Acho que você já percebeu que a era da Inteligência Artificial Agentiva, aquelas IAs com autonomia para decidir e agir sem ficar pedindo permissão, já não é ficção científica. Se você acha que basta fingir que “não viu” essas conversinhas sobre AutoGPT e IA multissistemas, cuidado: enquanto alguns ainda tomam café, seus concorrentes podem estar contratando um exército de bots para tomar decisões 24/7.
Este é um convite provocador (com um toque de ironia) para acordar para o que já está acontecendo. Afinal, e se você não for substituído pela IA, mas por alguém que a usa melhor do que você? Com pitadas de crítica e insight de vozes como Demis Hassabis (o guru da DeepMind e Nobel 2024), vamos destrinchar como essa revolução funciona e, principalmente, o que fazer enquanto ela já bate à porta.
Agentes de silicone: o que são e por que incomodam
Antes de tudo, vale uma breve distinção:
- Agentes de IA são aplicações de IA criadas para executar tarefas específicas com certo grau de autonomia, muitas vezes integrando diferentes ferramentas e serviços para alcançar um objetivo.
- Já a IA Agentiva se refere ao princípio mais amplo da autonomia em sistemas de IA, a capacidade de um sistema perceber, planejar e agir intencionalmente em direção a um propósito, com mínima ou nenhuma intervenção humana.
Ou seja, AI Agents são expressões práticas do conceito de Agentic AI.
Chamamos de Agentic AI (IA agentiva) sistemas que não dependem de você a cada passo. Eles percebem o ambiente, planejam objetivos e agem autonomamente, aprendendo e se adaptando conforme ganham experiência. Em outras palavras, um agente de IA é um “funcionário” artificial capaz de executar fluxos de trabalho inteiros sem supervisão humana contínua. Enquanto um ChatGPT tradicional espera seu prompt para responder, um AutoGPT, BabyAGI ou IA multiagente pode dividir uma grande tarefa em etapas, buscar dados atualizados na internet, interagir com sistemas e até reescrever o próprio código, tudo de forma autônoma.
Essa liberdade toda explica por que analistas já batizaram Agentic AI de trend estratégica para 2025. A Gartner sugere que os líderes de TI entendam as oportunidades e riscos dessa onda antes de ser tarde. Não é paranoia: é previsão de um mundo em que o “empregado perfeito” pode ter 1s e 0s de código na carteira. Em vez de contratar um jovem gênio para turbinar sua área, o rival esperto contrata aquele script que faz a mesma coisa em fração do tempo. E, pior, esse script nem tira férias, nem fica gripado.
Então, caros leitores, a primeira pergunta provocativa: quem é o verdadeiro chefe da empresa quando metade dos colaboradores vira algoritmo? Se isso soa dramático demais, reveja sua agenda: talvez você já esteja trocando e-mails com uma IA disfarçada de colega de trabalho.
“Você não será substituído pela IA, mas por alguém que a usa”
Essa frase viral é repetida em palestras motivacionais e posts de LinkedIn como um mantra instigante. Há algo de metáfora nela: quem se recusar a aprender a usar IA provavelmente será superado por quem aprende. Não é negacionismo, é dar nome ao fenômeno da competitividade aumentada pela tecnologia. Uma startup enxuta pode deixar obsoleta uma corporação inchada se ela souber explorar agentes autônomos primeiro.
Mas cuidado com truques fáceis: a frase não explica como ou quando isso ocorre. A realidade é que nem sempre o robô vai “meter alguém na mala” direto, às vezes, ele vai apenas permitir que outra pessoa faça o seu trabalho com muito mais rapidez. Pense em um analista que usa uma ferramenta de IA para compilar relatórios em 10 minutos: o concorrente que insiste no trabalho manual em 10 horas já saiu perdendo a corrida. Substituição aqui pode significar demissão direta ou apenas ser ultrapassado nos resultados e deixar o cargo de liderança para trás.
Podemos brincar: numa corrida de caminhada versus carro, ficar a pé não é exatamente uma opção se você quer chegar na frente. Assim, o grande desafio é decidir como equipar seu time com carros (ou até foguetes) tecnológicos, sem ficar olhando para trás.
Criatividade autômata: amenizando o drama (por enquanto)
Calma, defensores da arte humana: nem tudo é apocalipse cultural. Demis Hassabis, que recebeu o Nobel de Química por criar a IA AlphaFold, oferece uma visão mais matizada sobre criatividade artificial. Ele classifica três níveis de “criatividade” de IA: do nível 1, “gato comum” (a IA só mistura imagens ou ideias existentes), passando pelo nível 2, “momento AlphaGo” (movimentos inesperados que surpreendem até os especialistas), até o nível 3, “inventor supremo” (onde a IA cria jogos ou conceitos inteiramente novos). Segundo Hassabis, estamos por enquanto entre os níveis 1 e 2, ou seja, não se preocupem tanto, artistas: seus empregos estão seguros (por enquanto).
Mas atenção à ironia sutil: ele diz “por enquanto” por um motivo. Hoje as IAs já compõem músicas, escrevem textos e fazem protótipos, ainda que não sejam verdadeiros gênios originais, são ferramentas formidáveis para criadores. Hassabis mesmo aponta que muitas grandes questões humanas (doenças mortais, crise climática, etc), serão atacadas por soluções de IA. Em entrevista, ele festejou que “muitos dos maiores problemas que enfrentamos hoje, seja clima ou doença, serão ajudados por soluções de IA”. Traduzindo: AI não é apenas usurpadora de tarefas chatas, pode ser aliada de projetos visionários.
Para o quem é esperto, isso significa pensar na IA como colaboradora criativa. Se você consegue dar uma meta ambiciosa (ex: reduzir custos de P&D em 50% ou personalizar atendimento em massa) e oferece à IA ferramentas para experimentar e aprender, os resultados podem surpreender. O toque de sarcasmo: ainda que o robô não tome café, ele pode ter insights que nenhum colega humano conseguiria no happy hour.
Por onde começar: C-Level + IA Agentiva
Chega de teoria: como os executivos devem reagir? Algumas pistas:
- Educação acelerada: monte trilhas internas de IA para líderes. Prompt design, leitura de agentes, decisões automatizadas. Aprender virou ato de sobrevivência.
- Cultura de experimentação: pilotos rápidos, com ciclos de aprendizado visíveis. Teste em áreas como marketing, atendimento, RH e compliance. Mostre ROI (ou aprenda com o erro) em semanas.
- Reconfiguração de funções: não tenha medo de reescrever descrições de cargo. Profissionais com copilotos de IA devem entregar mais e líderes precisam mensurar esse novo patamar de produtividade.
- Governança ética e estratégica: monte um comitê de IA (mesmo informal) para definir diretrizes de uso, transparência e responsabilidade. A confiança será o novo petróleo.
- Visão ampliada: repense seu modelo de negócio com base no que poderia ser feito com IA e não apenas no que já é feito. A próxima disrupção pode vir de alguém que colocou um agente no lugar certo, na hora certa.
Perguntas que você deveria se fazer agora
- Você prefere ser o capitão do seu navio (com suporte automático) ou remar com um remo de madeira enquanto outro capitão pilota um iate autônomo?
- O que mais pesa na sua gestão: dados em tempo real ou ego desatualizado?
- Sua empresa tem um “plano IA” ou só espera que os consultores imprimam um relatório bonito na mesa?
Se qualquer uma dessas perguntas incomodou… ótimo! Sinal de que estamos no caminho certo.
Conclusão: ou você comanda a IA – ou será comandado por ela
Se você ainda acredita que “isso tudo está longe da minha realidade”, talvez seja hora de rever quem está de fato pilotando a transformação na sua empresa. O futuro do trabalho não bate mais à porta, ele já entrou, ligou o computador e está organizando a próxima reunião com seus clientes (e talvez sem você).
Não se trata de distopia, mas de responsabilidade. Responsabilidade de liderar com visão, estratégia e senso de urgência. Porque na próxima reviravolta, ou você comanda a IA ou será comandado por ela.
Vamos ampliar essa conversa? Compartilhe o artigo, provoque seu time, desafie sua liderança. Porque refletir não basta, é preciso agir.
E você, já conversou com uma IA hoje?
Sua empresa já está testando agentes autônomos? Você já lidera times que incluem IAs em seus fluxos? Ou ainda está esperando alguém te contar como isso funciona?
Já parou para pensar como a sua organização está se preparando – ou pode se preparar – para a convivência (ou concorrência) com agentes inteligentes? Que dilemas, dúvidas ou descobertas têm surgido nesse processo?
É urgente refletir e debater sobre como liderar na Era das IAs que pensam, agem e talvez também queiram sua vaga na próxima reunião estratégica. Porque ignorar esse movimento não é prudência, é abdicação.
Referências:
Agentic AI: What it is and why it matters – IBM, março de 2024.
https://www.ibm.com/topics/agentic-ai
Top Strategic Technology Trends for 2025 – Gartner, outubro de 2024.
https://www.gartner.com/en/articles/top-technology-trends-2025
AI Agents Explained – DataCamp, janeiro de 2025.
https://www.datacamp.com/blog/ai-agents
Demis Hassabis: AI’s future and AlphaFold’s impact – MIT Technology Review, maio de 2024.
https://www.technologyreview.com/2024/05/08/1092183/google-deepminds-new-alphafold-can-model-a-much-larger-slice-of-biological-life/
What is Agentic AI and how can enterprises use it? – TechTarget / SearchEnterpriseAI, abril de 2025.
https://www.techtarget.com/searchenterpriseai/definition/agentic-AI
How People Are Really Using Gen AI in 2025 – Harvard Business Review, abril de 2025.
https://hbr.org/2025/04/how-people-are-really-using-gen-ai-in-2025
UiPath CEO Daniel Dines on AI agents replacing our jobs – The Verge, abril de 2025.
https://www.theverge.com/decoder-podcast-with-nilay-patel/643562/uipath-ceo-daniel-dines-interview-ai-agents-rpa
What Is an AI Agent? – Andreessen Horowitz (a16z), abril de 2025.
https://a16z.com/podcast/what-is-an-ai-agent/




