De uns poucos anos para cá, cuidar de saúde mental passou a fazer parte do nosso repertório, não só nas organizações. É um tema recorrente entre os adolescentes da turma do meu filho de dezesseis anos da escola, entre os participantes das turmas de pós-graduação que eu leciono, entre meus colegas da empresa, nas mentorias que eu conduzo, nos personagens dos livros que eu leio.
Em outubro, celebra-se inclusive o Dia Mundial da Saúde Mental, o que aliás não é muito novo – existe desde 1992. Se não é tão novo, o que muda para que a gente fale mais do assunto? Tem muita pauta aí, e um emaranhado de coisa que cabe muita conversa e não será um texto curto como esse que terá a pretensão de esgotar.
Mas gostaria de deixar meus “two cents” ou, em bom português, minha modesta opinião, depois de um longo inverno longe dessa coluna, que eu retomo este mês.
A gente tem sim que pensar em saúde mental num contexto em que estamos todos muito expostos e acostumados a viver mais para o outro do que para a gente mesmo. Quando mostrar é mais importante que viver, é fácil perder a mão do que realmente importa e a gente entrar num looping infinito do que parece importante, leva nossa energia e não necessariamente fecha a nossa conta interna de felicidade. Sair desse círculo não é muito simples. Criar um apagão digital ajuda muito.
A gente também vive flertando com os limites. A busca constante por adrenalina nos leva a viver sem pausas, num ruído constante. Desacelerar não parece ser uma alternativa. Eu mesma, que já brinquei muitas vezes com bordões como “vai com tudo”, “só se vive uma vez”, achei melhor me economizar, para evitar empurrar pessoas para um limite desnecessário, mesmo por traz de uma brincadeira que para mim parecia inofensiva. Pode não ser tão inofensiva para todos e, num mundo onde todos nós formamos opinião, todos nós precisamos ter mais responsabilidade.
E, para concluir, para cuidar da saúde mental dos outros, é preciso cuidar também da nossa. A gente também precisa de pausa, de limite, de dizer alguns nãos – e eles precisam ser ditos com jeito pra não criar mais cacos, mais gente quebrada – de mais tempo livre, de retomar coisas que a gente faz por prazer, porque simplesmente a gente gosta, acredita, porque faz bem pra gente e pra quem está no nosso entorno, pra quem vem depois de nós, e quando a gente não estiver mais aqui.
Dados recentes apresentados pela Ipsos em outubro de 2025 (portanto no mês de publicação dessa coluna) com mais de 20 mil brasileiros dão conta que saúde mental preocupa mais que câncer e estresse. Não é louco isso? A gente se preocupa com algo que não tem uma forma muito clara, um diagnóstico que não é tão bem definido, que a gente não tem um repertório vasto, nem sabe lidar. Aliás, rola um preconceito danado. Certamente você conhece alguém do seu círculo próximo que toma remédio pra dormir ou pra acordar. Se não uma das duas coisas, toma remédio para emagrecer (ou seria melhor dizer pra pertencer?).
Será que a gente só não precisa respirar fundo, colocar umas coisas no lugar, reordenar o que vem primeiro, e talvez saúde venha antes de absolutamente tudo, e precise ser reconsiderada nesse lugar de privilégio pra todo o resto fluir melhor?
Aí a gente encontro mais pique para o trabalho, e a gente vibre com as segundas-feiras com o mesmo entusiasmo que a gente vibra com as sextas-feiras? O bom da vida não deveria ser isso? Equilíbrio?
Se ao ler tudo isso você pensou só em você, comece de novo.
Estou feliz em voltar, te encontrar aqui de novo e refazer o convite – vamos juntos?
Eu amo trabalhar, eu amo colocar a energia em tudo que eu faço, mas felizmente, não é só o trabalho que me define!