Diversidade, Comunidades: CEOs do Amanhã

Os novos ecossistemas que influenciam a geração Z

Aplicativos, produção de conteúdo, tendências estéticas e experiências de consumo mostram características peculiares de milhões de pessoas que nasceram num mundo já conectado
Cofundadora da Nice House Br, lidera estratégias de criatividade e tecnologia para conectar marcas a comunidades relevantes. Autora do The Uau eBook, curadoria online de ferramentas e sites baseados em tendências das comunidades de produto ao redor do mundo.

Compartilhar:

Chegou a hora em que nós, millennials, não somos mais a última geração a ter poder de compra ou chegar ao mercado de trabalho. Pessoas da geração Z (conceito que agrega nascidos a partir de 1995) trazem consigo uma série de comportamentos e ecossistemas inéditos.

Essa é a primeira geração a ter como referência cultural tanto os Estados Unidos quanto a Ásia. Enquanto as gerações anteriores foram impactadas com o sonho americano, boa parte da geração Z sonha em visitar algum país asiático e é fã de grupos de k-pop, gênero musical originado na Coreia do Sul.

A geração millennials, por sua vez, acompanhou o surgimento e o crescimento massivo do Instagram, aplicativo de proposta original o compartilhamento de fotos instantâneas, impulsionado pelas celebridades fashion norte-americanas. O Instagram, aliás, ajudou a evidenciar uma das características predominantes dos millennials, o movimento selfish, ou o foco centrado na autoimagem. Enquanto pais e marcas lotavam o feed do Facebook, os millennials migraram para o Instagram, buscando identidade e autoexpressão no mundo online.

Nesse momento, há uma nova onda em formação. O mesmo Instagram proporcionou o surgimento de inúmeros ecossistemas. Um deles é o de aplicativos de edição de fotos (que hoje valem milhões de dólares). Outro ecossistema, que hoje movimenta um [mercado em forte crescimento](https://www.revistahsm.com.br/post/marketing-de-influencia-e-o-case-havaianas), pertence aos influenciadores digitais, grupo que disputa espaço na rede social com milhares de anúncios. Contudo, o nível de maturidade da plataforma fez com que a geração Z buscasse uma alternativa para se expressar, a fim de criar sua própria identidade e se livrar dos pais e dos anúncios outra vez.

Eis que surge o TikTok. O aplicativo da chinesa ByteDance foi o mais baixado no mundo em 2020 e já possui 800 milhões de usuários, sendo que 60% de base pertencem à geração Z. Segundo a GlobalWebIndex, são aproximadamente [7 milhões de brasileiros no app](https://atarde.uol.com.br/entretenimento/noticias/2126120-tiktok-e-a-nova-diversao-preferida-dos-brasileiros#:~:text=O%20Brasil%2C%20que%20possui%20a,de%207%20milh%C3%B5es%20de%20usu%C3%A1rios.).

Em 2021, é esperada a chegada de 74 milhões de norte-americanos à geração Z, se tornando a maior de todas, o que tende a aumentar o número de usuários do TikTok. Olhando para esse cenário, é preciso ressaltar que o aplicativo traduz comportamentos, possibilitando uma oportunidade de compreensão e aproximação dessa geração.

## Coletivismo

Ao contrário da cultura selfish dos millennials, a geração Z é mais coletiva, o que se reflete nas escolhas dos ídolos musicais e na forma com que consomem e produzem conteúdo.

Não à toa que o movimento de “casas de criadores” vem crescendo pelo mundo. O formato surgiu com os gamers, como uma alternativa para facilitar o treino e acelerar a integração dos jogadores de uma mesma equipe. Em 2020, esse formato se expandiu fortemente para os tiktokers. As mais conhecidas são The Hype House, de Los Angeles, e a BIP House, do Cazaquistão.

Para esses grupos, a casa é símbolo de uma geração que cresceu em contato muito mais com o concreto e a tecnologia, e menos com a natureza e as brincadeiras na rua. É muito comum que o banheiro e o quarto sejam os ambientes mais filmados, pois representam o safe space e a privacidade, principalmente para as pessoas que moram com os pais.

Outra característica interessante são os challenges, conteúdo em que usuários desafiam uns aos outros a cantar, dublar ou fazer qualquer tipo de coisa. Os desafios se conectam por hashtags, músicas e filtros em comum, gerando um efeito em cadeia e forte engajamento. Esse senso coletivo também é um meio de aumentar de forma acelerada a audiência desses criadores de conteúdo e a melhorar a rentabilidade nos contratos publicitários, que hoje é o principal meio de geração de renda do segmento.

## Polymath: múltiplos interesses

Imagine um navegador de internet com diversas abas abertas: assim é a segmentação da geração Z. A quebra de padrões e de estereótipos é forte, o que exige análise mais aprofundada e busca por intersecções.

Como exemplo, se a segmentação no passado podia ser feita por gênero, idade, interesses em comum como moda, maquiagem, cabelo – em resumo, a persona poderia ser a conhecida “patricinha”. Hoje [precisamos considerar personas](https://www.revistahsm.com.br/post/livros-apontam-caminhos-para-uma-lideranca-inclusiva) sem gênero, não binários e os mais de 30 tipos de gêneros reconhecidos. Esse mesmo perfil “patricinha” também está envolvido com games, esportes radicais, dança e vilas ecológicas, participando ativamente de cada uma dessas comunidades.

O algoritmo do TikTok traduz muito bem isso. Não importa quem você siga, seu feed é formado pelo tipo de conteúdo que você consome, o que permite a descoberta de novidades a cada scroll.

Ao contrário do formato americano, a versão chinesa de rede social não restringe sua rede apenas aos seus amigos ou amigos de amigos, mas sim ao que você gosta de consumir, independente da relação interpessoal.

Algoritmos desse tipo representam o resultado de anos de investimento em tecnologias que procuram entender o ser humano mais do que o ser humano entende a tecnologia. Isso reforça o múltiplo interesse, a característica de uma geração.

## Busca pela verdade

Uma geração altamente digitalizada terá o desafio de diferenciar o real do virtual. Isso não é apenas sobre ambientes VR e AR, mas sobre deepfake, fakenews e apropriação de causas sociais como estratégia de marketing. Isso influencia não apenas no consumo, mas também na produção do conteúdo desenvolvido por essa geração.

Os vídeos que mais viralizaram entre as pessoas da geração Z não são superproduções, mas de adolescentes fazendo algum tipo de comédia utilizando a câmera do celular. Mesmo que cheias de transições e efeitos, a produção é predominantemente caseira e a edição é feita no próprio em aplicativos.

Em outras palavras, se no YouTube temos vídeos cada vez mais produzidos e no Instagram feeds super organizados, o TikTok dá espaço para o low-fi. Assim, pessoas dessa geração prezam muito para o que parece ser real. Imagens altamente produzidas e “photoshopadas” não transparecem a verdade na comunicação que eles buscam.

Pela agilidade que tem com a tecnologia, percebem facilmente marcas e pessoas que se apropriam de causas importantes apenas como estratégia de marketing, e não com um vínculo genuíno.

Desse modo, o desejo pelo padrão estético perfeito vem sendo substituído pela aceitação e autocompaixão. A maquiagem que antes buscava esconder “defeitos” hoje é muito utilizada para autoexpressão, e para trazer ao mundo real os filtros que existem no digital.

Os live commerces também refletem essa busca pelo genuíno. O formato lançado pela chinesa Alibaba foi muito utilizado na black friday do último ano no Brasil, e promete ser uma das principais apostas do comércio online. Nesse caso, a verdade está presente no discurso, onde o objetivo é realmente vender algo, ao contrário do formato publicitário que vemos em outras redes que se misturam o discurso de intenção comercial em forma dica, uso pessoal ou presente.

Observar atentamente comportamentos, o que eles revelam, e o que pensa uma geração, é uma maneira de inovar e se reinventar. Afinal, grandes indústrias que vemos hoje um dia foram tratadas como ‘coisas de adolescente’.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inovação & estratégia
28 de outubro 2025
A verdadeira virada digital não começa com tecnologia, mas com a coragem de abandonar velhos modelos mentais e repensar o papel das empresas como orquestradoras de ecossistemas.

Lilian Cruz - Fundadora da Zero Gravity Thinking

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
27 de outubro de 2025
Programas corporativos de idiomas oferecem alto valor percebido com baixo custo real - uma estratégia inteligente que impulsiona engajamento, reduz turnover e acelera resultados.

Diogo Aguilar - Fundador e Diretor Executivo da Fluencypass

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Inovação & estratégia
25 de outubro de 2025
Em empresas de capital intensivo, inovar exige mais do que orçamento - exige uma cultura que valorize a ambidestria e desafie o culto ao curto prazo.

Atila Persici Filho e Tabatha Fonseca

17 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
24 de outubro de 2025
Grandes ideias não falham por falta de potencial - falham por falta de método. Inovar é transformar o acaso em oportunidade com observação, ação e escala.

Priscila Alcântara e Diego Souza

6 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
23 de outubro de 2025
Alta performance não nasce do excesso - nasce do equilíbrio entre metas desafiadoras e respeito à saúde de quem entrega os resultados.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional.

4 minutos min de leitura
Uncategorized
22 de outubro de 2025
No setor de telecom, crescer sozinho tem limite - o futuro está nas parcerias que respeitam o legado e ampliam o potencial dos empreendedores locais.

Ana Flavia Martins - Diretora executiva de franquias da Algar

4 minutos min de leitura
Marketing & growth
21 de outubro de 2025
O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

5 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
20 de outubro de 2025
Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.

Marília Tosetto - Diretora de Talent Management na Blip

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)