Estratégia e Execução

O papel das narrativas na era da explosão de dados

Na Rotman Management magazine, Roger Martin e Tony Golsby-Smith perguntam: gestão é mesmo ciência? Ou tem a ver com histórias e metáforas?

Compartilhar:

A crença de que existe uma base científica para o management, e que as decisões de negócios devem ser sempre baseadas na análise rigorosa de dados, ganhou um importante reforço nos anos recentes. O crescimento substancial do volume de dados, assim como das ferramentas para lidar com as informações, contribuiu para a consolidação dessas ideias. 

“Mas é verdade que management é uma ciência? É correto tratar como equivalentes o rigor intelectual e a análise de dados?”, perguntam (e provocam) Roger L. Martin, ex-diretor da Rotman School of Management entre 1998-2013, e autor do livro Creating Great Choices: A Leader’s Guide to Integrative Thinking, e Tony Golsby-Smith, fundador e presidente da consultoria 2nd Road.

Os dois reconhecem que a aproximação com a ciência é uma ideia atraente para os gestores. Uma pesquisa recente mostrou que 81% dos executivos afirmam acreditar que “os dados devem estar no coração de qualquer processo de tomada de decisão”. No entanto, na revista Rotman Management, Martin e Golsby-Smith questionam as tão arraigadas certezas sobre o cientificismo na gestão dos negócios e apresentam uma abordagem alternativa, baseada menos em análise de dados e mais em imaginação, experimentação e comunicação. “O fato de a análise científica de dados ter feito do mundo um lugar melhor não significa que esse deve ser o vetor de toda e qualquer decisão de negócios”, escrevem. 

Na visão dos autores, quando se está diante de um contexto em que as coisas não podem ser diferentes do que de fato são, é possível e desejável lançar mão de métodos científicos para entender esse universo imutável, mais rápida e efetivamente do que os concorrentes. 

Porém, quando se usa abordagens cientificistas em contextos em que as coisas podem ser diferentes do que são, a tendência é, inadvertidamente, se convencer de que a mudança não é possível. “Será tarde demais quando se descobrir que um novo concorrente mostrou a antigos clientes da empresa que as coisas podiam, na verdade, ser diferentes”, escrevem os autores, destacando que esse é o preço a pagar por aplicar a análise de dados ao negócio indiscriminadamente, e não apenas às áreas apropriadas para isso. 

**O PODER DAS NARRATIVAS**

Diante da necessidade de tomar uma decisão em um cenário de ampla gama de possibilidades, a proposta dos autores é recorrer a “três ou quatro” narrativas convincentes, cada uma delas com uma metáfora forte. Em seguida, submeter as narrativas a um processo de teste que vai possibilitar chegar a um consenso sobre qual delas é a melhor.

A partir daí, para avaliar as opções, é preciso, segundo Martin e Golsby-Smith, seguir os seguintes passos: 

**1 – Esclarecer as condições.** Embora não haja como provar que uma mudança proposta terá o efeito desejado, é possível especificar o que deveria acontecer para que ela funcionasse. Ao levar em consideração isso, os inovadores podem trabalhar na direção de um consenso. A ideia é levar o grupo a chegar a um acordo sobre a possibilidade de tornar a maioria dessas condições uma realidade – e se responsabilizar por isso.

Os autores contam que essa foi a abordagem adotada por uma fabricante de móveis de escritório diante do desenvolvimento de uma nova cadeira. Embora a inovação fosse radicalmente superior a tudo o que existia no mercado, seu custo de produção inviabilizaria a comercialização. “Em vez de desistir, a empresa passou a se perguntar o que deveria acontecer para que os potenciais clientes passassem da indiferença à paixão e concluíram que eles deveriam ter a oportunidade de testar a cadeira”, escrevem, acrescentando que essa foi a base da estratégia de lançamento. 

**2 – Criar novos dados.** A abordagem da experimentação em um cenário de ampla gama de possibilidades é fundamentalmente diferente do que ocorre em um cenário em que essas possibilidades não existem. Martin e Golsby-Smith explicam que “no mundo impossível”, a tarefa é acessar e compilar os dados relevantes e que, às vezes, isso envolve simplesmente pesquisar. “Você também pode ter de aplicar testes estatísticos para determinar se os dados coletados demonstram que a proposição – digamos que os consumidores preferem vida útil mais longa a maior funcionalidade do produto – é verdadeira ou falsa”, exemplificam. 

No mundo das possibilidades, porém, os dados relevantes não existem porque o futuro ainda não aconteceu. É preciso produzir os dados por meio de protótipos. “Dando aos usuários algo que eles nunca viram antes e observando e registrando suas reações”, destacam Martin e Golsby-Smith. Se os usuários não responderem como esperado, o caminho é buscar informações sobre como o protótipo pode ser aprimorado e repetir o processo até gerar dados que demonstrem como a inovação será bem-sucedida. 

Por fim, os autores admitem que algumas ideias são ruins e ponto. “Por isso é importante desenvolver várias narrativas”, recomendam. E ressaltam: os exercícios de prototipagem levarão a um consenso que estimula a ação. E o envolvimento ajuda os integrantes a assumir a responsabilidade pela narrativa escolhida.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando o corpo pede pausa e o negócio pede pressa

Entre liderança e gestação, uma lição essencial: não existe performance sustentável sem energia. Pausar não é fraqueza, é gestão – e admitir limites pode ser o gesto mais poderoso para cuidar de pessoas e negócios.

Cultura organizacional, Inovação & estratégia
12 de dezembro de 2025
Inclusão não é pauta social, é estratégia: entender a neurodiversidade como valor competitivo transforma culturas, impulsiona inovação e constrói empresas mais humanas e sustentáveis.

Marcelo Vitoriano - CEO da Specialisterne Brasil

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
11 de dezembro de 2025
Do status à essência: o luxo silencioso redefine valor, trocando ostentação por experiências que unem sofisticação, calma e significado - uma nova inteligência para marcas em tempos pós-excesso.

Daniel Skowronsky - Cofundador e CEO da NIRIN Branding Company

3 minutos min de leitura
Estratégia
10 de dezembro de 2025
Da Coreia à Inglaterra, da China ao Brasil. Como políticas públicas de design moldam competitividade, inovação e identidade econômica.

Rodrigo Magnago - CEO da RMagnago

17 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
9 de dezembro de 2025
Entre liderança e gestação, uma lição essencial: não existe performance sustentável sem energia. Pausar não é fraqueza, é gestão - e admitir limites pode ser o gesto mais poderoso para cuidar de pessoas e negócios.

Tatiana Pimenta - Fundadora e CEO da Vittude,

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
8 de dezembro de 2025
Com custos de saúde corporativa em alta, a telemedicina surge como solução estratégica: reduz sinistralidade, amplia acesso e fortalece o bem-estar, transformando a gestão de benefícios em vantagem competitiva.

Loraine Burgard - Cofundadora da h.ai

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Liderança
5 de dezembro de 2025
Em um mundo exausto, emoção deixa de ser fragilidade e se torna vantagem competitiva: até 2027, lideranças que integram sensibilidade, análise e coragem serão as que sustentam confiança, inovação e resultados.

Lisia Prado - Consultora e sócia da House of Feelings

5 minutos min de leitura
Finanças
4 de dezembro de 2025

Antonio de Pádua Parente Filho - Diretor Jurídico, Compliance, Risco e Operações no Braza Bank S.A.

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
3 de dezembro de 2025
A creators economy deixou de ser tendência para se tornar estratégia: autenticidade, constância e inovação são os pilares que conectam marcas, líderes e comunidades em um mercado digital cada vez mais colaborativo.

Gabriel Andrade - Aluno da Anhembi Morumbi e integrante do LAB Jornalismo e Fernanda Iarossi - Professora da Universidade Anhembi Morumbi e Mestre em Comunicação Midiática pela Unesp

3 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
2 de dezembro de 2025
Modelos generativos são eficazes apenas quando aplicados a demandas claramente estruturadas.

Diego Nogare - Executive Consultant in AI & ML

4 minutos min de leitura
Estratégia
1º de dezembro de 2025
Em ambientes complexos, planos lineares não bastam. O Estuarine Mapping propõe uma abordagem adaptativa para avaliar a viabilidade de mudanças, substituindo o “wishful thinking” por estratégias ancoradas em energia, tempo e contexto.

Manoel Pimentel - Chief Scientific Officer na The Cynefin Co. Brazil

10 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança