Inovação & estratégia
4 minutos min de leitura

As plataformas sempre existiram, elas apenas mudaram de escala

A verdadeira virada digital não começa com tecnologia, mas com a coragem de abandonar velhos modelos mentais e repensar o papel das empresas como orquestradoras de ecossistemas.
Fundadora da Zero Gravity Thinking. Consultora e mentora em estratégia, inovação e transformação organizacional.

Compartilhar:

Você já parou para pensar que as plataformas que hoje dominam a economia digital talvez não sejam uma invenção tão recente assim? Antes dos aplicativos, dos marketplaces e dos ecossistemas globais, sempre tivemos feiras e mercados, onde as pessoas se reuniam, trocavam, criavam regras e formavam alianças e parcerias. A lógica, no fundo, sempre foi a mesma: a força está na rede e no princípio ancestral da interdependência humana. O que mudou foi a tecnologia e, com ela, a escala, a velocidade e a densidade dessas conexões.

O mundo trocou de engrenagem. Até o final da Era Industrial, o foco estava em dominar a cadeia de produção. Produzir mais, reduzir custos, escalar, distribuir. Esta Era também foi pautada numa lógica linear, onde o valor fluía em uma única direção: da fábrica para o consumidor. Acontece que quando entramos na Era Digital o mundo ficou hiperconectado, esta eficiência industrial já não era suficiente. As empresas que cresciam mais rápido não eram as que produziam mais, e sim as que desenvolveram a capacidade de “orquestrar” players e criar valor conectando, não controlando. E isso mudou tudo.

Estamos diante de uma reconfiguração estrutural, onde a economia de plataformas está se tornando a “arquitetura” dominante. A McKinsey estima que os ecossistemas digitais possam representar mais de US$ 60 trilhões até 2025 (cerca de 30% das receitas corporativas globais). E segundo um estudo da Fundação Dom Cabral (FDC), nas próximas décadas, 70% do crescimento da produção econômica global será gerado por esses ecossistemas.

Mas quais são alguns princípios básicos para geração de valor através de plataformas e ecossistemas?

É sabido que as plataformas crescem e se tornam mais valiosas na medida em que mais players atuam nelas. Isto provoca o chamado ”network effect” (efeito de rede), que também sustenta as Organizações Exponenciais, onde a cada novo usuário, o sistema inteiro ganha valor. E isto não é possível de ser replicado numa estrutura linear, onde o custo cresce na mesma proporção que o volume. Além disso, plataformas são “asset light” (leves): não carregam o peso dos ativos físicos, não dependem de fábricas ou estoques. Crescem rápido porque escalam na nuvem. E vence quem consegue transformar dados e
algoritmos em inteligência e geração de valor.

A economia de plataformas tem sido meu “mantra” atuando com empresas em processo de transformação nos últimos anos. Mas por que muitas delas ainda estão ficando para trás? Não é por falta de recursos, nem de talento. É por falta de desapego. As empresas que nasceram no paradigma industrial possuem um modelo mental com foco em otimizar, padronizar e escalar. Elas pensam como “fábricas” e tentam “digitalizar” sem se transformar. Colocam energia em automatizar o antigo, sem desconstruir. Acham que basta empilhar projetos, lançar aplicativos, abrir uma área de inovação. Mas inovação não se empilha. Inovar é escolher o que abandonar

E não sou eu que estou afirmando isto. Neste ano, o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas foi concedido a Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt por terem explicado o crescimento econômico impulsionado pela inovação. Eles demonstraram matematicamente que a chamada “destruição criativa” é na verdade essencial à longevidade e renovação dos modelos econômicos. Isto significa que, sem a disposição de abandonar ou transformar aquilo que já não gera valor, as organizações entram no terreno da estagnação.

E agora, o que fazer? Recomendo que independentemente da estratégia que sua empresa for adotar, seja ela a criação de plataformas e ecossistemas ou outros caminhos, que reflitam e discutam abertamente sobre o que estão dispostos a deixar para trás. Porque toda transformação real começa com uma renúncia. A estratégia do futuro vai sempre exigir fazer escolhas duras. E aquilo que limita a evolução e o crescimento precisa ser tirado do caminho.

Talvez até mais importante antes de criar um ecossistema é pensar como um ecossistema: de forma mais aberta, colaborativa, dinâmica e em constante troca. Sejam empresas do segmento de serviços ou indústrias, estas sim deixarão de ser “produtoras de coisas” para se tornarem fortes “orquestradoras” do futuro. Porque a própria história da humanidade nos mostrou que sobreviveram aqueles que foram os mais conectados

Compartilhar:

Fundadora da Zero Gravity Thinking. Consultora e mentora em estratégia, inovação e transformação organizacional.

Artigos relacionados

Inovação & estratégia, Marketing & growth
1 de setembro de 2025
Na era da creator economy, influência não é mais sobre alcance - é sobre confiança. Você já se deu conta como os influenciadores se tornaram ativos estratégicos no marketing contemporâneo? Eles conectam dados, propósito e performance. Em um cenário cada vez mais automatizado, é a autenticidade que converte.

Salomão Araújo - VP Comercial da Rakuten Advertising no Brasil

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
29 de agosto de 2025
Estamos entrando na temporada dos planos estratégicos - mas será que o que chamamos de “estratégia” não é só mais uma embalagem bonita para táticas antigas? Entenda o risco do "strategy washing" e por que repensar a forma como construímos estratégia é essencial para navegar futuros possíveis com mais consciência e adaptabilidade.

Lilian Cruz, Cofundadora da Ambidestra

4 minutos min de leitura
Empreendedorismo, Inovação & estratégia
28 de agosto de 2025
Startups lideradas por mulheres estão mostrando que inovação não precisa ser complexa - precisa ser relevante. Já se perguntou: por que escutar as necessidades reais do mercado é o primeiro passo para empreender com impacto?

Ana Fontes - Empreendedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Tecnologia & inteligencia artificial
26 de agosto de 2025
Em um universo do trabalho regido pela tecnologia de ponta, gestores e colaboradores vão obrigatoriamente colocar na dianteira das avaliações as habilidades humanas, uma vez que as tarefas técnicas estarão cada vez mais automatizadas; portanto, comunicação, criatividade, pensamento crítico, persuasão, escuta ativa e curiosidade são exemplos desse rol de conceitos considerados essenciais nesse início de século.

Ivan Cruz, cofundador da Mereo, HR Tech

4 minutos min de leitura
Inovação
25 de agosto de 2025
A importância de entender como o design estratégico, apoiado por políticas públicas e gestão moderna, impulsiona o valor real das empresas e a competitividade de nações como China e Brasil.

Rodrigo Magnago

9 min de leitura
Cultura organizacional, ESG, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
25 de agosto de 2025
Assédio é sintoma. Cultura é causa. Como ambientes de trabalho ainda normalizam comportamentos abusivos - e por que RHs, líderes e áreas jurídicas precisam deixar a neutralidade de lado e assumir o papel de agentes de transformação. Respeito não pode ser negociável!

Viviane Gago, Facilitadora em desenvolvimento humano

5 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Estratégia, Inovação & estratégia, Tecnologia e inovação
22 de agosto de 2025
Em tempos de alta complexidade, líderes precisam de mais do que planos lineares - precisam de mapas adaptativos. Conheça o framework AIMS, ferramenta prática para navegar ambientes incertos e promover mudanças sustentáveis sem sufocar a emergência dos sistemas humanos.

Manoel Pimentel - Chief Scientific Officer na The Cynefin Co. Brazil

8 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Finanças, Marketing & growth
21 de agosto de 2025
Em tempos de tarifas, volta de impostos e tensão global, marcas que traduzem o cenário com clareza e reforçam sua presença local saem na frente na disputa pela confiança do consumidor.

Carolina Fernandes, CEO do hub Cubo Comunicação e host do podcast A Tecla SAP do Marketês

4 minutos min de leitura
Uncategorized, Empreendedorismo, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
20 de agosto de 2025
A Geração Z está redefinindo o que significa trabalhar e empreender. Por isso é importante refletir sobre como propósito, impacto social e autonomia estão moldando novas trajetórias profissionais - e por que entender esse movimento é essencial para quem quer acompanhar o futuro do trabalho.

Ana Fontes

4 minutos min de leitura
Inteligência artificial e gestão, Transformação Digital, Cultura organizacional, Inovação & estratégia
18 de agosto de 2025
O futuro chegou - e está sendo conversado. Como a conversa, uma das tecnologias mais antigas da humanidade, está se reinventando como interface inteligente, inclusiva e estratégica. Enquanto algumas marcas ainda decidem se vão aderir, os consumidores já estão falando. Literalmente.

Bruno Pedra, Gerente de estratégia de marca na Blip

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)