Inovação

A inovação a partir das nossas 12 habilidades à prova do futuro

Em entrevista exclusiva, a empreendedora e professora adjunta na Johns Hopkins University, Saleema Vellani, compartilha alguns dos principais achados sobre inovação de seu novo livro "Innovation Starts with I"
Co-fundadora da Ambidestra. Consultora e mentora em estratégia, inovação e transformação organizacional.

Compartilhar:

Em alguns dos meus últimos artigos, falamos sobre organizações ambidestras e sobre as principais virtudes dos [CMOs ambidestros](https://www.revistahsm.com.br/post/oito-virtudes-para-o-cmo-ambidestro).

Lembrando que, o conceito de “ambidestria” significa ter o equilíbrio entre a exploração e explotação: organizações (e profissionais) ambidestros são capazes de explotar suas competências atuais, enquanto simultaneamente, exploraram novas oportunidades.

A exploração é algo incerto: seu desfecho é desconhecido (e arriscado). Portanto, ela requer criatividade, abertura para experimentação e aprendizado, e coragem.
Agora, compreender o que é uma organização ambidestra é uma coisa, mas torná-la uma realidade, é outra.

Nesta coluna, convidei Saleema Vellani, empreendedora, keynote speaker e professora adjunta de empreendedorismo e design thinking na Johns Hopkins University para responder a algumas perguntas sobre inovação, empreendedorismo e sobre como, simplesmente, sermos humanos.

Durante a entrevista, ela também falou sobre os principais achados compartilhados em seu livro, *Innovation Starts With I* – que será lançado em inglês em novembro de 2021 – e posteriormente traduzido para o português.

__Lilian Cruz__: Em seu livro, você fala sobre inovação não ser apenas sobre novas tecnologias. Você acredita verdadeiramente que, ao fortalecermos nossas doze habilidades à prova do futuro, podemos desenvolver um mindset empreendedor, pensarmos mais como inovadores, e termos melhores capacidades para resolução de problemas. Poderia comentar sobre como isso é possível? Por exemplo, existem determinadas características que são importantes para que os profissionais possam prosperar no mercado?

__Saleema Vellani:__ Como estamos vivendo tempos de rápidas mudanças e incertezas, a inovação nos habilita – tanto como indivíduos quanto como organizações – para nos mantermos relevantes em um mercado extremamente competitivo.

Ao invés de reinventar a roda, a inovação é sobre alavancar coisas existentes e reorganizá-las para que gerem mais valor. Podemos alavancar fortalezas, recursos, parceiros e informações existentes para gerar um impacto maior. Podemos alavancar nosso “eu” único e autêntico.

Durante a etapa de pesquisa para o meu livro, me propus a fazer o “Desafio de 100 Cafés”, onde entrevistei líderes e empreendedores ao redor do mundo sobre o que eles achavam que eram as habilidades mais importantes para se prosperar em um futuro incerto. Também perguntei a eles quais eram as suas definições para inovação. Depois de analisar profundamente as respostas, de facilitar workshops em vários países, juntamente com a minha experiência pessoal, descobri que a auto inovação em nossa jornada pessoal substitui qualquer definição tradicional de inovação.

Para ativar a inovação em nossa jornada pessoal para termos sucesso durante a Revolução da Reinvenção, existem doze habilidades-chave que precisamos ter para prosperarmos, enquanto nos aproximamos da “Era Aumentada” (Augmented Age).

Estas doze habilidades podem ser divididas em três categorias distintas: EU, NÓS, O MUNDO. O primeiro grupo é sobre encontrar a si mesmo através da prática de autoconhecimento. Quais são as suas habilidades, valores e interesses que podem agregar valor à sua vida? O segundo grupo é definido por atitudes de colaboração e trabalho com outras pessoas para construir empatia e autenticidade em seu trabalho. O último grupo provoca você a explorar as mais diversas maneiras em que você pode ter um impacto no mundo.

## O FRAMEWORK “RIPPLE IMPACT”

![Imagem1](//images.contentful.com/ucp6tw9r5u7d/5Mbqxnnv37QjtD3W77vuH1/83ba179ec9f8261b66de9969b74c0510/Imagem1.png)

__Lilian Cruz:__ O principal problema que muitos executivos, incluindo CMOs, enfrentam é ter que dirigir o negócio e transformá-lo exponencialmente ao mesmo tempo. Portanto, o desenvolvimento de intraempreendedores não é simples – e muitas pessoas têm uma crença de que somente é possível ser um verdadeiro inovador sendo um empreendedor. Você desenvolveu um framework para ajudar colaboradores a encontrarem seu “ponto ótimo” para serem inovadores e se tornarem intraempreendedores. Assim, você diria que esta é uma boa alternativa?

__Saleema Vellani:__ Você não precisa ser um empreendedor para ser inovador. Eu descobri meu “ponto ótimo” dando um passo para trás, definindo claramente em quais projetos e habilidades eu havia tido mais sucesso ao longo da minha carreira, também observando quais eram os projetos nos quais eu mais havia amado trabalhar, quais foram as conquistas em que tive reconhecimento, e explorando coisas que eu estava aberta para testar.

Foi neste momento que eu percebi que nosso “ponto ótimo” não é algo descoberto, mas é algo desenvolvido. Quando você analisa as ideias que está disposto a perseguir, é justamente lá que a inovação se encontra. São estes os projetos que colocam você fora da sua zona de conforto, em direção à sua zona de crescimento.
E nossos “pontos ótimos” se desenvolvem e mudam enquanto crescemos, tanto em nossas vidas profissionais quanto pessoais. É o que nos leva a desafiar a nós mesmos e ficarmos com fome de conhecimento.

__Lilian Cruz:__ Você tem uma aceleradora chamada Ripple Impact, que atende indivíduos e organizações, a fim de ajudá-los em seus processos de rebranding e reposicionamento. Como você teve essa ideia? Como você está incorporando inclusão e diversidade nos negócios e na indústria? Existem ferramentas ou estruturas que estão ajudando você a causar impacto?

__Saleema Vellani:__ Assim que a pandemia começou, ela deixou muita gente sem emprego ou uma renda estável. Algumas pessoas queriam se reposicionar para que pudessem encontrar um novo emprego, enquanto outros queriam dar um salto e perseguir um novo caminho de carreira. Muitos dos clientes que eu estava atraindo eram empreendedores que precisavam de ajuda para reinventar seus negócios, sem conhecimento sobre como fazer isso. Eles estavam por todo o lado, com muita garra, mas sem direção. Tudo aconteceu muito organicamente.

Minha equipe e eu criamos a Ripple Impact como uma maneira de [nos tornarmos criativos com a colaboração](https://www.revistahsm.com.br/post/o-que-sao-o-nomadismo-e-localismo-e-porque-eles-devem-fazer-parte-da-agenda). Queríamos criar um espaço onde os empreendedores pudessem descobrir e desenvolver seus “pontos ótimos”, com uma equipe de bastidores experiente trabalhando ao lado deles.

Enquanto eles se concentram no que eles são bons, trabalhamos com nossa talentosa equipe de estrategistas, profissionais de marketing e criativos em seus rebrandings e reposicionamentos. Não há mais a necessidade de ensinar as pessoas a pescarem para que elas possam se defender sozinhas — em vez disso, nós apenas pescamos com elas.

Em termos de inclusão, quando comecei a contratar minha equipe para a Ripple Impact, tive o privilégio de escolhê-la em um pool global de talentos. Eu sabia que para ter uma equipe brilhante, eu tinha que criar um equilíbrio de diferentes tipos de personalidade, como o visionário, o estrategista, o executor e o designer. Explico esses tipos de personalidade em detalhes no meu livro, em uma estrutura chamada “Receita de Equipe Inovadora” (veja abaixo), mas a essência de ter uma equipe diversa e equilibrada é reunir um conjunto de indivíduos que são inovadores, acreditam em sua visão e querem gerar impacto. Dessa maneira, cada solução que criamos para nossos clientes é providenciada de maneira única.

## RECEITA DE EQUIPE INOVADORA

![Imagem2](//images.contentful.com/ucp6tw9r5u7d/7jw8PmHgDYWFJYxJRuzq5P/b820740da117aaff78ca11cd0272cd6a/Imagem2.jpg)

*Imagem adaptada do “Innovative Personalities”, por Mike Duke, CEO da Mortal.ai e ex Chief Innovation Architect da Wells Fargo*

Em meu livro, *Innovation Starts With I*, existem diversas ferramentas e frameworks para reinvenção, ideação, colaboração, priorização, formação de times e posicionamento.

__Lilian Cruz:__ E, finalmente: você acredita que há espaço para nós, mulheres, sermos verdadeiramente autênticas e nos tornarmos vulneráveis em um ambiente corporativo? No geral, quais são os benefícios de ter esse comportamento, tanto para as pessoas quanto para as organizações?

__Saleema Vellani:__ Acredito que, para criar espaço para [autenticidade e vulnerabilidade](https://www.revistahsm.com.br/post/a-coragem-de-ser-autentico) no ambiente de trabalho, é preciso que haja uma abordagem de baixo para cima e de cima para baixo.

As organizações precisam modelar o comportamento. Isso significa que a liderança, especialmente as líderes femininas, devem se destacar e demonstrar apoio para a autenticidade no local de trabalho, e mostrar aos outros o tipo de força que está no compartilhamento de vulnerabilidades.

Há também a necessidade de apoio aos colaboradores e um grupo de recursos, com espaços seguros onde as conversas possam ocorrer e comunidades que pratiquem autenticidade e vulnerabilidade em sua essência.

Com grande parte da nossa realidade encharcada de conteúdo e feeds curados, é fácil ficar preso na crença de que nos apresentar de uma certa maneira é a única maneira correta de se comportar. Mas quando você traz o seu eu mais autêntico para uma conversa, quando você aparece com vulnerabilidade, as pessoas são mais propensas a ouvir, a se relacionar e ressoar com você e sua história.

*Gostou do artigo da Lilian Cruz? Confira outros conteúdos sobre inovação e marketing na comunidade [Marketing Makers](https://www.revistahsm.com.br/comunidade/marketing-makers-hsm-management).*

Compartilhar:

Co-fundadora da Ambidestra. Consultora e mentora em estratégia, inovação e transformação organizacional.

Artigos relacionados

Reputação sólida, ética líquida: o desafio da integridade no mundo corporativo

No mundo corporativo, reputação se constrói com narrativas, mas se sustenta com integridade real – e é justamente aí que muitas empresas tropeçam. É o momento de encarar os dilemas éticos que atravessam culturas organizacionais, revelando os riscos de valores líquidos e o custo invisível da incoerência entre discurso e prática.

Vivemos a reinvenção do CEO?

Está na hora de entender como o papel de CEO deixou de ser sinônimo de comando isolado para se tornar o epicentro de uma liderança adaptativa, colaborativa e guiada por propósito. A era do “chefão” dá lugar ao maestro estratégico que rege talentos diversos em um cenário de mudanças constantes.

ESG
Construímos um universo de possibilidades. Mas a pergunta é: a vida humana está realmente melhor hoje do que 30 anos atrás? Enquanto brasileiros — e guardiões de um dos maiores biomas preservados do planeta — somos chamados a desafiar as retóricas de crescimento e consumo atuais. Se bem endereçados, tais desafios podem nos representar uma vantagem competitiva e um fôlego para o planeta

Filippe Moura

6 min de leitura
Carreira, Diversidade
Ninguém fala disso, mas muitos profissionais mais velhos estão discriminando a si mesmos com a tecnofobia. Eles precisam compreender que a revolução digital não é exclusividade dos jovens

Ricardo Pessoa

4 min de leitura
ESG
Entenda viagens de incentivo só funcionam quando deixam de ser prêmios e viram experiências únicas

Gian Farinelli

6 min de leitura
Liderança
Transições de liderança tem muito mais relação com a cultura e cultura organizacional do que apenas a referência da pessoa naquela função. Como estão estas questões na sua empresa?

Roberto Nascimento

6 min de leitura
Inovação
Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Átila Persici

6 min de leitura
Gestão de Pessoas
Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Rubens Pimentel

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
US$ 4,4 trilhões anuais. Esse é o prêmio para empresas que souberem integrar agentes de IA autônomos até 2030 (McKinsey). Mas o verdadeiro desafio não é a tecnologia – é reconstruir processos, culturas e lideranças para uma era onde máquinas tomam decisões.

Vitor Maciel

6 min de leitura
ESG
Um ano depois e a chuva escancara desigualdades e nossa relação com o futuro

Anna Luísa Beserra

6 min de leitura
Empreendedorismo
Liderar na era digital: como a ousadia, a IA e a visão além do status quo estão redefinindo o sucesso empresarial

Bruno Padredi

5 min de leitura
Liderança
Conheça os 4 pilares de uma gestão eficaz propostos pelo Vice-Presidente da BossaBox

João Zanocelo

6 min de leitura