão da Hp deve contabilizar mais de 90 mil demissões entre os 317 mil colaboradores que havia. No entanto, mesmo assim, meg Whitman pode deixar seu nome na história com o uso dessa ferramenta.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Reputação sólida, ética líquida: o desafio da integridade no mundo corporativo

No mundo corporativo, reputação se constrói com narrativas, mas se sustenta com integridade real – e é justamente aí que muitas empresas tropeçam. É o momento de encarar os dilemas éticos que atravessam culturas organizacionais, revelando os riscos de valores líquidos e o custo invisível da incoerência entre discurso e prática.

Vivemos a reinvenção do CEO?

Está na hora de entender como o papel de CEO deixou de ser sinônimo de comando isolado para se tornar o epicentro de uma liderança adaptativa, colaborativa e guiada por propósito. A era do “chefão” dá lugar ao maestro estratégico que rege talentos diversos em um cenário de mudanças constantes.

ESG, Cultura organizacional, Inovação
6 de agosto de 2025
Inovar exige enxergar além do óbvio - e é aí que a diversidade se torna protagonista. A B&Partners.co transformou esse conceito em estratégia, conectando inclusão, cultura organizacional e metas globais e impactou 17 empresas da network!

Dilma Campos, Gisele Rosa e Gustavo Alonso Pereira

9 minutos min de leitura
Cultura organizacional, ESG, Gestão de pessoas, Liderança, Marketing
5 de agosto de 2025
No mundo corporativo, reputação se constrói com narrativas, mas se sustenta com integridade real - e é justamente aí que muitas empresas tropeçam. É o momento de encarar os dilemas éticos que atravessam culturas organizacionais, revelando os riscos de valores líquidos e o custo invisível da incoerência entre discurso e prática.

Cristiano Zanetta

6 minutos min de leitura
Inteligência artificial e gestão, Estratégia e Execução, Transformação Digital, Gestão de pessoas
29 de julho de 2025
Adotar IA deixou de ser uma aposta e se tornou urgência competitiva - mas transformar intenção em prática exige bem mais do que ambição.

Vitor Maciel

3 minutos min de leitura
Carreira, Aprendizado, Desenvolvimento pessoal, Lifelong learning, Pessoas, Sociedade
27 de julho de 2025
"Tudo parecia perfeito… até que deixou de ser."

Lilian Cruz

5 minutos min de leitura
Inteligência Artificial, Gestão de pessoas, Tecnologia e inovação
28 de julho de 2025
A ascensão dos conselheiros de IA levanta uma pergunta incômoda: quem de fato está tomando as decisões?

Marcelo Murilo

8 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Liderança
25 de julho de 2025
Está na hora de entender como o papel de CEO deixou de ser sinônimo de comando isolado para se tornar o epicentro de uma liderança adaptativa, colaborativa e guiada por propósito. A era do “chefão” dá lugar ao maestro estratégico que rege talentos diversos em um cenário de mudanças constantes.

Bruno Padredi

2 minutos min de leitura
Desenvolvimento pessoal, Carreira, Carreira, Desenvolvimento pessoal
23 de julho de 2025
Liderar hoje exige muito mais do que seguir um currículo pré-formatado. O que faz sentido para um executivo pode não ressoar em nada para outro. A forma como aprendemos precisa acompanhar a velocidade das mudanças, os contextos individuais e a maturidade de cada trajetória profissional. Chegou a hora de parar de esperar por soluções genéricas - e começar a desenhar, com propósito, o que realmente nos prepara para liderar.

Rubens Pimentel

4 minutos min de leitura
Pessoas, Cultura organizacional, Gestão de pessoas, Liderança, times e cultura, Liderança, Gestão de Pessoas
23 de julho de 2025
Entre idades, estilos e velocidades, o que parece distância pode virar aprendizado. Quando escuta substitui julgamento e curiosidade toma o lugar da resistência, as gerações não competem - colaboram. É nessa troca sincera que nasce o que importa: respeito, inovação e crescimento mútuo.

Ricardo Pessoa

5 minutos min de leitura
Liderança, Marketing e vendas
22 de julho de 2025
Em um mercado saturado de soluções, o que diferencia é a história que você conta - e vive. Quando marcas e líderes investem em narrativas genuínas, construídas com propósito e coerência, não só geram valor: criam conexões reais. E nesse jogo, reputação vale mais que visibilidade.

Anna Luísa Beserra

5 minutos min de leitura
Tecnologia e inovação
15 de julho 2025
Em tempos de aceleração digital e inteligência artificial, este artigo propõe a literacia histórica como chave estratégica para líderes e organizações: compreender o passado torna-se essencial para interpretar o presente e construir futuros com profundidade, propósito e memória.

Anna Flávia Ribeiro

17 min de leitura