Cultura organizacional

Scrum: resultados concretos ou mais uma “metodologia da moda”?

A implementação do Scrum mexe com a cultura, os valores e as crenças da organização. É preciso ter coragem para internalizar os valores da metodologia: estar aberto a lideranças rotativas, valorização dos talentos, quebra de silos de informação, flexibilidade e mais compartilhamento do conhecimento.
Gerente de Projetos Fiscais e Tributários na Rimini Street América Latina. Tem mais de 20 anos de experiência em implementação e gestão de projetos e é certificada pela Scrum Alliance como Scrum Master.

Compartilhar:

O estudo das metodologias ágeis – incluindo o [scrum](https://sgndrp.live/click?redirect=https%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FScrum_(desenvolvimento_de_software)&dID=1600108692697&linkName=%20scrum) – já é bastante conhecido no mundo da tecnologia, especialmente no desenvolvimento de software. Como engloba um conjunto muito amplo de valores, princípios e práticas, o interesse pela adoção da cultura ágil foi ganhando espaço e se expandiu por todas as áreas corporativas, em companhias dos mais diversos setores, com a promessa de entregas mais rápidas e eficientes, transparência nas etapas de planejamento e execução, engajamento das equipes, dentre outras benesses. A literatura sobre scrum e metodologias ágeis é bastante extensa para quem quer se embrenhar nesse mundo onde, na teoria, tudo parece perfeito.

Para se ter uma ideia de como o scrum e as metodologias ágeis poderiam ser úteis no âmbito dos negócios, de acordo com o [Standish Group](https://sgndrp.live/click?redirect=https%3A%2F%2Fwww.standishgroup.com%2F&dID=1600108692697&linkName=%20Standish%20Group), apenas 29% dos projetos de TI são concluídos com êxito. O [Gartner](https://sgndrp.live/click?redirect=https%3A%2F%2Fwww.gartner.com%2Fen&dID=1600108692697&linkName=%20Gartner) reforça essa problemática, apontando que 70% dos projetos falham no cumprimento de cronograma, custos e metas de qualidade, e 50% são executados acima do orçamento.

Portanto, adotar metodologias ágeis seria a solução perfeita, certo? Errado! Digo isso porque o scrum e as metodologias ágeis mexem com a cultura, os valores e as crenças da organização. E transformação cultural não é algo que se faça da noite para o dia, exigindo muita disposição, quebra de paradigmas e o entendimento de que, para funcionar de fato, o scrum vai alterar estruturas de “poder” e hierarquia dentro da empresa. É por isso que o scrum tem uma grande aderência ao mundo das startups, que já nascem sem as amarras e os processos engessados que existem em muitas grandes empresas tradicionais.  

## A jornada: saindo das metodologias tradicionais e partindo para as ágeis 

Comecei a trilhar o caminho do scrum em 2016, na Rimini Street, quando vi um dos líderes globais da companhia apresentando o tema nos EUA. Quis então entender como poderíamos implementar essa metodologia de modo mais concreto – e já de imediato – no Brasil. Esses contatos iniciais com o scrum foram nos mostrando como as metodologias usadas até então poderiam ser aprimoradas para responder aos desafios da realidade do mercado brasileiro com ainda mais agilidade e assertividade, sobretudo em projetos de adequação e conformidade fiscal. 

O fato de os clientes do Brasil terem que lidar com nossa gigantesca complexidade tributária desafiou a equipe de profissionais brasileiros da Rimini Street a ser proativa na busca por soluções inovadoras para as dores do mercado, colocando o país em uma posição de protagonismo na defesa e posterior adoção do scrum, pois realmente precisávamos de mais liberdade, criatividade, autonomia e flexibilidade na resolução de problemas. 

A proposta foi dando certo e se consolidando, até que, em 2018, me tornei evangelista de metodologias ágeis na Rimini Street, com a operação Brasil “exportando” a todos os outros mercados a mentalidade que estávamos adotando por aqui. 

## Scrum na prática 

Desde que trouxemos para a Rimini Street a iniciativa de adotarmos o scrum em nossos serviços, começamos a estabelecer reuniões diárias com as equipes de projetos da operação brasileira, em que todos os envolvidos tinham espaço para falar sobre as tarefas em andamento. Isso imediatamente deu a sensação aos colaboradores de que todos seriam ouvidos. O foco das reuniões era que cada um contasse o que havia feito no dia anterior, o que deveria fazer naquele dia corrente e se, para isso, precisava de ajuda. Criou-se então um [ambiente realmente colaborativo](https://revistahsm.com.br/post/como-a-cultura-corporativa-e-criada), em que todos podiam contribuir e compartilhar sua visão, experiência e conhecimento.

Dessa forma, as lideranças passaram a se tornar rotativas por projeto, com competências diversas e complementares sendo expostas a partir das experiências únicas de cada colaborador. O poder do gerente e a hierarquia se dissolvem no contexto dessa nova forma de trabalho, mas ganha-se muito em cooperação, produtividade e eficiência, ao mesmo tempo em que os talentos são valorizados, e não abafados como pode acontecer em empresas com culturas de poder mais rígidas. 

Os clientes brasileiros e a equipe de profissionais da Rimini Street no Brasil passaram a sentir as diferenças entre as metodologias tradicionais e as ágeis, sobretudo no tempo levado para a conclusão dos projetos. Todos passaram a se envolver no dia a dia das atividades em andamento, contribuindo para que os testes e as correções de rota fossem implementados com mais dinamismo e rapidez. A resolução de problemas ganhou em [agilidade](https://revistahsm.com.br/post/cultura-agil-e-desafios-comportamentais) e transparência. Mantivemos a qualidade dos serviços prestados, porém de maneira muito mais ágil e com escala, à medida que conquistávamos mais clientes.

## Scrum reflete realidade atual, e não o passado 

Uma das grandes diferenças do scrum em relação às metodologias tradicionais de trabalho é a capacidade de refletir o momento atual, a vida como ela é, com seus conflitos e imprevistos. Em projetos tradicionais, os gerentes passam muito tempo planejando e definindo cronogramas em planilhas e apresentações em Powerpoint que raramente refletem a realidade. As metodologias tradicionais estão sempre atrasadas e defasadas em relação ao que está acontecendo na vida prática. Gasta-se um longo tempo planejando e então, na hora de executar o plano, os desafios já são outros e todo o tempo e trabalho empregados foram simplesmente desperdiçados.

No scrum, temos liberdade e flexibilidade para planejar até – no máximo – onde se pode enxergar. Planejar além disso é improdutivo, pois perde-se a noção da realidade e dos imprevistos que podem acontecer. A ideia é partir para a execução e realizar testes o mais rapidamente possível, para validar o que está no caminho certo e o que tem que ser revisto e alterado. Na Rimini Street, realizamos sprints (ciclos curtos de desenvolvimento) e já observamos os resultados, ajustando o curso se necessário. Também compartilhamos informações que aprendemos no processo com os clientes: um exemplo são webinars que realizamos, por projeto, para informar aos clientes o que iremos entregar e receber seus feedbacks. 

## O scrum foi feito para ser simples 

O mais interessante dessa metodologia é que ela prioriza a simplicidade e a flexibilidade para que cada companhia encontre seu próprio modelo. Sob essa ótica, as interações e as formas de colaboração entre as pessoas que integram um projeto são mais importantes do que as formalidades corporativas e a hierarquia, como dissemos anteriormente. A empresa que almeja aderir ao scrum em busca de mais eficiência e sucesso nos projetos tem que estar pronta para essa cultura de compartilhamento do conhecimento e do poder. 

Eu te convido a desbravar o mundo do scrum e se apaixonar por ele, assim como aconteceu comigo há alguns anos. Você e a sua empresa, certamente, não vão mais querer olhar para trás.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Homo confusus no trabalho: Liderança, negociação e comunicação em tempos de incerteza

Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas – mas sim coragem para sustentar as perguntas certas.
Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Liderança
5 de novembro de 2025
Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas - mas sim coragem para sustentar as perguntas certas. Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Angelina Bejgrowicz - Fundadora e CEO da AB – Global Connections

12 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
4 de novembro de 2025

Tatiana Pimenta - Fundadora e CEO da Vittude

3 minutos min de leitura
Liderança
3 de novembro de 2025
Em um mundo cada vez mais automatizado, liderar com empatia, propósito e presença é o diferencial que transforma equipes, fortalece culturas e impulsiona resultados sustentáveis.

Carlos Alberto Matrone - Consultor de Projetos e Autor

7 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
1º de novembro de 2025
Aqueles que ignoram os “Agentes de IA” podem descobrir em breve que não foram passivos demais, só despreparados demais.

Atila Persici Filho - COO da Bolder

8 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
31 de outubro de 2025
Entenda como ataques silenciosos, como o ‘data poisoning’, podem comprometer sistemas de IA com apenas alguns dados contaminados - e por que a governança tecnológica precisa estar no centro das decisões de negócios.

Rodrigo Pereira - CEO da A3Data

6 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
30 de ouutubro de 2025
Abandonando o papel de “caçador de bugs” e se tornando um “arquiteto de testes”: o teste como uma função estratégica que molda o futuro do software

Eric Araújo - QA Engineer do CESAR

7 minutos min de leitura
Liderança
29 de outubro de 2025
O futuro da liderança não está no controle, mas na coragem de se autoconhecer - porque liderar os outros começa por liderar a si mesmo.

José Ricardo Claro Miranda - Diretor de Operações da Paschoalotto

2 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
28 de outubro 2025
A verdadeira virada digital não começa com tecnologia, mas com a coragem de abandonar velhos modelos mentais e repensar o papel das empresas como orquestradoras de ecossistemas.

Lilian Cruz - Fundadora da Zero Gravity Thinking

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
27 de outubro de 2025
Programas corporativos de idiomas oferecem alto valor percebido com baixo custo real - uma estratégia inteligente que impulsiona engajamento, reduz turnover e acelera resultados.

Diogo Aguilar - Fundador e Diretor Executivo da Fluencypass

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Inovação & estratégia
25 de outubro de 2025
Em empresas de capital intensivo, inovar exige mais do que orçamento - exige uma cultura que valorize a ambidestria e desafie o culto ao curto prazo.

Atila Persici Filho e Tabatha Fonseca

17 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)