Uncategorized

Do Propósito ao Fractal

Uma organização deve ser fractal do mundo que ela quer empreender, e sua entrega de valor precisa ser a tangibilização do seu propósito
Dario Neto é diretor geral do Instituto Capitalismo Consciente Brasil e CEO do Grupo Anga. Também é pai do Miguel e marido da Bruna. Marcel Fukayama é diretor geral do Sistema B Internacional e cofundador da consultoria em negócios de impacto Din4mo.

Compartilhar:

O mais novo livro de Raj Sisodia, cofundador do capitalismo consciente no mundo, chamado The Healing Organization, nos lembra – já no resumo editorial do próprio autor – que estamos vivendo um ponto de inflexão, no qual negócios precisam assumir a responsabilidade de curar as crises do nosso tempo. Todos os negócios precisam se transformar em negócios de impacto socioambiental positivo. Somente as políticas públicas e/ou a sociedade civil organizada não conseguirão sozinhas acelerar as boas transformações de que o mundo precisa.

Saímos dos tempos de missão, visão e valores em quadrinhos na parede para a era do propósito ou, como nos apresentou Salim Ismail em 2014 com Organizações exponenciais, do propósito transformador massivo (PTM), no caso de negócios escaláveis por suas tecnologias. Missões vêm dando lugar a propósitos absolutamente claros e simples carregados de intenção de transformação para o mundo. Para a Tesla, por exemplo, acelerar a transição para o transporte sustentável é a cura que ela quer para o mundo; o Sicoob, por sua vez, declarou por um tempo ser seu propósito a promoção da justiça financeira no Brasil.

Tirar a extensa e confusa missão da parede fria e dar vida a ela por meio de um propósito simples e claro de curar algum desafio do mundo já tem sido um importante passo de muitas empresas brasileiras. O despertar do propósito e a sustentação dele por meio de uma cultura repleta de artefatos é chave para gerar engajamento de colaboradores e consumidores, mas talvez o novo desafio que se apresenta seja o da coerência. É absolutamente desmotivador testemunhar um propósito nascer e não vê-lo traduzido na prática na cultura ou até mesmo nos produtos e nos serviços que deveriam entregar essa cura prometida ao mundo.

Uma organização precisa ser fractal do mundo que ela quer empreender e sua entrega de valor precisa ser a tangibilização de seu propósito. Healing leaders guiam o processo de despertar do propósito, bem como a sua sustentação por meio da cultura, dos produtos e dos serviços de uma organização. É muito mais do que moda ou tendência, já que a lista de razões e impactos para empresas guiadas por propósito é bastante extensa:

**Atração e retenção de talentos.** São dezenas de pesquisas de diversos institutos e organismos globais assegurando o crescimento da sensibilidade da geração Z à ética, ao impacto socioambiental e ao propósito quando se fala de consumo e emprego. Pagar bem é importante (e diminui desigualdades), mas não está no topo da lista para as novas gerações de talentos. O relatório da EY, The Millennial Economy, mostra que 77% da geração millennial, que representa metade da força de trabalho do planeta, é movida por um propósito maior do que o retorno financeiro. Isto é, incorporar o propósito no ambiente de trabalho e no modelo de negócio passa a ser vital para a liderança. 

**Engajamento e performance.** Sustentar o propósito pela cultura e desenvolver produtos e serviços como manifestação prática disso permitem aos colaboradores conectar o “o quê” com o “por quê”, alinhando os propósitos individuais com os organizacionais. A relação de engajamento e performance nas organizações é objeto de diversos estudos. Um relatório da Harvard Business Review, The Impact of Employee Engagement on Performance, aponta que elevar engajamento significa dar os instrumentos adequados aos colaboradores para construírem carreiras de sucesso e, por consequência, aumentarem a performance das organizações.

**Retorno financeiro e crescimento.** O recente estudo Empresas Humanizadas do Brasil, liderado pelo doutorando da USP Pedro Paro, que reedita o clássico Firms of Endearment de Raj Sisodia, confirmou os resultados conhecidos: em períodos longos – 4 a 16 anos de análise – as empresas humanizadas chegam a ter rentabilidade duas ou mais vezes superior à média das 500 maiores empresas brasileiras.

**Atração de capital alinhado.** É crescente o volume de capital que combina retorno financeiro com impacto positivo. O segmento Ambiental, Social e Governança (ASG) no mercado de capitais já atinge o montante de US$ 24 trilhões, de acordo com o JP Morgan. Para isso, as lideranças precisam atuar no DNA dos negócios e, assim, combinar o discurso com práticas e implementar métricas, medindo e reportando seu impacto positivo.

É importante que a liderança engaje seus stakeholders em torno de um propósito claro e definido, criando um senso de urgência em torno de uma oportunidade única de transformação a partir do impacto positivo gerado pelo negócio. Ao combinar o propósito em um modelo de negócio de impacto com consistência, coerência e integridade, a liderança tende a colher resultados objetivos em curto e longo prazo, ampliando performance e impacto positivo de seu empreendimento.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Relacionamentos geram resultados

Em tempos de alta performance e tecnologia, o verdadeiro diferencial está na empatia: um ativo invisível que transforma vínculos em resultados.

Inovação & estratégia, Liderança
22 de setembro de 2025
Engajar grandes líderes começa pela experiência: não é sobre o que sua marca oferece, mas sobre como ela faz cada cliente se sentir - com propósito, valor e conexão real.

Bruno Padredi - CEP da B2B Match

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Liderança
19 de setembro de 2025
Descubra como uma gestão menos hierárquica e mais humanizada pode transformar a cultura organizacional.

Cristiano Zanetta - Empresário, palestrante TED e filantropo

0 min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Inovação & estratégia
19 de setembro de 2025
Sem engajamento real, a IA vira promessa não cumprida. A adoção eficaz começa quando as pessoas entendem, usam e confiam na tecnologia.

Leandro Mattos - Expert em neurociência da Singularity Brazil

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de setembro de 2025
Ignorar o talento sênior não é só um erro cultural - é uma falha estratégica que pode custar caro em inovação, reputação e resultados.

João Roncati - Diretor da People + Strategy

3 minutos min de leitura
Inovação
16 de setembro de 2025
Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Magnago

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Bem-estar & saúde, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
15 de setembro de 2025
O luto não pede licença - e também acontece dentro das empresas. Falar sobre dor é parte de construir uma cultura organizacional verdadeiramente humana e segura.

Virginia Planet - Sócia e consultora da House of Feelings

2 minutos min de leitura
Marketing & growth, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
12 de setembro de 2025
O futuro do varejo já está digitando na sua tela. O WhatsApp virou canal de vendas, atendimento e fidelização - e está redefinindo a experiência do consumidor brasileiro.

Leonardo Bruno Melo - Global head of sales da Connectly

4 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
11 de setembro de 2025
Agilidade não é sobre seguir frameworks - é sobre gerar valor. Veja como OKRs e Team Topologies podem impulsionar times de produto sem virar mais uma camada de burocracia.

João Zanocelo - VP de Produto e Marketing e cofundador da BossaBox

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, compliance, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Liderança
10 de setembro de 2025
Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura - às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Tatiana Pimenta - CEO da Vittude

5 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
9 de setembro de 2025
Experiência também é capital. O ROEx propõe uma nova métrica para valorizar o repertório acumulado de profissionais em times multigeracionais - e transforma diversidade etária em vantagem estratégica.

Fran Winandy e Martin Henkel

10 minutos min de leitura