Empreendedorismo

Inovação não é sobre criar castelos no ar. É sobre renovar padrões de desempenho

A inovação transforma a performance, otimizando processos e modernizando tecnologias. No entanto, durante crises, a inovação é essencial para a prosperidade pós-crise. A estratégia de inovação deve ser clara e contínua, alinhando-se à visão de longo prazo da empresa, como demonstrado pelos CVCs.
CGO (Chief Growth Officer) e fundador da The Bakery Brasil.

Compartilhar:

Peter Drucker, visionário austríaco considerado o pai da administração moderna, já dizia: “A inovação é a mudança que cria uma nova dimensão de desempenho”. Ou seja, não se trata de brincar de futurismo ou criar ideias mirabolantes que podem ou não gerar resultados. Significa alocar esforços reais para que os processos possam ser otimizados, as tecnologias modernizadas, os recursos utilizados de maneira mais econômica, além de trazer visibilidade para frentes de negócios que sejam novas e promissoras, resultando em um novo patamar de lucros e resultados.

Daí a importância da inovação para a sobrevivência, especialmente em tempos de concorrência acirrada e mudanças vertiginosas decorrentes do surgimento da inteligência artificial, fomentando diariamente novas tecnologias. Por isso mesmo, investir em inovação durante tempos de crise é mais do que uma tática necessária, é uma estratégia para prosperar no pós-crise.

Uma pesquisa do McKinsey & Company analisou 1.000 empresas dos EUA durante a recessão de 2007-2008 e constatou que as que investiram mais em inovação obtiveram uma vantagem de desempenho de 30% sobre as que investiram menos quando a economia se recuperou, isto é, são as que tendem a superar seus pares no longo prazo.,

Outro exemplo ocorreu na Inglaterra, em 2020, quando a pandemia do COVID-19 e o Brexit devastaram a economia britânica em golpe duplo. O governo implementou a política do “Furlough”, uma espécie de licença temporária que pagava os salários dos funcionários que ficavam em casa, sem que tivessem permissão para trabalhar. À primeira vista, pareceu uma política interessante, especialmente para pequenas e médias empresas tentarem sobreviver àquela, teoricamente curta, pandemia. Por outro lado, como as grandes companhias aproveitaram para colocar todos os funcionários “não essenciais” nesse programa, houve um isolamento intelectual, em que os colaboradores das áreas de inovação e P&D desapareceram do mapa corporativo, empobrecendo o potencial das empresas de construírem soluções para as crises.

Atualmente, a economia brasileira, assim como a do restante da América Latina, está vencendo a inflação, embora ainda com níveis de crescimento muito baixo, conforme o último relatório do Banco Mundial. Uma observação recorrente nas áreas de inovação de grandes empresas no país é a falta de orçamento suficiente, ou que seus investimentos foram cortados ou congelados. Porém, este não é um fenômeno novo e não ocorreu por causa das políticas econômicas, como na Inglaterra em 2020. Isto remonta ao período pré-pandêmico, que aponta para uma carência de estratégia clara e incisiva na área de inovação.

A inovação, assim como pesquisa e desenvolvimento, acontece com ferramentas de curto, médio e longo prazo. As vicissitudes de curtíssimo prazo não deveriam alterar a direção e o tamanho do investimento a ser feito. Para que isso aconteça, essas equipes precisam implementar ferramentas, metas e processos claros, com foco no retorno potencial sobre o investimento – o que, muitas vezes, ainda deixa de acontecer, devido à falta de visão estratégica das equipes e ao desalinhamento com a linguagem dos acionistas.

Hoje em dia, os executivos lançam fundos de investimento em startups, os famosos CVCs (Corporate Venture Capital). Este tipo de movimento se tornou uma espécie de “métrica de vaidade”, que anuncia ao mundo que a empresa está investindo grandes somas de dinheiro em startups. A narrativa parece moderna, como se essas empresas estivessem subitamente aptas para a nova era digital e para as tendências de consumo

No entanto, é preciso salientar para esses tomadores de decisão que os CVCs são incapazes de trazer o retorno que eles imaginam no curto prazo. Muito provavelmente, dariam algum retorno somente quando os atuais CEOs e CFOs tiverem se mudado para outras empresas, ou talvez até se aposentado. Todos terão que esperar de 8 a 10 anos para começar a ver o retorno do primeiro dos 3 ou 4 fundos a serem lançados nos próximos 5 anos.

O curioso é que, para os CVCs, é necessário um compromisso com o valor total do investimento a ser feito durante o período de alocação do fundo. Ou seja, mesmo que demore aproximadamente 10 anos para o investimento começar a dar o retorno, ninguém fala em cortar orçamentos e projetos nessa área. É estratégico, é um comprometimento com o conselho, que raramente é contestado.

Em contrapartida, a inovação que pode trazer retorno de curto, médio e longo prazo, sim, é contestada. É cortada e logo sua eficiência é questionada. Isso é algo totalmente contraditório, pois revela uma falta de entendimento, de uma estratégia objetiva e do uso de ferramentas adequadas. Por conta disso, me pergunto, será que os executivos compreenderam e delinearam adequadamente seus respectivos planos de inovação?

Outra questão importante que deve ser avaliado é: será que as áreas de inovação deveriam ser mais do que um departamento, ou seja, uma empresa independente, assim como ocorre com boa parte dos CVCs, que tem um CNPJ separado e com governança, orçamento e potencial de ROI definido e comprometido no médio e no longo prazo?

O estabelecimento de CVCs ilustra como as empresas estão tentando fomentar a inovação. No entanto, a menos que estejam estrategicamente alinhados com a liderança da empresa e tenham metas claras e mensuráveis, pode ser que não produzam os resultados esperados.

Inovação não é sobre criar castelos no ar, mas sobre renovar padrões de desempenho. Ao deixar de ser confinada a um departamento separado ou a uma iniciativa isolada, passa a estar conectada à estratégia global da companhia, como ocorre com a Embraer X e Oxygea (Braskem), que são operações de inovação apartadas, mas conectadas à estratégia de negócio da empresa mãe. Para prosperar, as empresas precisam definir métricas significativas e alocar recursos suficientes. Para que isso aconteça, é preciso incentivar uma mudança na cultura corporativa, para que ela possa reconhecer a inovação como uma necessidade e um investimento a longo prazo.

Compartilhar:

Artigos relacionados

A aposta calculada que levou o Boticário a ser premiado no iF Awards

Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Quando o colaborador é o problema

Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura – às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

ESG, Cultura organizacional, Inovação
6 de agosto de 2025
Inovar exige enxergar além do óbvio - e é aí que a diversidade se torna protagonista. A B&Partners.co transformou esse conceito em estratégia, conectando inclusão, cultura organizacional e metas globais e impactou 17 empresas da network!

Dilma Campos, Gisele Rosa e Gustavo Alonso Pereira

9 minutos min de leitura
Cultura organizacional, ESG, Gestão de pessoas, Liderança, Marketing
5 de agosto de 2025
No mundo corporativo, reputação se constrói com narrativas, mas se sustenta com integridade real - e é justamente aí que muitas empresas tropeçam. É o momento de encarar os dilemas éticos que atravessam culturas organizacionais, revelando os riscos de valores líquidos e o custo invisível da incoerência entre discurso e prática.

Cristiano Zanetta

6 minutos min de leitura
Inteligência artificial e gestão, Estratégia e Execução, Transformação Digital, Gestão de pessoas
29 de julho de 2025
Adotar IA deixou de ser uma aposta e se tornou urgência competitiva - mas transformar intenção em prática exige bem mais do que ambição.

Vitor Maciel

3 minutos min de leitura
Carreira, Aprendizado, Desenvolvimento pessoal, Lifelong learning, Pessoas, Sociedade
27 de julho de 2025
"Tudo parecia perfeito… até que deixou de ser."

Lilian Cruz

5 minutos min de leitura
Inteligência Artificial, Gestão de pessoas, Tecnologia e inovação
28 de julho de 2025
A ascensão dos conselheiros de IA levanta uma pergunta incômoda: quem de fato está tomando as decisões?

Marcelo Murilo

8 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Liderança
25 de julho de 2025
Está na hora de entender como o papel de CEO deixou de ser sinônimo de comando isolado para se tornar o epicentro de uma liderança adaptativa, colaborativa e guiada por propósito. A era do “chefão” dá lugar ao maestro estratégico que rege talentos diversos em um cenário de mudanças constantes.

Bruno Padredi

2 minutos min de leitura
Desenvolvimento pessoal, Carreira, Carreira, Desenvolvimento pessoal
23 de julho de 2025
Liderar hoje exige muito mais do que seguir um currículo pré-formatado. O que faz sentido para um executivo pode não ressoar em nada para outro. A forma como aprendemos precisa acompanhar a velocidade das mudanças, os contextos individuais e a maturidade de cada trajetória profissional. Chegou a hora de parar de esperar por soluções genéricas - e começar a desenhar, com propósito, o que realmente nos prepara para liderar.

Rubens Pimentel

4 minutos min de leitura
Pessoas, Cultura organizacional, Gestão de pessoas, Liderança, times e cultura, Liderança, Gestão de Pessoas
23 de julho de 2025
Entre idades, estilos e velocidades, o que parece distância pode virar aprendizado. Quando escuta substitui julgamento e curiosidade toma o lugar da resistência, as gerações não competem - colaboram. É nessa troca sincera que nasce o que importa: respeito, inovação e crescimento mútuo.

Ricardo Pessoa

5 minutos min de leitura
Liderança, Marketing e vendas
22 de julho de 2025
Em um mercado saturado de soluções, o que diferencia é a história que você conta - e vive. Quando marcas e líderes investem em narrativas genuínas, construídas com propósito e coerência, não só geram valor: criam conexões reais. E nesse jogo, reputação vale mais que visibilidade.

Anna Luísa Beserra

5 minutos min de leitura
Tecnologia e inovação
15 de julho 2025
Em tempos de aceleração digital e inteligência artificial, este artigo propõe a literacia histórica como chave estratégica para líderes e organizações: compreender o passado torna-se essencial para interpretar o presente e construir futuros com profundidade, propósito e memória.

Anna Flávia Ribeiro

17 min de leitura