Você já parou para pensar que as plataformas que hoje dominam a economia digital talvez não sejam uma invenção tão recente assim? Antes dos aplicativos, dos marketplaces e dos ecossistemas globais, sempre tivemos feiras e mercados, onde as pessoas se reuniam, trocavam, criavam regras e formavam alianças e parcerias. A lógica, no fundo, sempre foi a mesma: a força está na rede e no princípio ancestral da interdependência humana. O que mudou foi a tecnologia e, com ela, a escala, a velocidade e a densidade dessas conexões.
O mundo trocou de engrenagem. Até o final da Era Industrial, o foco estava em dominar a cadeia de produção. Produzir mais, reduzir custos, escalar, distribuir. Esta Era também foi pautada numa lógica linear, onde o valor fluía em uma única direção: da fábrica para o consumidor. Acontece que quando entramos na Era Digital o mundo ficou hiperconectado, esta eficiência industrial já não era suficiente. As empresas que cresciam mais rápido não eram as que produziam mais, e sim as que desenvolveram a capacidade de “orquestrar” players e criar valor conectando, não controlando. E isso mudou tudo.
Estamos diante de uma reconfiguração estrutural, onde a economia de plataformas está se tornando a “arquitetura” dominante. A McKinsey estima que os ecossistemas digitais possam representar mais de US$ 60 trilhões até 2025 (cerca de 30% das receitas corporativas globais). E segundo um estudo da Fundação Dom Cabral (FDC), nas próximas décadas, 70% do crescimento da produção econômica global será gerado por esses ecossistemas.
Mas quais são alguns princípios básicos para geração de valor através de plataformas e ecossistemas?
É sabido que as plataformas crescem e se tornam mais valiosas na medida em que mais players atuam nelas. Isto provoca o chamado ”network effect” (efeito de rede), que também sustenta as Organizações Exponenciais, onde a cada novo usuário, o sistema inteiro ganha valor. E isto não é possível de ser replicado numa estrutura linear, onde o custo cresce na mesma proporção que o volume. Além disso, plataformas são “asset light” (leves): não carregam o peso dos ativos físicos, não dependem de fábricas ou estoques. Crescem rápido porque escalam na nuvem. E vence quem consegue transformar dados e
algoritmos em inteligência e geração de valor.
A economia de plataformas tem sido meu “mantra” atuando com empresas em processo de transformação nos últimos anos. Mas por que muitas delas ainda estão ficando para trás? Não é por falta de recursos, nem de talento. É por falta de desapego. As empresas que nasceram no paradigma industrial possuem um modelo mental com foco em otimizar, padronizar e escalar. Elas pensam como “fábricas” e tentam “digitalizar” sem se transformar. Colocam energia em automatizar o antigo, sem desconstruir. Acham que basta empilhar projetos, lançar aplicativos, abrir uma área de inovação. Mas inovação não se empilha. Inovar é escolher o que abandonar
E não sou eu que estou afirmando isto. Neste ano, o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas foi concedido a Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt por terem explicado o crescimento econômico impulsionado pela inovação. Eles demonstraram matematicamente que a chamada “destruição criativa” é na verdade essencial à longevidade e renovação dos modelos econômicos. Isto significa que, sem a disposição de abandonar ou transformar aquilo que já não gera valor, as organizações entram no terreno da estagnação.
E agora, o que fazer? Recomendo que independentemente da estratégia que sua empresa for adotar, seja ela a criação de plataformas e ecossistemas ou outros caminhos, que reflitam e discutam abertamente sobre o que estão dispostos a deixar para trás. Porque toda transformação real começa com uma renúncia. A estratégia do futuro vai sempre exigir fazer escolhas duras. E aquilo que limita a evolução e o crescimento precisa ser tirado do caminho.
Talvez até mais importante antes de criar um ecossistema é pensar como um ecossistema: de forma mais aberta, colaborativa, dinâmica e em constante troca. Sejam empresas do segmento de serviços ou indústrias, estas sim deixarão de ser “produtoras de coisas” para se tornarem fortes “orquestradoras” do futuro. Porque a própria história da humanidade nos mostrou que sobreviveram aqueles que foram os mais conectados




