Sustentabilidade

Tecnologia Sob Medida

Para especialistas, a combinação criativa e inovadora que cada empresa fará das tecnologias lhe permitirá elevar sua execução de estratégia a um novo patamar

Compartilhar:

A tecnologia é uma das “culpadas” do aumento das pressões dos stakeholders. Isso porque os avanços tecnológicos das últimas duas décadas democratizaram o acesso de todas as pessoas às informações e ampliaram a exposição das empresas de modo jamais visto antes, queiram estas ou não.

De fato, os desenvolvimentos tecnológicos em ciclos cada vez mais curtos e a custos decrescentes constituem uma das megatendências que a consultoria PwC identificou em suas projeções para o ambiente de negócios de 2030 e são descritos como uma das forças mais disruptivas para as organizações, conferindo-lhes, por isso, maior instabilidade.

O lado positivo é que também as tecnologias, além de vilãs, podem ser salvadoras. Nas mãos dos funcionários, elas podem ajudar as empresas a se relacionar com seus stakeholders – os clientes em especial – e lhes dar maior previsibilidade em um ambiente de incertezas. Ambas as coisas levam a uma execução estratégica mais eficaz. Porém… de que tecnologias estamos falando? 

REVOLUÇÃO DIGITAL 

O apoio à capacidade de executar a estratégia depende, em um primeiro momento, de tecnologias mais acessíveis e conhecidas de todos nós: as digitais, em especial as ligadas à internet. Para Douglas Woods, sócio da consultoria BCG, é preciso entender que o grande fator impulsionador das pressões dos stakeholders é a mudança demográfica, que transforma a tecnologia em uma ferramenta de apoio crucial para a execução. Para Woods, a diferente visão de mundo dos mais jovens, aliada a maior facilidade de lidar com a tecnologia, é o que gera uma crise de desconfiança em massa nas empresas – e essa desconfiança, por sua vez, sabota sua capacidade de execução. 

“Os jovens em geral são mais céticos em relação a tudo o que é corporativo; recorrem muito mais às opiniões de seus pares para tomar decisões relativas às empresas”, diz Woods. De fato, antes de adquirir um produto ou experimentar um serviço, eles consultam quem já é seu usuário e também são mais preocupados com o impacto de uma organização nas comunidades e no meio ambiente. E, é claro, fazem isso por meio das mídias sociais. 

Entre os stakeholders jovens que colocam as companhias contra a parede, não estão só os consumidores. A mudança de geração também está transformando os funcionários e suas relações com os empregadores. “Esse grupo está chegando ao mercado de trabalho com valores bem diferentes. Eles não pretendem ficar muitos anos em uma mesma organização e buscam maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Não querem passar tantas horas em uma empresa em detrimento de sua satisfação pessoal”, lembra Woods. 

Se as tecnologias sociais respondem por parte significativa do problema, contudo, também arcam com parte significativa da solução. Ricardo Neves, sócio da PwC Brasil, destaca o social hearing – o monitoramento das mídias sociais – como uma das medidas prioritárias para a execução nesse ambiente pressionado por stakeholders, uma vez que permite que as empresa saibam o que se passa na cabeça das pessoas, sejam elas seus clientes ou outros grupos de interesse. 

Segundo Neves, hoje é obrigatório conhecer o que os stakeholders falam ou sentem sobre a organização ou sobre algum aspecto do trabalho em sua cadeia produtiva. “As mídias sociais proporcionam esse conhecimento e dão às empresas condições de agir rapidamente sobre isso”, afirma o sócio da PwC. 

“As empresas precisam estar muito mais presentes nas mídias sociais”, concorda Woods. A medida-chave de uma companhia que quer executar mais inclui, assim, a mudança dos meios de comunicação com os consumidores, privilegiando as mídias sociais. 

O consultor do BCG também sugere mudar os porta-vozes da empresa na nova mídia. “Em vez de contratar celebridades, vale mais a pena criar uma rede de influenciadores que contem sua história de forma genuína.” Honestidade e credibilidade dos propósitos passam a ser cruciais. “Essa geração é muito mais esperta, cética quanto à publicidade tradicional”, diz Woods. 

E em relação a outros tipos de stakeholders, como as cadeias de fornecimento e as agências reguladoras? “Todos os stakeholders estão muito ligados, e não creio que a comunicação possa ser diferente com algum deles – ela passa pelas mídias sociais em todos os casos. Mesmo os acionistas que até há pouco tempo tinham foco apenas no resultado financeiro de suas empresas começam a exigir a transparência delas em questões sociais e ambientais”, analisa Woods. Também entre acionistas há jovens, afinal, e gente que navega nas mídias sociais. Essas pessoas são vistas, por exemplo, no crescente número de fundos de investimento com preocupação explícita no maior equilíbrio entre dinheiro, comunidade e meio ambiente 

Indo além das mídias sociais, as companhias tendem a se apoiar nas tecnologias digitais de modo mais amplo. “A transformação digital pode não só realinhar as relações das organizações com seus stakeholders, como ser o maior estímulo à inovação nas empresas”, diz Paula Bellizia, presidente da Microsoft Brasil. 

Sobre os stakeholders, a tecnologia permite ouvir todos eles – os clientes, os funcionários, os demais interessados –, como pontua Bellizia. E, dentro da empresa, é a tecnologia que pode promover a maior colaboração e comunicação, com grande potencial de aumentar a produtividade, a qualidade de vida e a motivação – dos mais jovens, inclusive. 

No que diz respeito a habilitar a inovação, Bellizia é taxativa: hoje não há outro caminho para as empresas a não ser inovar – “se você não fizer a disrupção de seu negócio, alguém fará”– e tecnologias são apoios fundamentais para isso. Segundo a CEO, tecnologias como data analytics, computação em nuvem e inteligência artificial vão mostrar-se cada vez mais cruciais na tomada de decisões de inovação. 

Mais importante: com a nuvem, não é mais preciso escolher uma única tecnologia que ajude na execução, pois a possibilidade de ter acesso a todas aumentou. “Esse é o salto que a nuvem promove. Ao proporcionar a queda do capital inicial necessário, permite a adoção bem mais rápida e flexível de tecnologias”, diz Bellizia.

De acordo com a executiva da Microsoft, o que vale é a combinação criativa e talvez única de tecnologias que cada companhia fará. “Com sistemas inteligentes, construídos na nuvem, cada empresa poderá desenhar novos modelos de negócio, lançar produtos, oferecer serviços personalizados e encantar os clientes.” 

CASOS REAIS 

CASOS REAIS Um exemplo básico de execução estratégica alavancada pela tecnologia são os clubes de futebol Palmeiras e Real Madrid, que usam CRM na nuvem para mapear comportamentos de compra de torcedores e, assim, aumentar a venda de ingressos para seus jogos. 

Mais sofisticado é o exemplo da tecnologia digital que habilita a criação de comunidades fechadas para ajudar a executar estratégias. Felipe Calixto, presidente da Sankhya, provedora de soluções de ERP, conta que a plataforma ERP da empresa foi aberta como uma comunidade. “Em vez de continuarmos a ser a única fornecedora de soluções para nosso ERP, criamos o Sankhya Place, comunidade aberta onde os clientes podem compartilhar as soluções que desenvolveram com quem possui demanda semelhante.” 

Resultado? Os clientes estão trocando modelos de relatórios, dashboard e conteúdos diversos, e agora a comunidade vem impulsionando desenvolvedores que criam soluções customizadas e as vendem ali. 

Tudo o que circula na comunidade apoia a execução – da Sankhya, que atraiu mais clientes conforme sua estratégia cresceu, e de seus clientes B2B, que ganharam mais recursos para executar.

Tecnologia faz diferença.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Até quando o benchmark é bom?

Inspirar ou limitar? O benchmark pode ser útil – até o momento em que te afasta da sua singularidade. Descubra quando olhar para fora deixa de fazer sentido.

“Womenomics”, a economia movida a equidade de gênero

Imersão de mais de 10 horas em São Paulo oferece conteúdo de alto nível, mentorias com especialistas, oportunidades de networking qualificado e ferramentas práticas para aplicação imediata para mulheres, acelerando oportunidades para um novo paradigma econômico

Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial está reconfigurando decisões empresariais e estruturas de poder. Sem governança estratégica, essa tecnologia pode colidir com os compromissos ambientais, sociais e éticos das organizações. Liderar com consciência é a nova fronteira da sustentabilidade corporativa.

Marcelo Murilo

7 min de leitura
ESG
Projeto de mentoria de inclusão tem colaborado com o desenvolvimento da carreira de pessoas com deficiência na Eurofarma

Carolina Ignarra

6 min de leitura
Saúde mental, Gestão de pessoas
Como as empresas podem usar inteligência artificial e dados para se enquadrar na NR-1, aproveitando o adiamento das punições para 2026
0 min de leitura
ESG
Construímos um universo de possibilidades. Mas a pergunta é: a vida humana está realmente melhor hoje do que 30 anos atrás? Enquanto brasileiros — e guardiões de um dos maiores biomas preservados do planeta — somos chamados a desafiar as retóricas de crescimento e consumo atuais. Se bem endereçados, tais desafios podem nos representar uma vantagem competitiva e um fôlego para o planeta

Filippe Moura

6 min de leitura
Carreira, Diversidade
Ninguém fala disso, mas muitos profissionais mais velhos estão discriminando a si mesmos com a tecnofobia. Eles precisam compreender que a revolução digital não é exclusividade dos jovens

Ricardo Pessoa

4 min de leitura
ESG
Entenda viagens de incentivo só funcionam quando deixam de ser prêmios e viram experiências únicas

Gian Farinelli

6 min de leitura
Liderança
Transições de liderança tem muito mais relação com a cultura e cultura organizacional do que apenas a referência da pessoa naquela função. Como estão estas questões na sua empresa?

Roberto Nascimento

6 min de leitura
Inovação
Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Átila Persici

6 min de leitura
Gestão de Pessoas
Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Rubens Pimentel

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
US$ 4,4 trilhões anuais. Esse é o prêmio para empresas que souberem integrar agentes de IA autônomos até 2030 (McKinsey). Mas o verdadeiro desafio não é a tecnologia – é reconstruir processos, culturas e lideranças para uma era onde máquinas tomam decisões.

Vitor Maciel

6 min de leitura