Desenvolvimento pessoal

Líder algorítmico

Em entrevista para a Rotman Management, Mike Walsh fala sobre o surgimento de uma nova linhagem de líderes.

Compartilhar:

Nesta entrevista, Mike Walsh explica como uma nova linhagem de líderes está emergindo com a capacidade de imaginar maneiras inovadoras de usar a inteligência de máquinas para transformar organizações e reinventar o mundo. Autor do livro The Algorithmic Leader: How to Be Smart When Machines Are Smarter Than You, ele também está à frente da Tomorrow, uma consultoria que prepara organizações para o século 21 e tem ganhado cada vez mais projeção como pensador e futurista. 

**Por que, na sua avaliação, “toda empresa é uma empresa algorítmica, quer ela saiba ou não”?**

Todo tipo de organização, de qualquer tamanho, em breve só conseguirá sobreviver se tiver capacidade de alavancar dados, processos de automação e algoritmos para serem mais eficazes e criarem melhores experiências para os clientes. No comando de sua empresa, seu futuro dependerá, muito provavelmente, mais da forma como você aproveita as informações e os dados gerados por suas atividades do que do modo como gerencia aspectos tradicionais do seu negócio.

**Como você define o líder algorítmico?**

Alguém que adaptou com sucesso seu processo de tomada de decisão, seu estilo de gestão e sua produção criativa para as complexidades da era das máquinas. Os algoritmos chegaram para ficar. O segredo é saber como liderar organizações que usam e dependem deles. 

Os líderes que admiramos e tentamos imitar nos últimos anos são essencialmente produtos da era analógica, em que havia a possibili­dade de prever, com bom grau de precisão, como seu negócio iria se desenvolver. Os líderes algorítmicos, por sua vez, se diferenciam pela atitude, pela forma como encaram a hierarquia e pelas ferramentas que utilizam.

A atitude do líder analógico sempre esteve relacionada a estar à frente, tomar todas as grandes decisões e assumir as responsabilidades. O líder algorítmico percebe que, às vezes, a melhor decisão é não tomar uma decisão e que seu verdadeiro trabalho é desenhar processos ao seu redor que permitam que outras pessoas tomem as decisões certas. 

No que diz respeito à hierarquia, o líder analógico sentava-se no topo de uma organização de estilo muito primitivo. O líder algorítmico, porém, faz parte de uma grande rede de relacionamentos e conexões, em que a hierarquia não é tão importante. Ele opera dentro de uma espécie de ecossistema orgânico.

Por fim, o líder algorítmico utiliza ferramentas bem distintas. A forma como aborda problemas e apresenta ideias é profundamente diferente, uma vez que estamos em uma era caracterizada pela automação e por dados em tempo real.

Em uma organização algorítmica o conhecimento se encontra em todos os lugares. A próxima grande ideia que vai transformar seu negócio pode estar escondida em seus registros de servidor ou nas anotações de um engenheiro. É por isso que você deve permitir que suas equipes se autogerenciem e deixar para trás a ideia de que você mesmo precisa tomar todas as decisões relevantes.

**Por que os algoritmos aumentam nossa responsabilidade?**

Um algoritmo nunca poderá tomar o lugar da verdadeira liderança. A contribuição mais valiosa de um líder do século 21 é sua humanidade: seus princípios, sua ética e seus valores. Com a automação, precisamos de seres humanos mais do que nunca, para lidar com as questões complexas. 

**Como assim?**

Diferentemente do ser humano, um algoritmo chegará à mesma conclusão todas as vezes, em qualquer momento ou mesmo depois que tenha lidado com milhares de casos semelhantes. No entanto, isso não torna os algoritmos juízes imparciais. Muito pelo contrário. 

Algoritmos são treinados com base em dados coletados por seres humanos e sobre seres humanos. Nós escolhemos de onde vêm os dados, quais critérios utilizados e o que deve ser considerado verdade. Incorporamos aos algoritmos todas as nossas opiniões, vieses e preconceitos. Os algoritmos são uma expressão de nós e do nosso mundo. 

Assim, embora possamos acabar tomando menos decisões no futuro, os líderes precisarão gastar mais tempo projetando, refinando e validando os algoritmos que decidirão muitas coisas. 

**Você acredita que o valor, nos negócios, tende cada vez mais a surgir de “novas experiências algorítmicas”. Poderia explicar melhor?**

Nos próximos dez anos, acredito que veremos a aceleração de tecnologias crescentemente capazes de integrar nossas preferências diárias para oferecer experiências e momentos altamente personalizados. Não se trata apenas de aplicativos que preveem o que você quer assistir e ler. Estou falando do seu provedor de saúde, de serviços financeiros e de seguros, por exemplo, que se anteciparão às suas necessidades, antes mesmo de você pedir qualquer coisa a eles. Toda a sua experiência de interação com o mundo pode ser essencialmente ditada por algoritmos.

**Como os líderes podem incorporar o pensamento dos computadores?**

Trata-se de abordar os problemas e tomar decisões de modo estruturado a fim de aproveitar a tecnologia, os dados e a automação para sermos mais eficientes. Os seres humanos têm a capacidade única de imaginar formas inovadoras de utilizar a inteligência das máquinas para criar experiências, transformar as organizações e reinventar o mundo. 

As ações para ser um líder algorítmico:

* Concentre-se nos futuros clientes, não nos existentes.
* Procure estar “menos errado”, em vez de estar sempre certo.
* Busque “humanizar” e “complexizar”, em vez de padronizar e simplificar.
* Guie-se pelo empoderamento do usuário, em vez do mero cumprimento de regras. 
* Demande a abordagem certa, em vez de resultados.
* Gerencie por princípios, em vez de processos.
* Transforme-se de acordo com o propósito, não apenas por conta do lucro.

_© Rotman Management_

_Editado com autorização da Rotman School of Management. ligada à University of Toronto. Todos os direitos reservados._

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando o colaborador é o problema

Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura – às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Inteligência artificial e gestão, Estratégia e Execução, Transformação Digital, Gestão de pessoas
29 de julho de 2025
Adotar IA deixou de ser uma aposta e se tornou urgência competitiva - mas transformar intenção em prática exige bem mais do que ambição.

Vitor Maciel

3 minutos min de leitura
Carreira, Aprendizado, Desenvolvimento pessoal, Lifelong learning, Pessoas, Sociedade
27 de julho de 2025
"Tudo parecia perfeito… até que deixou de ser."

Lilian Cruz

5 minutos min de leitura
Inteligência Artificial, Gestão de pessoas, Tecnologia e inovação
28 de julho de 2025
A ascensão dos conselheiros de IA levanta uma pergunta incômoda: quem de fato está tomando as decisões?

Marcelo Murilo

8 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Liderança
25 de julho de 2025
Está na hora de entender como o papel de CEO deixou de ser sinônimo de comando isolado para se tornar o epicentro de uma liderança adaptativa, colaborativa e guiada por propósito. A era do “chefão” dá lugar ao maestro estratégico que rege talentos diversos em um cenário de mudanças constantes.

Bruno Padredi

2 minutos min de leitura
Desenvolvimento pessoal, Carreira, Carreira, Desenvolvimento pessoal
23 de julho de 2025
Liderar hoje exige muito mais do que seguir um currículo pré-formatado. O que faz sentido para um executivo pode não ressoar em nada para outro. A forma como aprendemos precisa acompanhar a velocidade das mudanças, os contextos individuais e a maturidade de cada trajetória profissional. Chegou a hora de parar de esperar por soluções genéricas - e começar a desenhar, com propósito, o que realmente nos prepara para liderar.

Rubens Pimentel

4 minutos min de leitura
Pessoas, Cultura organizacional, Gestão de pessoas, Liderança, times e cultura, Liderança, Gestão de Pessoas
23 de julho de 2025
Entre idades, estilos e velocidades, o que parece distância pode virar aprendizado. Quando escuta substitui julgamento e curiosidade toma o lugar da resistência, as gerações não competem - colaboram. É nessa troca sincera que nasce o que importa: respeito, inovação e crescimento mútuo.

Ricardo Pessoa

5 minutos min de leitura
Liderança, Marketing e vendas
22 de julho de 2025
Em um mercado saturado de soluções, o que diferencia é a história que você conta - e vive. Quando marcas e líderes investem em narrativas genuínas, construídas com propósito e coerência, não só geram valor: criam conexões reais. E nesse jogo, reputação vale mais que visibilidade.

Anna Luísa Beserra

5 minutos min de leitura
Tecnologia e inovação
15 de julho 2025
Em tempos de aceleração digital e inteligência artificial, este artigo propõe a literacia histórica como chave estratégica para líderes e organizações: compreender o passado torna-se essencial para interpretar o presente e construir futuros com profundidade, propósito e memória.

Anna Flávia Ribeiro

17 min de leitura
Inovação
15 de julho de 2025
Olhar para um MBA como perda de tempo é um ponto cego que tem gerado bastante eco ultimamente. Precisamos entender que, num mundo complexo, cada estudo constrói nossas perspectivas para os desafios cotidianos.

Frederike Mette e Paulo Robilloti

6 min de leitura
User Experience, UX
Na era da indústria 5.0, priorizar as necessidades das pessoas aos objetivos do negócio ganha ainda mais relevância

GEP Worldwide - Manoella Oliveira

9 min de leitura