Inteligência coletiva

É preciso não saber

É muito difícil trocar a curiosidade pela oposição quando ouvimos uma opinião que confronta nossos valores. Mas a dúvida é uma porta para o conhecimento
É sócio da RIA, empresa especializada em construir segurança psicológica em equipes. Criador do PlayGrounded, a Ginástica do Humor, é jornalista (Folha de S.Paulo, Veja, Superinteressante e Vida Simples), foi sócio da consultoria Origami e consultor em branding. Ator e improvisador, integra o grupo Jogo da Cena.

Compartilhar:

Na época em que ocupei uma posição de influência na área corporativa de um grande grupo empresarial, parte importante do meu trabalho era disseminar os valores da marca em estruturas, processos e decisões. Por isso, eu era chamado para um infinidade de reuniões, quase todas sobre assuntos dos quais eu pouco entendia.
Mas, como era chamado, eu me sentia na obrigação de opinar. Era comum que eu destoasse do tom geral da discussão, porque meu foco estava no longo prazo. E a galera estava de olho no ciclo mais próximo, do qual viriam suas metas e bônus.
Quando eu encontrava resistência a essa mudança de perspectiva, o mais comum era que eu me inflamasse na defesa das minhas ideias. Então a gente se encastelava, cada um em seu ponto de vista, e combatíamos uns aos outros, tentando não ceder espaço.

Não sei de sua experiência, mas na minha vida profissional não tive muitas reuniões em que essa dinâmica não tenha se estabelecido: alguém abraça uma ideia, lutando com cada vez mais fervor, quanto maior a argumentação em contrário.
Dito assim, parece absurdo, certo? Se há muita resistência a uma ideia, deve haver um problema com ela. Melhor parar, perguntar, investigar, pensar, entender. Mas não é o que se vê. Diante da resistência, a tendência é sacarmos mais e mais argumentos.

Vale para ambos os lados desse combate. O sujeito leva um projeto sobre o qual pensou, estudou, avaliou, e hoje entende. E aí, para a reunião, chamam o Rodrigo – que não conhece, não participou e nem tem compromisso com o projeto – e ele fica problematizando.

Hoje, depois de anos estudando e tentando criar ambientes de segurança psicológica, vejo o valor de não saber. De ter mais dúvidas do que opiniões. De dar menos atenção ao julgamento, que em geral nasce da minha incompreensão e da minha ignorância. E de perguntar, antes de presumir e opinar.

Não é fácil. Antes precisei aprender a não querer me sentir melhor que o outro, o que para mim é penoso, confesso. Quando o outro apresenta ideias que eu acho que ferem meus valores, meu primeiro impulso é me opor. Abençoadas são as ocasiões em que eu consigo refrear a reação inicial, limpar a expressão crispada do meu corpo, respirar profundamente relaxando os ombros e render-me à ideia de forma curiosa, perguntando sobre consequências e premissas que me importam.
Uma boa dúvida está sempre viva e faminta. Uma resposta cabal está saciada e inerte. É preciso alimentar o não saber.

__Leia mais: [Não é o que se pergunta, mas quem faz a pergunta](https://www.revistahsm.com.br/post/nao-e-o-que-se-pergunta-mas-quem-faz-a-pergunta)__

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando o corpo pede pausa e o negócio pede pressa

Entre liderança e gestação, uma lição essencial: não existe performance sustentável sem energia. Pausar não é fraqueza, é gestão – e admitir limites pode ser o gesto mais poderoso para cuidar de pessoas e negócios.

Cultura organizacional, Inovação & estratégia
12 de dezembro de 2025
Inclusão não é pauta social, é estratégia: entender a neurodiversidade como valor competitivo transforma culturas, impulsiona inovação e constrói empresas mais humanas e sustentáveis.

Marcelo Vitoriano - CEO da Specialisterne Brasil

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
11 de dezembro de 2025
Do status à essência: o luxo silencioso redefine valor, trocando ostentação por experiências que unem sofisticação, calma e significado - uma nova inteligência para marcas em tempos pós-excesso.

Daniel Skowronsky - Cofundador e CEO da NIRIN Branding Company

3 minutos min de leitura
Estratégia
10 de dezembro de 2025
Da Coreia à Inglaterra, da China ao Brasil. Como políticas públicas de design moldam competitividade, inovação e identidade econômica.

Rodrigo Magnago - CEO da RMagnago

17 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
9 de dezembro de 2025
Entre liderança e gestação, uma lição essencial: não existe performance sustentável sem energia. Pausar não é fraqueza, é gestão - e admitir limites pode ser o gesto mais poderoso para cuidar de pessoas e negócios.

Tatiana Pimenta - Fundadora e CEO da Vittude,

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
8 de dezembro de 2025
Com custos de saúde corporativa em alta, a telemedicina surge como solução estratégica: reduz sinistralidade, amplia acesso e fortalece o bem-estar, transformando a gestão de benefícios em vantagem competitiva.

Loraine Burgard - Cofundadora da h.ai

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Liderança
5 de dezembro de 2025
Em um mundo exausto, emoção deixa de ser fragilidade e se torna vantagem competitiva: até 2027, lideranças que integram sensibilidade, análise e coragem serão as que sustentam confiança, inovação e resultados.

Lisia Prado - Consultora e sócia da House of Feelings

5 minutos min de leitura
Finanças
4 de dezembro de 2025

Antonio de Pádua Parente Filho - Diretor Jurídico, Compliance, Risco e Operações no Braza Bank S.A.

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
3 de dezembro de 2025
A creators economy deixou de ser tendência para se tornar estratégia: autenticidade, constância e inovação são os pilares que conectam marcas, líderes e comunidades em um mercado digital cada vez mais colaborativo.

Gabriel Andrade - Aluno da Anhembi Morumbi e integrante do LAB Jornalismo e Fernanda Iarossi - Professora da Universidade Anhembi Morumbi e Mestre em Comunicação Midiática pela Unesp

3 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
2 de dezembro de 2025
Modelos generativos são eficazes apenas quando aplicados a demandas claramente estruturadas.

Diego Nogare - Executive Consultant in AI & ML

4 minutos min de leitura
Estratégia
1º de dezembro de 2025
Em ambientes complexos, planos lineares não bastam. O Estuarine Mapping propõe uma abordagem adaptativa para avaliar a viabilidade de mudanças, substituindo o “wishful thinking” por estratégias ancoradas em energia, tempo e contexto.

Manoel Pimentel - Chief Scientific Officer na The Cynefin Co. Brazil

10 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança