Inovação

Você gosta de novidade ou de mudança?

Mudar gera desconforto no sistema e é a base para a inovação, o intraempreendedorismo ou o empreendedorismo
Alexandre Waclawovsky, o Wacla, é um hacker sistêmico, especialista em solucionar problemas complexos, através de soluções criativas e não óbvias. Com 25 anos de experiência como intraempreendor em empresas multinacionais de bens de consumo, serviços e entretenimento, ocupou posições de liderança em marketing, vendas, mídia e inovação no Brasil e América Latina. Wacla é pioneiro na prática da modalidade Talento sob Demanda no Brasil, atuando como CMO, CRO e Partner as a Service em startups e empresas de médio porte, desde 2019. Atua também como professor convidado em instituições renomadas, como a Fundação Dom Cabral, FIAP e Miami Ad School, além de autor de dois livros: "Guide for Network Planning" e "invente o seu lado i – a arte de

Compartilhar:

À primeira vista, novidade e mudança parecem sinônimos, mas cuidado. Na verdade, as palavras tratam de estados mentais e de atitude frente ao desconforto completamente diferentes.

Ouvi recentemente essa analogia numa conversa com a Claudia Pires, fundadora e CEO da startup so+ma, ESGTech que busca criar novos comportamentos para ativar a economia circular por meio da reciclagem. Mudança e desconforto na veia para a construção de um contexto mais sustentável.

Acho difícil encontrar alguém que não goste de uma novidade. O novo desperta dispara um instinto natural de saber mais ou melhor sobre algo. Somos seres curiosos por natureza, em maior ou menor grau. E você pode testar esse comportamento de um jeito prático. Basta deixar um pacote de presente fechado em cima da sua mesa de trabalho e ao final do dia refletir sobre quantas pessoas perguntaram o que era ou se você não iria abrir.

A curiosidade alimenta a combinação do instinto mais primitivo, que reside no cérebro reptiliano, à busca pela aceitação social, que nos torna cientes e preparados para o que nos rodeia, além de integrados ao que é socialmente aceito.

Alguém que nunca praticou reciclagem, mas descobriu que é um ato socialmente bem-visto – ou seja, uma “moeda social” – terá curiosidade em aprender para poder compartilhar e sentir-se integrado ao grupo maior.

Mais exemplos de moedas sociais advindas da curiosidade? Descobrir e compartilhar um restaurante novo ou uma série do Netflix ou praticar um esporte novo  –  o beach tennis é um ótimo exemplo. Você pode até não ser fã, mas é socialmente importante entender para poder falar sobre.

Repare: a novidade é algo que traz uma sensação de conforto, pertencimento e satisfação.

Agora, vamos examinar o significado da mudança usando a imagem que ilustra esse artigo: uma lagarta vive às vezes até por um ano; até que, um certo dia, escala uma árvore e tece um casulo. Nele, durante um período que pode ser de uma semana a um mês, ela se transforma completamente e eclode voando como uma borboleta.

Cada lagarta passa por um período de transformação repleto de sofrimento e incerteza. E mais, deixa de pertencer a um mundo conhecido para, literalmente, sair voando rumo a uma nova realidade.

Mudança, portanto, implica em desconforto e uma sensação de falta de pertencimento inicial.

Não consigo lembrar de alguma mudança que se iniciou e terminou com o mesmo cenário. O covid-19, que foi algo que impactou a todos de alguma maneira, nos fez mudar. Basta refletir sobre seus hábitos e comportamentos antes e depois da pandemia.

Se antes o trabalho remoto era quase uma utopia em grandes empresas, atualmente é uma realidade. Houve desconforto nesse processo? Sim, e muito. A relação das pessoas com o emprego deu um grande salto e não importa se foi para melhor ou pior.

Fato é que mudou e por mais que algumas empresas insistam em seguir aplicando metodologias de gestão oriundas da era industrial, como o controle de presença e frequência, isso será cada vez menos aceito.

Mudanças não acontecem do dia para a noite. Elas têm seu período de maturação e uma curva de adoção, como Geoffrey A. Moore, descreve em seu livro *Crossing the Chasm*.

![grafico2 (1)](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/32eyDbKJ2t3yZhqMRCgMXw/6461b317f3a6f89b8a08442a8bb504db/grafico2__1_.png)

Menos de 3% das pessoas, segundo o autor, têm apetite pela mudança ou tolerância ao desconforto. Esse pequeno grupo adota novos comportamentos ou tecnologias sem o receio de ser julgado(a).

E para fortalecer essa dificuldade em adotar comportamentos de mudança, proponho uma outra analogia: a da vacina do covid. Em 2020, sabíamos que o mundo estava vivendo uma pandemia, com riscos de saúde altos. Nossa sensação de medo estava muito latente, assim como a ansiedade por uma vacina que nos trouxesse conforto e segurança.

Agora pergunto: se a OMS (Organização Mundial de Saúde) escolhesse você, oferecendo a oportunidade para ser uma das primeiras pessoas no mundo para tomar a primeira vacina experimental criada. Você tomaria?

Repare, que convidei você para uma reflexão real e cheia de desconforto, incerteza, muitas perguntas e poucas ou nenhuma resposta. Hoje, tomar a vacina é confortável – afinal a maioria já tomou – mas repare que mesmo assim existiu o receio de tomar marca X ou Y devido a “possíveis” efeitos colaterais.

Jamais nos sentiremos preparados para fazer algo que nos assusta ou que gera desconforto. Nosso cérebro foi educado a nos proteger de perigos, mesmo que existam apenas na nossa imaginação.

Expressamos nossa curiosidade, com frequência, ao demonstrar nosso apetite por novidades, pelo aprender, discutir novas ideias e projetos, falar sobre potenciais evoluções e transformações ou mesmo ao analisar nossos concorrentes e startups.

A novidade nos preenche, nos informa e ajuda a termos mais moedas de troca social e de negócios. Vamos aos eventos em busca de inspiração, sedentos e sedentas por sermos abastecidos de mais informações.

Agora, onde se manifesta a mudança nos comportamentos acima?

Convido você a fazer essa reflexão sobre nossos comportamentos e atitudes no mundo dos negócios ou empresas. Não importa seu cargo, posição ou tempo de experiência, mas sim que você faz parte de uma organização, junto com outras pessoas.

Para mim, a resposta é: a mudança não se manifesta quando buscamos a inspiração, mas apenas pela transpiração, ou seja, quando assumimos algum risco prático de transformar intenção em ação.

Encontraremos a mudança sempre nas ações práticas, que geram algum desconforto no sistema e essa é a base para a inovação, o intraempreendedorismo ou o empreendedorismo.

Deixo um convite final: você prefere a novidade ou a mudança?

Um assunto que aprofundei no meu livro *[Invente o seu Lado I: A arte de inovar numa época de incertezas](https://www.buzzeditora.com/livro-invente-seu-lado-i)*, no qual mostro os quatro perfis existentes de pessoas nas organizações (explorador, duro de matar, líder e no muro).

Compartilhar:

Alexandre Waclawovsky, o Wacla, é um hacker sistêmico, especialista em solucionar problemas complexos, através de soluções criativas e não óbvias. Com 25 anos de experiência como intraempreendor em empresas multinacionais de bens de consumo, serviços e entretenimento, ocupou posições de liderança em marketing, vendas, mídia e inovação no Brasil e América Latina. Wacla é pioneiro na prática da modalidade Talento sob Demanda no Brasil, atuando como CMO, CRO e Partner as a Service em startups e empresas de médio porte, desde 2019. Atua também como professor convidado em instituições renomadas, como a Fundação Dom Cabral, FIAP e Miami Ad School, além de autor de dois livros: "Guide for Network Planning" e "invente o seu lado i – a arte de

Artigos relacionados

Inovação & estratégia
22 de novembro de 2025
Antes dos agentes, antes da IA. A camada do pensamento analógico

Rodrigo Magnano - CEO da RMagnano

5 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Cultura organizacional
21 de novembro de 2025
O RH deixou de ser apenas operacional e se tornou estratégico - desmistificar ideias sobre cultura, engajamento e processos é essencial para transformar gestão de pessoas em vantagem competitiva.

Giovanna Gregori Pinto - Executiva de RH e fundadora da People Leap

3 minutos min de leitura
Inteligência Artificial, Liderança
20 de novembro de 2025
Na era da inteligência artificial, a verdadeira transformação digital começa pela cultura: liderar com consciência é o novo imperativo para empresas que querem unir tecnologia, propósito e humanidade.

Valéria Oliveira - Especialista em desenvolvimento de líderes e gestão da cultura

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
19 de novembro de 2025
Construir uma cultura organizacional autêntica é papel estratégico do RH, que deve traduzir propósito em práticas reais, alinhadas à estratégia e vividas no dia a dia por líderes e equipes.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
18 de novembro de 2025
Com agilidade, baixo risco e cofinanciamento não reembolsável, a Embrapii transforma desafios tecnológicos em inovação real, conectando empresas à ciência de ponta e impulsionando a nova economia industrial brasileira.

Eline Casasola - CEO da Atitude Inovação, Atitude Collab e sócia da Hub89 empresas

4 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de novembro de 2025
A cultura de cocriação só se consolida quando líderes desapegam do comando-controle e constroem ambientes de confiança, autonomia e valorização da experiência - especialmente do talento sênior.

Juliana Ramalho - CEO da Talento Sênior

4 minutos min de leitura
Liderança
14 de novembro de 2025
Como dividir dúvidas, receios e decisões no topo?

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

2 minutos min de leitura
Sustentabilidade
13 de novembro de 2025
O protagonismo feminino se consolidou no movimento com a Carta das Mulheres para a COP30

Luiza Helena Trajano e Fabiana Peroni

5 min de leitura
ESG, Liderança
13 de novembro de 2025
Saiba o que há em comum entre o desengajamento de 79% da força de trabalho e um evento como a COP30

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
12 de novembro de 2025
Modernizar o prazo de validade com o conceito de “best before” é mais do que uma mudança técnica - é um avanço cultural que conecta o Brasil às práticas globais de consumo consciente, combate ao desperdício e construção de uma economia verde.

Lucas Infante - CEO da Food To Save

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança