Diversidade

Onde está a diversidade nos conselhos administrativos?

Procuro por diversidade e a pluralidade de vozes nos conselhos de administração e só encontro o mais do mesmo: homens brancos, idênticos, com a mesma formação, experiência e repertório
Fundadora da #JustaCausa, do programa #lídercomneivia e dos movimentos #ondeestãoasmulheres e #aquiestãoasmulheres

Compartilhar:

Sou uma mulher branca, cearense, jornalista de formação. Aos 23 anos, me propus a construir uma carreira corporativa em São Paulo e aceitei como “normal” fazer parte de um ambiente feito por homens para homens semelhantes entre si.

Acreditei na meritocracia masculina, branca, heterossexual, de elite e sem nenhuma deficiência aparente. Aprendi a não ouvir as piadas machistas, xenofóbicas e a neutralizar o assédio moral e sexual que eu e as mulheres à minha volta sofríamos.

Aceitei que fazia parte da realidade não ter [mulheres ocupando posições de liderança e poder](https://www.revistahsm.com.br/post/da-equidade-de-genero-a-lideranca-feminina), e que os limites da ambição de uma mulher eram pré-determinados, assim como nossos salários e nossas oportunidades eram menores.

Éramos avaliadas pelo serviço prestado enquanto os homens, nossos pares, eram avaliados pelo potencial que outros homens chefes enxergavam neles. E, à medida que eu crescia na carreira, também aprendi a achar normal ser a única mulher da sala.

Até os meus 45 anos, eu não tinha nenhuma consciência dos meus privilégios, da desigualdade de gênero e da absoluta falta de diversidade no mercado de trabalho. Isso porque eu, assim como você, media o mundo pela minha régua: “se eu, mulher nordestina, que vim para São Paulo sem conhecer ninguém, tinha construído uma carreira de sucesso, qualquer mulher conseguiria fazer o mesmo, bastava ela querer, certo?” Errado.

## Estado de consciência

Há seis anos, quando tomei consciência da desigualdade de gênero em todos os setores da nossa sociedade, olhava para as posições de alta liderança e poder de empresas públicas e privadas e só via homens brancos, iguaizinhos entre si.

Quando olhava para os conselhos de administração, só via ex – CEOs brancos, idênticos, com o mesmo tipo de formação, experiência, trajetória e repertório. Uma espécie de tropa de elite, um clube de amigos irmãos camaradas.

À distância, os conselhos me pareciam lugares exclusivamente masculinos, um reduto para a aposentadoria dos líderes empresariais, que garantiam status, excelente remuneração, pouco trabalho e uma longevidade profissional aos homens bem-sucedidos do mercado.

Há quase cinco anos, me pergunto, todos os dias: onde estão as mulheres nas posições de poder, na alta liderança e nos conselhos das empresas?
Ao buscar respostas, vejo com desassossego o quão pouco evoluímos – apenas 16% das empresas brasileiras são lideradas por mulheres e nós representamos tão somente 11,5% das conselheiras de administração. Quase 100% dessas mulheres são brancas.

A inclusão e a diversidade nos conselhos começam, sim, pelas mulheres pois somos maioria da população brasileira e responsáveis por 80% das decisões de consumo do Brasil. Além disso, não podemos esquecer que só estamos aqui hoje porque uma mulher, nossa mãe, escolheu nos trazer ao mundo, doando seu corpo para ser nossa primeira casa.

## Outras vozes nos conselhos

Mas [inclusão e diversidade nos conselhos não se restringem a nós](https://www.revistahsm.com.br/post/a-busca-pela-equidade-humana), mulheres brancas. Onde estão os homens pretos? Onde estão as mulheres pretas? Onde estão as pessoas LGBTQIA+? Onde estão as pessoas com algum tipo de deficiência? Onde está a diversidade regional, a diversidade de gerações, a diversidade de talentos e conhecimentos?

O que nos falta para entender que sem diversidade não há inovação? E que sem inovação não há sustentabilidade de negócios?

Como é possível tomar as melhores decisões empresariais numa sociedade diversa, com clientes singulares e plurais, se só temos líderes e conselheiros idênticos entre si, membros da mesma bolha, com todos os mesmos intrínsecos vieses inconscientes e preconceitos?

Quem representa o cliente dentro dos conselhos? Quem gosta e entende de gente? Quem sabe se comunicar, inspirar e engajar? Quem tem consciência coletiva e compromisso com o desenvolvimento sustentável do planeta? Quem pratica o capitalismo de stakeholder? De todos os stakeholders?

## AUTORRESPONSABILIDADE

Todos esses assuntos são urgentes e dizem respeito ao amanhã que nós construímos aqui e agora. Eu, você, todas e todos nós. Precisamos transformar intenção em ação. Colocar o discurso em prática, com intensidade e agilidade. A mudança que queremos e precisamos começa em nós e depende de nós. A responsabilidade é nossa.

*Gostou do artigo da Neivia Justa? Aproveite e assine gratuitamente [nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter) e ouça [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts) em sua plataforma de streaming favorita.*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
15 de outubro de 2025
Cuidar da saúde mental virou pauta urgente - nas empresas, nas escolas, nas nossas casas. Em um mundo acelerado e hiperexposto, desacelerar virou ato de coragem.

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Marketing & growth
14 de outubro de 2025
Se 90% da decisão de compra acontece antes do primeiro contato, por que seu time ainda espera o cliente bater na porta?

Mari Genovez - CEO da Matchez

3 minutos min de leitura
ESG
13 de outubro de 2025
ESG não é tendência nem filantropia - é estratégia de negócios. E quando o impacto social é parte da cultura, empresas crescem junto com a sociedade.

Ana Fontes - Empreendeedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Estratégia
10 de outubro de 2025
Com mais de um século de história, a Drogaria Araujo mostra que longevidade empresarial se constrói com visão estratégica, cultura forte e design como motor de inovação.

Rodrigo Magnago

6 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Liderança
9 de outubro de 2025
Em tempos de alta performance e tecnologia, o verdadeiro diferencial está na empatia: um ativo invisível que transforma vínculos em resultados.

Laís Macedo, Presidente do Future is Now

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Bem-estar & saúde, Finanças
8 de outubro de 2025
Aos 40, a estabilidade virou exceção - mas também pode ser o início de um novo roteiro, mais consciente, humano e possível.

Lisia Prado, sócia da House of Feelings

5 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
7 de outubro de 2025
O trabalho flexível deixou de ser tendência - é uma estratégia de RH para atrair talentos, fortalecer a cultura e impulsionar o desempenho em um mundo que já mudou.

Natalia Ubilla, Diretora de RH no iFood Pago e iFood Benefícios

7 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
6 de outubro de 2025
Como a evolução regulatória pode redefinir a gestão de pessoas no Brasil

Tatiana Pimenta, CEO da Vittude

4 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
3 de outubro de 2025
Ser CEO é mais que ocupar o topo - para mulheres, é desafiar estereótipos e transformar a liderança em espaço de pertencimento e impacto.

Giovana Pacini, Country Manager da Merz Aesthetics® Brasil

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)