Empreendedorismo

Proteção combina com inovação?

Assunto por vezes ignorado por quem empreende, o registro de patentes e da propriedade intelectual pode impulsionar a inovação e o crescimento de PMEs
É editora de conteúdos customizados em HSM Management e MIT Sloan Review Brasil.

Compartilhar:

Na atual era da informação, caracterizada pelo fácil acesso à tecnologia e pela economia do saber, o conhecimento é o ativo mais importante do que o capital e o trabalho, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). Keith Bradley, historiador e professor da Oxford University, afirma que, no mundo contemporâneo, a mais importante fonte de riqueza é o capital intelectual, e que tornar este capital tangível traz retornos benéficos para empresas e países, proporcionando crescimento econômico.

Em uma economia marcada por informalidades, como a brasileira, o registro do capital intelectual ainda não é uma prática amplamente difundida e discutida nos fóruns de empreendedorismo. Mas deveria ser, segundo Jussiane Siqueira, consultora de propriedade intelectual, fundadora da Inomapi Inovação em Propriedade Intelectual. “A propriedade intelectual é o único instrumento legal adequado à proteção desse patrimônio, que é o capital intelectual, pois permite a comercialização de produtos ou serviços por meio de concorrência justa e segura”, ressalta a especialista.

Dentre os benefícios desta prática, ela destaca a proteção à identidade e imagem da empresa e assegurando direitos sobre as criações e invenções, evitando que a marca seja alvo de imitações, por exemplo. Para aprofundar a discussão sobre o assunto, __HSM Management__ entrevistou Siqueira, que, além de consultora de propriedade intelectual, também atua com inovação aberta, sendo credenciada Sebrae Nacional, parceira InovaBra e AbFintechs, é fundadora dos grupos Dicas Editais, onde faz a curadoria de editais de inovação, grandes empresas e conexões com investidores, além de participar de mais de cem grupos empresariais em todo o Brasil entre eles o Catalisa Hub, Confraria do Empreendedor, Angels Investor Club. Confira a entrevista a seguir.

### Qual é a importância da propriedade intelectual e seus devidos registros para as empresas?
É preciso que os empreendedores entendam que o registro de sua propriedade intelectual não é uma despesa e, sim, um investimento que impede problemas futuros como processos por uso indevido de marca, concorrência desleal, queda na confiabilidade devido a eventuais mudanças na marca, e perda de valor de mercado.

No momento de registrar a propriedade intelectual é preciso ter o entendimento de que registro de marcas pertence a uma categoria e o registro de patentes, a outra. Enquanto a marca pode ser definida como um conjunto de símbolos que identifica e torna a sua empresa única, a patente é um direito sobre uma invenção.

### Quais são os riscos aos quais o empreendedor pode estar sujeito quando não considera a importância do registro da propriedade intelectual produzida por sua empresa?
Em primeiro lugar ele corre o risco real – e acontece muito – de ser pirateado. Quando uma empresa começa a fazer o mínimo de sucesso, ela poderá ser vítima de pirataria. Falo isso com convicção porque lido com essas questões diariamente. Há, ainda, o risco de sua propriedade intelectual ser registrada por um concorrente. Nesse caso, o empreendedor perde o direito de uso da sua própria invenção ou marca, já que o detentor dos direitos de uso e comercialização de uma propriedade intelectual é aquele que registra primeiro junto ao INPI.

Uma terceira situação é você já estar usando algo que já existe, sem saber, que é protegido. Nesse caso, o empreendedor é obrigado a abrir mão daquela propriedade intelectual.

### Uma das principais críticas dos empreendedores aos governos no Brasil está relacionada à burocracia e à lentidão da máquina pública em atualizar as leis que conversem com a velocidade necessária para acompanhar a inovação promovida pelo setor privado. Em sua experiência de mais de duas décadas trabalhando com registro de marcas e patentes Brasil e exterior, como você avalia essa relação? O que mudou de lá pra cá?
O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) faz muitas verificações quando um pedido de registro de propriedade intelectual é analisado e, com isso, um registro de propriedade intelectual leva cerca de seis anos para a patente sair no Brasil, enquanto nos Estados Unidos, o tempo é de três anos. Realmente é muito demorado e burocrático, mas houve melhorias no processo de patentes.

Para o processo de registro de marcas, hoje contamos com o protocolo de Madrid, o que agilizou muito as aprovações que estão saindo em oito meses. Até pouco tempo atrás, o pedido de registro era feito de maneira física, com documentos enviados via Correios. Atualmente é aceito o envio por meio de formulários eletrônicos, o que agiliza muito o processo.

Outra medida que o INPI tomou foi a de ampliar a equipe, contratando mais pessoas para dar celeridade ao processo. Uma medida alternativa, comumente tomada por grandes empresas, é entrar com o pedido de registro patente em outro país. O valor, porém, é muito superior ao de abrir o processo aqui no Brasil.

### De que maneira o registro de marcas e patentes pode impactar na inovação a médio e longo prazo?
Quando se tem o registro de propriedade intelectual, se tem o direito de comercializar aquela propriedade, gerando renda para novas pesquisas por meio de licenciamento de patentes. Um exemplo é a expansão de uma marca por meio de franquias, um mercado em franca expansão. Se esse é um desejo do empreendedor, na documentação necessária para este processo, é preciso constar o registro de marca, que é um item obrigatório.

Outra situação que tenho visto de maneira recorrente é o uso da propriedade intelectual como ferramenta para internacionalização da marca ou empresa. Neste caso, o empreendedor formaliza parcerias licenciando sua patente ou fazendo contrato de uso de marca, ao invés de abrir empresa no exterior, já que o custo dessa operação é, muitas vezes, algo que inviabiliza que empresas brasileiras iniciem operações internacionais.

### Como a cultura de inovação, tão presente no cenário empreendedor, conversa com proteção de patentes e marcas? No momento em que vivemos uma intensificação da atuação das organizações de pessoas em ecossistemas, que é muito baseada na colaboração, e não na competição, esses dois assuntos não são antagônicos?
Não vejo como antagonismo, porque o registro da propriedade intelectual protege a sua empresa para que outra não a utilize de maneira indevida. Ao ter os registros, o empreendedor tem a possibilidade de autorizar outras pessoas e empresas a utilizarem sua propriedade intelectual enquanto protege sua empresa de possíveis fraudes e eventuais golpes em nome da sua empresa. A formalização traz essa tranquilidade.

Outro ponto importante ressaltar que é possível registrar uma propriedade com mais de um titular, ou seja, duas pessoas podem ser proprietárias de uma mesma propriedade intelectual.

*A comunidade Gestão PME é uma coprodução de HSM Management e Confraria do Empreendedor, com apoio de Meoo, o [serviço de carro](https://meoo.localiza.com/?utm_source=blog-hsm-comunidade&utm_medium=organico&utm_campaign=jussi-pp_localiza-meoo_topo_blog-hsm-comunidade_refarral_trafego_meoo-carro-inteligente_campanha_blog-hsh) por assinatura da Localiza.*

__CONFIRA TAMBÉM:__
– [O que aprender com o ecossistema de inovação de Florianópolis?](https://www.revistahsm.com.br/post/o-que-aprender-com-o-ecossistema-de-inovacao-de-florianopolis)
– [Não corra o risco de inovar tarde demais](https://www.revistahsm.com.br/post/nao-corra-o-risco-de-inovar-tarde-demais)

Compartilhar:

Artigos relacionados

Homo confusus no trabalho: Liderança, negociação e comunicação em tempos de incerteza

Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas – mas sim coragem para sustentar as perguntas certas.
Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Inovação & estratégia
27 de outubro de 2025
Programas corporativos de idiomas oferecem alto valor percebido com baixo custo real - uma estratégia inteligente que impulsiona engajamento, reduz turnover e acelera resultados.

Diogo Aguilar - Fundador e Diretor Executivo da Fluencypass

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Inovação & estratégia
25 de outubro de 2025
Em empresas de capital intensivo, inovar exige mais do que orçamento - exige uma cultura que valorize a ambidestria e desafie o culto ao curto prazo.

Atila Persici Filho e Tabatha Fonseca

17 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
24 de outubro de 2025
Grandes ideias não falham por falta de potencial - falham por falta de método. Inovar é transformar o acaso em oportunidade com observação, ação e escala.

Priscila Alcântara e Diego Souza

6 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
23 de outubro de 2025
Alta performance não nasce do excesso - nasce do equilíbrio entre metas desafiadoras e respeito à saúde de quem entrega os resultados.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional.

4 minutos min de leitura
Uncategorized
22 de outubro de 2025
No setor de telecom, crescer sozinho tem limite - o futuro está nas parcerias que respeitam o legado e ampliam o potencial dos empreendedores locais.

Ana Flavia Martins - Diretora executiva de franquias da Algar

4 minutos min de leitura
Marketing & growth
21 de outubro de 2025
O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

5 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
20 de outubro de 2025
Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.

Marília Tosetto - Diretora de Talent Management na Blip

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
15 de outubro de 2025
Cuidar da saúde mental virou pauta urgente - nas empresas, nas escolas, nas nossas casas. Em um mundo acelerado e hiperexposto, desacelerar virou ato de coragem.

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)