Inclusão
4 min de leitura

A Lei de Cotas faz 34 anos: ainda é ela que segura aberta a porta da inclusão

Imagine estar ao lado de fora de uma casa com dezenas de portas, mas todas trancadas. Você tem as chaves certas — seu talento, sua formação, sua vontade de crescer — mas do outro lado, ninguém gira a maçaneta. É assim que muitas pessoas com deficiência se sentem ao tentar acessar o mercado de trabalho.
Desde 2008, a Talento Incluir tem a missão de levar ações focada em colaborar com o desenvolvimento das pessoas com deficiência para ampliar a inclusão no mercado de trabalho e na sociedade como um todo. É a pioneira em inclusão produtiva de Profissionais com Deficiência. Seu propósito Propósito é romper o capacitismo para que as pessoas com deficiência ocupem os espaços nas empresas e na sociedade.
CEO e fundadora do Grupo Talento Incluir.

Compartilhar:

Imagine estar ao lado de fora de uma casa com dezenas de portas, mas todas trancadas. Você tem as chaves certas — seu talento, sua formação, sua vontade de crescer — mas do outro lado, ninguém gira a maçaneta. É assim que muitas pessoas com deficiência se sentem ao tentar acessar o mercado de trabalho. E é por isso que, há 34 anos, nasceu a Lei de Cotas no Brasil — uma iniciativa, ainda que imperfeita, de forçar algumas dessas portas a se abrirem.

A Lei nº 8.213/1991, Lei de Cotas, obriga empresas com 100 ou mais funcionários a reservar de 2% a 5% de suas vagas para pessoas com deficiência. Mesmo sob constantes ameaças de flexibilização ou extinção, ela segue sendo a principal via de acesso das pessoas com deficiência ao mercado de trabalho formal. Nem sempre por intenção ou convicção das empresas, mas por obrigatoriedade. E isso diz muito.

Há mais de duas décadas atuando na inclusão profissional de pessoas com deficiência, vivenciamos uma verdade incômoda: a maioria das contratações não acontece por intencionalidade, mas por obrigação legal. A inclusão ainda não nasce do desejo genuíno de construir equipes diversas e humanas, mas do temor da multa.

Dados da última atualização do Radar Site do governo federal mostram que, em 2021, o Brasil tinha 828.256 vagas reservadas por lei para pessoas com deficiência. Dessas, apenas 49,81% estavam ocupadas. Ou seja, mais de 415 mil vagas estavam “esperando” por uma pessoa com deficiência – ou por uma empresa que de fato quisesse contratá-la. Neste mesmo período, foram realizadas 8.532 fiscalizações, com 3.777 autuações. A Lei existe, mas ainda precisa ser forçada a existir na prática.

A pesquisa “Radar da Inclusão: mapeando a empregabilidade de Pessoas com Deficiência” realizada em parceria da Talento Incluir, Instituto Locomotiva, Pacto Global e a iO Diversidade, revelou dados exclusivos sobre a empregabilidade de pessoas com deficiência ou neurodivergentes. Para 95% dos participantes da pesquisa a Lei de Cotas deve continuar existindo e 96% acreditam que ela deve ser fiscalizada com rigor. A pesquisa mostrou o que quem vive essa realidade já sabe: sem a Lei, a maioria dessas portas seguiria fechada. Para 94% dos respondentes, as empresas só contratampessoas com deficiência se forem obrigadas pela Leide Cotas. Já 89% consideram que as empresas contratam pessoas com deficiência para cumprir as cotas, mas não dão condições adequadas de trabalho.

A porta que se abre é muito mais que um emprego. Uma oportunidade de emprego para uma pessoa com deficiência é muito mais que uma ocupação formal — é uma transformação pessoal, emocional, social. Ao longo desses anos, já ajudamos a incluir mais de 9 mil pessoas com deficiência no mercado de trabalho. São histórias de quem chegou até nós depois de incontáveis “nãos”, e encontrou no trabalho a possibilidade de se sentir uma pessoa finalmente pertencente, valorizada, respeitada.

Temos exemplos de pessoas com deficiência que hoje ocupam posições de liderança, quebrando estereótipos, reconstruindo narrativas e inspirando outros a fazerem o mesmo. E essas conquistas não são apenas pessoais. Elas transformam os ambientes, educam colegas, sensibilizam lideranças, desarmam preconceitos.

Ser uma pessoa incluída é, antes de tudo, ser reconhecida. É transformador estar diante de uma pessoa com deficiência que, por anos, foi excluída não por falta de competência, mas por uma característica física, sensorial, intelectual ou psicossocial. E é ainda mais potente perceber o quanto essa inclusão revela a nossa própria humanidade.

A verdadeira inclusão não é sobre preencher uma cota. É sobre reconhecer as pessoas com deficiência como merecedoras das mesmas oportunidades. E é nesse ponto que a Lei de Cotas deixa de ser apenas um instrumento jurídico para se tornar uma ferramenta de transformação cultural. Ela não é o fim. É o começo. É o empurrão que precisamos para perceber o que estava invisibilizado.

Quem atua na linha de frente da inclusão sabe que muitas vezes nos sentimos como ‘Dom Quixotes’ lutando contra moinhos de vento. Entramos em empresas com culturas capacitistas, onde atuamos nas causas que nem sempre são as mesmas. Quase nunca são. Então personalizamos ferramentas e soluções que nos possibilitam realizar transformações.

Mostrar esse espelho às lideranças exige coragem. Quebrar a parede da indiferença dói. Mas, ver essa mesma liderança reconhecer seus preconceitos, desconstruí-los e se tornar aliada… isso não tem preço. É sempre uma vitória. Porque ali nascem pessoas multiplicadoras de inclusão. É isso que queremos continuar despertando.

A Lei de Cotas está longe de ser perfeita. Mas é, sem dúvida, a política pública mais eficaz que já tivemos para garantir o mínimo de dignidade profissional a pessoas com deficiência. Quando a sociedade não garante direitos por consciência, o Estado precisa garantir por obrigação.

E assim seguiremos, “abrindo portas”, uma por uma, do nosso jeitinho”. Mas, sempre com a certeza de que do outro lado, há vidas inteiras esperando para pertencer.

Compartilhar:

Desde 2008, a Talento Incluir tem a missão de levar ações focada em colaborar com o desenvolvimento das pessoas com deficiência para ampliar a inclusão no mercado de trabalho e na sociedade como um todo. É a pioneira em inclusão produtiva de Profissionais com Deficiência. Seu propósito Propósito é romper o capacitismo para que as pessoas com deficiência ocupem os espaços nas empresas e na sociedade.

Artigos relacionados

Homo confusus no trabalho: Liderança, negociação e comunicação em tempos de incerteza

Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas – mas sim coragem para sustentar as perguntas certas.
Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Bem-estar & saúde
7 de novembro de 2025

Luciana Carvalho - CHRO da Blip, e Ricardo Guerra - líder do Wellhub no Brasil

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
6 de novembro de 2025
Incluir é mais do que contratar - é construir trajetórias. Sem estratégia, dados e cultura de cuidado, a inclusão de pessoas com deficiência segue sendo apenas discurso.

Carolina Ignarra - CEO da Talento Incluir

5 minutos min de leitura
Liderança
5 de novembro de 2025
Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas - mas sim coragem para sustentar as perguntas certas. Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Angelina Bejgrowicz - Fundadora e CEO da AB – Global Connections

12 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
4 de novembro de 2025

Tatiana Pimenta - Fundadora e CEO da Vittude

3 minutos min de leitura
Liderança
3 de novembro de 2025
Em um mundo cada vez mais automatizado, liderar com empatia, propósito e presença é o diferencial que transforma equipes, fortalece culturas e impulsiona resultados sustentáveis.

Carlos Alberto Matrone - Consultor de Projetos e Autor

7 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
1º de novembro de 2025
Aqueles que ignoram os “Agentes de IA” podem descobrir em breve que não foram passivos demais, só despreparados demais.

Atila Persici Filho - COO da Bolder

8 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
31 de outubro de 2025
Entenda como ataques silenciosos, como o ‘data poisoning’, podem comprometer sistemas de IA com apenas alguns dados contaminados - e por que a governança tecnológica precisa estar no centro das decisões de negócios.

Rodrigo Pereira - CEO da A3Data

6 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
30 de ouutubro de 2025
Abandonando o papel de “caçador de bugs” e se tornando um “arquiteto de testes”: o teste como uma função estratégica que molda o futuro do software

Eric Araújo - QA Engineer do CESAR

7 minutos min de leitura
Liderança
29 de outubro de 2025
O futuro da liderança não está no controle, mas na coragem de se autoconhecer - porque liderar os outros começa por liderar a si mesmo.

José Ricardo Claro Miranda - Diretor de Operações da Paschoalotto

2 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
28 de outubro 2025
A verdadeira virada digital não começa com tecnologia, mas com a coragem de abandonar velhos modelos mentais e repensar o papel das empresas como orquestradoras de ecossistemas.

Lilian Cruz - Fundadora da Zero Gravity Thinking

4 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)