Vale oriental

Presença na China como estratégia de negócios globais

Abandonar visões distorcidas sobre o ecossistema de negócios chinês levou multinacionais a valorizarem a presença no país como parte da estratégia de negócios globais
Edward Tse é fundador e CEO da Gao Feng Advisory Company, uma empresa de consultoria de estratégia e gestão com raízes na China.

Compartilhar:

Todo mundo sabe: a China é grande, cresce rápido e é cada vez mais crucial para muitas empresas no mundo. Desde a histórica “visita ao sul” de Deng Xiaoping, há três décadas, as multinacionais investem maciçamente no país, estratégia que evoluiu pari pas-su com o avanço do seu papel global.

A crença inicial foi de que outros modelos de negócio poderiam ser replicados na China; esperava-se que “copiar e colar” funcionasse. Empresas locais não eram vistas como concorrentes. Esse papel era de outras corporações que operavam com parceiras locais para reduzir custos.

De lá para cá, o desempenho das multinacionais na China variou muito. Algumas não obtiveram o resultado esperado, outras optaram por reduzir sua presença e outras simplesmente recuaram. Houve quem descobrisse na China um de seus maiores mercados e também o epicentro das suas cadeias de fornecimento globais.

Hoje, as multinacionais notam que a China é mais do que um “país estrangeiro”. Reconhecem velocidade, agilidade e motivação para aprender e se adaptar. Muitas, no entanto, sentem que poderiam ter mais resultados, e ficam perplexas por não capturarem o potencial legítimo oferecido pelo país. Há, porém, uma visão equivocada sobre como se faz negócios na China, fruto de notícias de um ambiente injusto e difícil para as multinacionais e de conselhos simplórios dados por diferentes profissionais que, longe de captar a real importância do país, apenas deram aos ocidentais uma ideia de estranheza.

Há muito tempo acredito que as multinacionais que desejam atuar na China precisam superar desafios, como a falta de um framework estratégico adequado para caracterizar o país; a subavaliação da capacidade e intensidade de inovação do país e de seu impacto nos negócios. E falta compreender adequadamente o modelo de governança chinês, sem ser contaminado pela retórica política. As multinacionais com melhor desempenho reconheceram esses fatores e mudaram seu mindset ao longo do tempo. Estabeleceram equipes locais, transferiram parte de P&D para a China e prestaram mais atenção aos concorrentes locais. Aprofundar a compreensão do papel da China no mundo, contemplando a geopolítica como pré-requisito para desenvolver estratégias no país, colabora para a evolução.

Para os pessimistas, a geopolítica ficará insustentável. Já os verdadeiros estrategistas terão uma visão objetiva e procurarão formas de criar valor mesmo reconhecendo os riscos. Ao emergir como plataforma para o melhor pensamento estratégico, a China influenciará negócios no resto do mundo. Acompanhar seu desenvolvimento em um ambiente de rápida mudança exige dos estrategistas uma mentalidade não linear, multidimensional e descontínua, que aceite ambiguidades, identificando benefícios e riscos envolvidos.

Com grandes oportunidades para multinacionais, ter presença forte na China significa também fortalecer sua posição global. Capturar o potencial legítimo que o país oferece, porém, exige excelente mentalidade estratégica.

Artigo publicado na HSM Management nº 154

Compartilhar:

Artigos relacionados

Cultura organizacional, Inovação & estratégia
25 de outubro de 2025
Em empresas de capital intensivo, inovar exige mais do que orçamento - exige uma cultura que valorize a ambidestria e desafie o culto ao curto prazo.

Atila Persici Filho e Tabatha Fonseca

17 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
24 de outubro de 2025
Grandes ideias não falham por falta de potencial - falham por falta de método. Inovar é transformar o acaso em oportunidade com observação, ação e escala.

Priscila Alcântara e Diego Souza

6 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
23 de outubro de 2025
Alta performance não nasce do excesso - nasce do equilíbrio entre metas desafiadoras e respeito à saúde de quem entrega os resultados.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional.

4 minutos min de leitura
Uncategorized
22 de outubro de 2025
No setor de telecom, crescer sozinho tem limite - o futuro está nas parcerias que respeitam o legado e ampliam o potencial dos empreendedores locais.

Ana Flavia Martins - Diretora executiva de franquias da Algar

4 minutos min de leitura
Marketing & growth
21 de outubro de 2025
O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

5 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
20 de outubro de 2025
Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.

Marília Tosetto - Diretora de Talent Management na Blip

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
15 de outubro de 2025
Cuidar da saúde mental virou pauta urgente - nas empresas, nas escolas, nas nossas casas. Em um mundo acelerado e hiperexposto, desacelerar virou ato de coragem.

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Marketing & growth
14 de outubro de 2025
Se 90% da decisão de compra acontece antes do primeiro contato, por que seu time ainda espera o cliente bater na porta?

Mari Genovez - CEO da Matchez

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)