Tecnologias exponenciais
12 min de leitura

Primeiro implante de chip cerebral em um ser humano: o que isso significa?

Esta tecnologia apresenta um potencial significativo para ajudar pessoas com diversas condições médicas como paralisia, doença de Parkinson, esclerose múltipla, cegueira, entre outras. A Neuralink também tem a ambição de, no futuro, permitir uma simbiose entre humanos e inteligência artificial, visando expandir as capacidades cognitivas humanas.
Cientista, desenvolvedor de neurotecnologias e entusiasta dos negócios de impacto social. Leandro é CEO na CogniSigns e expert na Singularity Brazil em Neurotecnologia.

Compartilhar:

Tecnologia

A Neuralink, uma empresa de vanguarda no desenvolvimento de interfaces cérebro-computador (BCIs), alcançou um marco histórico com a realização do primeiro implante de um chip cerebral em um ser humano. Fundada por Elon Musk, a missão da Neuralink é revolucionar a forma como interagimos com a tecnologia e abordar desafios neurológicos complexos através de avanços em neurotecnologia.

Esta inovação representa um novo capítulo na medicina e na tecnologia, prometendo capacidades que parecem ter saído diretamente de um filme de ficção científica. Através de minúsculos fios implantados no cérebro, o dispositivo da Neuralink pode captar sinais neurais com uma precisão sem precedentes, possibilitando o controle de dispositivos externos com o pensamento e abrindo potenciais caminhos para tratamento de diversas condições neurológicas.

Em resumo, este dispositivo inovador é composto por 64 fios, cada um contendo 16 eletrodos, resultando em um total de 1024 canais. Notavelmente, todo esse sistema é compacto o suficiente para caber em uma área do tamanho de uma moeda de 1 real.

Os fios ou threads são extremamente finos e flexíveis, inseridos no cérebro para captar a atividade neural. Cada threads é mais fino do que um fio de cabelo humano, o que reduz o risco de danos ao tecido cerebral durante a implantação. Um robô cirúrgico especializado foi desenvolvido pela Neuralink para realizar a implantação desses threads de forma precisa.

O chip funciona capturando sinais elétricos do cérebro através dos eletrodos nos threads. Estes sinais são então processados por um dispositivo externo, que traduz os sinais neurais, permitindo o controle de computadores ou outros dispositivos externos através do pensamento.

O funcionamento do chip (Reprodução)

Esta tecnologia apresenta um potencial significativo para ajudar pessoas com diversas condições médicas como paralisia, doença de Parkinson, esclerose múltipla, cegueira, entre outras. A Neuralink também tem a ambição de, no futuro, permitir uma simbiose entre humanos e inteligência artificial, visando expandir as capacidades cognitivas humanas.

A aprovação para a realização desse implante pioneiro veio da FDA, a agência reguladora dos EUA, que garante a segurança e eficácia de dispositivos médicos. Este aval é crucial, pois confirma o potencial terapêutico e a segurança do dispositivo, permitindo que a Neuralink prossiga para ensaios clínicos em humanos. Tal aprovação sublinha a importância da regulamentação rigorosa e do escrutínio ético no avanço de tecnologias disruptivas.

Vale lembrar que a base científica por trás da Neuralink e de tecnologias similares deve muito ao campo global das neurociências, onde o Brasil se destaca notavelmente. A inspiração inicial para a criação da Neuralink pode ser rastreada até os trabalhos inovadores do professor Miguel Nicolelis, um neurocientista brasileiro cujas pesquisas pioneiras em interfaces cérebro-máquina abriram caminho para avanços significativos na área. Essa conexão destaca a importância da colaboração e do compartilhamento de conhecimento no progresso científico.

Em um recente episódio de podcast, tive a oportunidade de discutir com Mário Ayres, um paciente com lesão medular e mestrando em neuroengenharia, sobre as promessas da Neuralink e outras tecnologias em neurociências. Mário compartilhou sua perspectiva única de cadeirante, misturando conhecimento técnico com esperanças pessoais de como tais inovações podem melhorar a vida das pessoas com deficiências. Nossa conversa abriu um panorama sobre como a interseção entre a ciência, a tecnologia e as experiências humanas individuais ilumina o caminho para um futuro onde as limitações físicas podem ser significativamente mitigadas ou até mesmo superadas.

Leandro participou do podcast NeuroMario, ao lado de Mario Ayres, e você pode acessá-lo clicando neste link

“Como um paciente com lesão medular, a notícia do avanço da tecnologia da Neuralink traz para mim esperança. Viver com uma lesão medular é enfrentar diariamente desafios que vão além da mobilidade; é uma jornada constante de adaptação, resiliência e busca por independência”, afirma Mário. E finaliza dizendo que “cada avanço nessa área não é apenas um passo científico; é um sinal de esperança para mim e para muitos outros que vivem com limitações físicas. Nosso sonho de recuperar uma parte da nossa antiga vida ganha um pouco mais de cor com essas inovações. Estou ansioso e esperançoso para ver o impacto que a Neuralink e tecnologias semelhantes terão em nossas vidas no futuro.”

No caso de Mário, a solução em desenvolvimento pela Neuralink pode estabelecer uma conexão funcional entre o cérebro e a parte inferior da medula espinhal, que, apesar de permanecer saudável, perdeu sua funcionalidade devido à interrupção causada pela lesão. Este avanço representa a criação de uma “ponte” neural, que visa restaurar a comunicação entre o cérebro e as áreas afetadas, potencialmente permitindo a recuperação de funções motoras e sensoriais perdidas. Esta abordagem inovadora busca superar os desafios impostos pela lesão medular, reativando a capacidade do corpo de responder aos comandos cerebrais, mesmo em áreas que foram previamente desabilitadas pelo trauma.

A precisão para uma cirurgia dessas é feita a partir de um robô criado pela Neuralink (Reprodução)

Em suma, a Neuralink não é apenas uma empresa de tecnologia; é um farol de esperança para o futuro da interação humana com máquinas e um testemunho do poder da ciência para transformar vidas. Através da colaboração internacional, do rigor científico e da inovação, estamos caminhando para uma era onde as barreiras entre o cérebro humano e a tecnologia começam a se dissolver, abrindo possibilidades antes inimagináveis para o tratamento de doenças neurológicas e a expansão das capacidades humanas.

Compartilhar:

Cientista, desenvolvedor de neurotecnologias e entusiasta dos negócios de impacto social. Leandro é CEO na CogniSigns e expert na Singularity Brazil em Neurotecnologia.

Artigos relacionados

Reaprender virou a palavra da vez

Reaprender não é um luxo – é sobrevivência. Em um mundo que muda mais rápido do que nossas certezas, quem não reorganiza seus próprios circuitos mentais fica preso ao passado. A neurociência explica por que essa habilidade é a verdadeira vantagem competitiva do futuro.

ESG, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
3 de setembro de 2025
O plástico nasceu como símbolo do progresso - hoje, desafia o futuro do planeta. Entenda como uma invenção de 1907 moldou a sociedade moderna e se tornou um dos maiores dilemas ambientais da nossa era.

Anna Luísa Beserra - CEO da SDW

0 min de leitura
Inovação & estratégia, Empreendedorismo, Tecnologia & inteligencia artificial
2 de setembro de 2025
Como transformar ciência em inovação? O Brasil produz muito conhecimento, mas ainda engatinha na conversão em soluções de mercado. Deep techs podem ser a ponte - e o caminho já começou.

Eline Casasola - CEO da Atitude Inovação

5 minutos min de leitura
Liderança, Empreendedorismo, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
1 de setembro de 2025
Imersão de mais de 10 horas em São Paulo oferece conteúdo de alto nível, mentorias com especialistas, oportunidades de networking qualificado e ferramentas práticas para aplicação imediata para mulheres, acelerando oportunidades para um novo paradigma econômico

Redação HSM Management

0 min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
1 de setembro de 2025
Na era da creator economy, influência não é mais sobre alcance - é sobre confiança. Você já se deu conta como os influenciadores se tornaram ativos estratégicos no marketing contemporâneo? Eles conectam dados, propósito e performance. Em um cenário cada vez mais automatizado, é a autenticidade que converte.

Salomão Araújo - VP Comercial da Rakuten Advertising no Brasil

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
29 de agosto de 2025
Estamos entrando na temporada dos planos estratégicos - mas será que o que chamamos de “estratégia” não é só mais uma embalagem bonita para táticas antigas? Entenda o risco do "strategy washing" e por que repensar a forma como construímos estratégia é essencial para navegar futuros possíveis com mais consciência e adaptabilidade.

Lilian Cruz, Cofundadora da Ambidestra

4 minutos min de leitura
Empreendedorismo, Inovação & estratégia
28 de agosto de 2025
Startups lideradas por mulheres estão mostrando que inovação não precisa ser complexa - precisa ser relevante. Já se perguntou: por que escutar as necessidades reais do mercado é o primeiro passo para empreender com impacto?

Ana Fontes - Empreendedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Tecnologia & inteligencia artificial
26 de agosto de 2025
Em um universo do trabalho regido pela tecnologia de ponta, gestores e colaboradores vão obrigatoriamente colocar na dianteira das avaliações as habilidades humanas, uma vez que as tarefas técnicas estarão cada vez mais automatizadas; portanto, comunicação, criatividade, pensamento crítico, persuasão, escuta ativa e curiosidade são exemplos desse rol de conceitos considerados essenciais nesse início de século.

Ivan Cruz, cofundador da Mereo, HR Tech

4 minutos min de leitura
Inovação
25 de agosto de 2025
A importância de entender como o design estratégico, apoiado por políticas públicas e gestão moderna, impulsiona o valor real das empresas e a competitividade de nações como China e Brasil.

Rodrigo Magnago

9 min de leitura
Cultura organizacional, ESG, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
25 de agosto de 2025
Assédio é sintoma. Cultura é causa. Como ambientes de trabalho ainda normalizam comportamentos abusivos - e por que RHs, líderes e áreas jurídicas precisam deixar a neutralidade de lado e assumir o papel de agentes de transformação. Respeito não pode ser negociável!

Viviane Gago, Facilitadora em desenvolvimento humano

5 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Estratégia, Inovação & estratégia, Tecnologia e inovação
22 de agosto de 2025
Em tempos de alta complexidade, líderes precisam de mais do que planos lineares - precisam de mapas adaptativos. Conheça o framework AIMS, ferramenta prática para navegar ambientes incertos e promover mudanças sustentáveis sem sufocar a emergência dos sistemas humanos.

Manoel Pimentel - Chief Scientific Officer na The Cynefin Co. Brazil

8 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança