Em uma sociedade cada vez mais orientada por performance, números e entregas, talvez a expressão mais subestimada nos ambientes de decisão seja justamente a que mais transforma: engajamento emocional.
Sim, aquele afeto. No trabalho, nas relações, nas lideranças, nas entregas. Não o romântico ou idealizado, mas aquele como prática intencional de reconhecimento, vínculo, generosidade e presença. A empatia que se manifesta em escuta verdadeira, em cuidado com o outro, em construção de confiança. O afeto como um valor organizacional, como um diferencial competitivo, e, por que não dizer, como um ativo com retorno. Porque sim, as relações humanas também têm ROI (Retorno sobre o Investimento).
A lógica invertida: mais conexão, mais resultado
É contraintuitivo pensar nisso no ritmo que vivemos. O tempo todo somos impulsionados a otimizar, automatizar, acelerar. É fácil esquecer que somos, antes de tudo, humanos. E que as emoções são as engrenagens invisíveis da produtividade.
Estudos da Universidade de Oxford revelam que colaboradores que se sentem cuidados e valorizados são, em média, 13% mais produtivos. Já a Gallup mostra que o senso de pertencimento no ambiente profissional aumenta em 27% a satisfação com o trabalho. A Deloitte vai além: aponta o pertencimento como o principal impulsionador do bem-estar no trabalho, acima até da remuneração. Ou seja: vínculo gera valor. Conexão gera entrega. Afeto, no sentido mais ético, estratégico e humano, move pessoas.
Quanto mais digital, mais afetivo precisamos ser. Nos tornamos digitais, mas não deixamos de ser emocionais. O avanço da tecnologia tem permitido eficiência, mas tem empobrecido os encontros. E se os processos estão cada vez mais autônomos, os vínculos estão cada vez mais frágeis.
A pressa, a objetividade extrema, a cultura do pitch e da visibilidade sem profundidade estão criando ambientes produtivos, porém afetivamente anêmicos. E essa carência tem custo: burnout, desengajamento, turnover, baixa criatividade, lideranças solitárias.
O relacionamento como diferencial competitivo
Há empresas que já entenderam que o afeto não é oposto à estratégia. Pelo contrário: ele pode contribuir para a sustentabilidade da estratégia, e que reduz a rotatividade, fortalece a cultura, atrai e retém talentos, inspira inovação de dentro para fora.
Em ambientes onde há cuidado intencional e inteligência relacional as pessoas entregam mais porque se sentem seguras; as conversas difíceis acontecem com respeito; os erros viram aprendizado e não punição; e as equipes atuam como tribos, não como departamentos. Esse é o retorno silencioso que o afeto bem posicionado gera.
Mas como cultivar a empatia como cultura
Não se trata de slogans nem de frases de efeito, tampouco de algo subjetivo ou alternativo. Trata-se de ações cotidianas e consistentes, como:
● Reconhecer com frequência e autenticidade;
● Praticar a escuta como quem realmente se importa;
● Criar rituais de conexão emocional e celebração;
● Valorizar a pessoa antes da função;
● Permitir a vulnerabilidade como parte da força;
● Liderar com presença e não apenas com processos.
Lugares que cultivam relações emocionais, no sentido da empatia, do acolhimento e do respeito, prosperam com mais saúde e permanência.
Relacionamento é estratégia
A empatia tem ROI porque ele melhora a qualidade da entrega, aprofunda a responsabilidade coletiva, fortalece o pertencimento e gera uma cultura que atrai.
Não é só sentimento, é infraestrutura humana. É ativo invisível que decide o jogo, e que, uma vez bem cultivado, retorna em forma de confiança, inovação, retenção, reputação e resultados.
Em tempos de alta tecnologia, o que nos diferencia não é a velocidade. É a capacidade de tocar o outro com verdade.
Porque no fim, é simples: quem se sente amado, ama mais. Quem ama mais, realiza mais. E quem realiza com cuidado, transforma mais.