Uncategorized

Outubro rosa: precisamos falar sobre prevenção

Membro do Instituto de Oncologia Santa Paula, filiado ao Centro de Oncologia Sírio-Libanês. Graduada pela Faculdade de Medicina do ABC, com residência em clínica médica e oncologia cínica pela Universidade de São Paulo.

Compartilhar:

Todos os dias recebo em meu consultório pacientes com suspeita ou diagnóstico já confirmados de câncer. Já faz anos que eu me especializei em oncologia, mas a dura rotina de comunicar más notícias é algo que a gente nunca se acostuma. E entre consultas, visitas aos internados e ligações na madrugada, as vezes falta tempo para tratar o que realmente importa: a saúde. Sim, porque na loucura do dia a dia, nosso foco é tratar a doença e a prevenção acaba ficando em segundo plano. Sempre reforço aos meus pacientes a importância de se manter hábitos saudáveis, mas quando a doença já está instalada, isso pode soar um tanto quanto rude. Por isso, resolvi aproveitar a onda do Outubro Rosa para fazer uma pausa aqui e compartilhar saúde com vocês.

#### **História**

O Outubro Rosa é uma campanha de conscientização que tem como principal objetivo alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e, mais recentemente, sobre o câncer de colo do útero.

O movimento surgiu em 1990 quando a Fundação Susan G. Komen for the Cure organizou a primeira Corrida pela Cura, em Nova Iorque. Foi nesta ocasião que o laço cor-de-rosa, que até hoje é símbolo da campanha, foi distribuído aos participantes da corrida, que desde então é promovida anualmente na cidade. Entretanto, somente em 1997 é que entidades das cidades de Yuba e Lodi, também nos Estados Unidos, começaram a promover atividades voltadas ao diagnóstico e prevenção da doença, escolhendo o mês de outubro como epicentro das ações. Hoje o Outubro Rosa é realizado em vários lugares do mundo.

#### **Fatores de risco**

Os fatores de risco para o câncer de mama são: idade avançada; obesidade (principalmente na pós-menopausa); sedentarismo; consumo excessivo de álcool; tabagismo; reposição hormonal realizada de forma inadequada (por isso a importância de avaliação médica antes e durante o uso de reposição hormonal); exposição à radiação ionizante (por exemplo em pacientes tratadas com radioterapia); mamas densas (a densidade mamária pode ser percebida através da mamografia); primeira menstruação antes dos 12 anos; menopausa após os 55 anos; não ter filhos ou ter filhos após os 35 anos; histórico de alguma lesão precursora de câncer de mama, como carcinoma in situ e hiperplasia atípica; história familiar e mutações genéticas como o BRCA.

#### **Mudança de Hábitos**

Há muitos hábitos que podemos mudar ou melhorar para diminuir as chances de ter câncer de mama. Um estudo realizado pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em parceria com a Universidade de Harvard, Universidade de Cambridge e Universidade de Queensland, publicado na Cancer Epidemiology em julho de 2018, concluiu que até 8.600 casos de câncer em mulheres e 1.700 casos de câncer em homens poderiam ter sido evitados simplesmente com o aumento dos exercícios físicos semanais 

Então, para diminuir estes fatores de risco e baseado em diversos estudos científicos que os correlacionam com a incidência de câncer, é necessário: 

* Manter o peso adequado;

* Não consumir álcool em excesso;

* Praticar atividades físicas. A recomendação mínima semanal preconizada pela Organização Mundial da Saúde é de 150 minutos de atividade moderada ou 75 minutos em ritmo mais intenso;

* Alimentação saudável, diminuindo a ingestão de alimentos processados e industrializados;

* Amamentar, se possível;

* Usar anticoncepcional e fazer reposição hormonal apenas com prescrição médica; 

* Ficar atento ao histórico familiar.

Além de prevenir o aparecimento de câncer de mama, essas medidas também diminuem os riscos de outros tipos de câncer e doenças cardiovasculares. 

Mitos sobre o câncer de mama:

* Desodorante causa câncer de mama. **MITO:** não existe estudo científico correlacionando o uso de desodorante com câncer de mama;

* Apenas quem tem pessoas na família com câncer de mama tem risco de ter também. **MITO:** na verdade a maior parte dos cânceres são esporádicos e não são relacionados com histórico familiar. Apenas cerca de 10% estão relacionados a hereditariedade;

* Quem faz autoexame todos os meses não precisa fazer mamografia. **MITO:** mulheres a partir dos 40 anos devem fazer mamografia e ter as mamas examinadas por um profissional de saúde todos os anos. Exames atuais são capazes de diagnosticar lesões bem pequenas, menores que 1 cm. O câncer de mama tem cura por isso a importância da detecção precoce;

* Uma pancada na mama pode causar câncer. **MITO:** o que acontece às vezes é que, devido à pancada e dor, a mulher começa a palpar as mamas e coincidentemente palpa um nódulo;

* Quem tem silicone tem mais risco de ter câncer de mama. **MITO:** as próteses de silicone não aumentam o risco de ter câncer de mama; inclusive, são utilizadas nas cirurgias plásticas de reconstrução de mamas;

* Existe um protocolo único de tratamento para o câncer de mama. **MITO:** o tratamento para as pacientes com câncer de mama é individualizado e, por isso, pode ser bem diferente de uma mulher para outra;

* Homens não têm câncer de mama. **MITO:** existe incidência na população masculina, apesar de ser raro.

A mamografia não serve para impedir que o câncer de mama apareça, mas sim para fazer a detecção precoce. Toda mulher acima dos 40 anos deve fazer mamografia anual independente de algo palpável na mama ou não. 

E lembre-se: mudanças no estilo de vida como dieta saudável, controle de peso e aumento de atividades físicas, ajudam a diminuir a incidência de câncer de mama. Já a realização do acompanhamento médico com mamografia anual a partir de 40 anos diagnostica lesões pequenas, que têm altas chances de cura com tratamento específico para cada indivíduo. É na combinação destes dois fatores, que observamos os melhores resultados.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Reputação sólida, ética líquida: o desafio da integridade no mundo corporativo

No mundo corporativo, reputação se constrói com narrativas, mas se sustenta com integridade real – e é justamente aí que muitas empresas tropeçam. É o momento de encarar os dilemas éticos que atravessam culturas organizacionais, revelando os riscos de valores líquidos e o custo invisível da incoerência entre discurso e prática.

Vivemos a reinvenção do CEO?

Está na hora de entender como o papel de CEO deixou de ser sinônimo de comando isolado para se tornar o epicentro de uma liderança adaptativa, colaborativa e guiada por propósito. A era do “chefão” dá lugar ao maestro estratégico que rege talentos diversos em um cenário de mudanças constantes.

Inovação
Eventos não morreram, mas 78% dos participantes já rejeitam formatos ultrapassados. O OASIS Connection chega como antídoto: um laboratório vivo onde IA, wellness e conexões reais recriam o futuro dos negócios

Vanessa Chiarelli Schabbel

5 min de leitura
Marketing
Entenda por que 90% dos lançamentos fracassam quando ignoram a economia comportamental. O Nobel Daniel Kahneman revela como produtos são criados pela lógica, mas comprados pela emoção.

Priscila Alcântara

8 min de leitura
Liderança
Relatórios do ATD 2025 revelam: empresas skills-based se adaptam 40% mais rápido. O segredo? Trilhas de aprendizagem que falam a língua do negócio.

Caroline Verre

4 min de leitura
Liderança
Por em prática nunca é um trabalho fácil, mas sempre é um reaprendizado. Hora de expor isso e fazer o que realmente importa.

Caroline Verre

5 min de leitura
Inovação
Segundo a Gartner, ferramentas low-code e no-code já respondem por 70% das análises de dados corporativos. Entenda como elas estão democratizando a inteligência estratégica e por que sua empresa não pode ficar de fora dessa revolução.

Lucas Oller

6 min de leitura
ESG
No ATD 2025, Harvard revelou: 95% dos empregadores valorizam microcertificações. Mesmo assim, o reskilling que realmente transforma exige 3 princípios urgentes. Descubra como evitar o 'caos das credenciais' e construir trilhas que movem negócios e carreiras.

Poliana Abreu

6 min de leitura
Empreendedorismo
33 mil empresas japonesas ultrapassaram 100 anos com um segredo ignorado no Ocidente: compaixão gera mais longevidade que lucro máximo.

Poliana Abreu

6 min de leitura
Liderança
70% dos líderes não enxergam seus pontos cegos e as empresas pagam o preço. O antídoto? Autenticidade radical e 'Key People Impact' no lugar do controle tóxico

Poliana Abreu

7 min de leitura
Liderança
15 lições de liderança que Simone Biles ensinou no ATD 2025 sobre resiliência, autenticidade e como transformar pressão em excelência.

Caroline Verre

8 min de leitura
Liderança
Conheça 6 abordagens práticas para que sua aprendizagem se reconfigure da melhor forma

Carol Olinda

4 min de leitura