Espaço lifelong learning

Aula prática

O experimento coletivo que estamos vivendo com a pandemia me transportou de volta ao laboratório de ciências da escola
Jornalista com ampla experiência nas áreas de negócios, inovação e tecnologia. Especializado em produção de conteúdo para veículos de mídia, branded content e gestão de projetos multiplataforma (online, impresso e eventos). Vencedor dos prêmios Citi Journalistic Excellence Award e Editora Globo de Jornalismo. Também é gerente de conteúdo da HSM Management.

Compartilhar:

No início dos anos 1990, no auge da minha pré-adolescência, aulas em laboratórios de ciência eram relativamente comuns nas escolas particulares de São Paulo. Entre as atividades que eram apresentadas aos alunos, o processo de decantação era a primeira decepção da molecada que vestia o jaleco branco na expectativa de construir um foguete ou simular um vulcão em erupção. Para quem não viveu essa experiência, o processo consiste em separar componentes de densidades diferentes (como óleo e água) em um mesmo recipiente, com a ajuda de bastões, funis ou pistões.

Tenho lembrado bastante dessas sessões nos últimos meses. Talvez seja por causa do experimento coletivo de decantação que estamos vivendo. Família, trabalho, amigos. Estava tudo separado no seu devido recipiente, com alguma mistura aqui e ali. Corta para mais de um ano depois do início do distanciamento social. Pai, filha, esposa, profissional – apenas para citar algumas das inúmeras entidades que formam o que chamamos de personalidade –, passaram a ocupar o mesmo espaço físico e psíquico. O tempo todo. Ou 24/7, como gostam de dizer por aí.

Tem sido um privilégio de passar por esse período com as pessoas que mais amo neste mundo: minha companheira, Maitê, e minhas filhas, Alice e Nina. Ao longo desses meses, li diversos relatos de aproximação entre pais e filhos, almoços em família durante a semana e casais se redescobrindo em meio à pandemia. O lado cheio do copo. Sim, ele existe. Mas nem sempre mostra toda a verdade. A realidade é que processos de transformação são complexos, longos e subjetivos. Alguns têm vivenciado isso em banho-maria. Outros, em uma panela de pressão.

A intensidade da convivência com as pessoas mais íntimas (e conosco mesmos) pode ser tão prazerosa quanto avassaladora. É preciso empatia, diálogo, esforço e aceitação para reescrever as histórias de nossas relações, sejam elas profissionais ou pessoais. Isso passa a ser ainda mais complexo quando abrimos as câmeras de nossa vida para o resto do mundo, inclusive para o mundo do trabalho. Uma espécie de Big Brother particular, onde as diferentes telas que dividiam nossa rotina e intimidade passaram a ser reveladas diariamente.

Assimilar a grande mistura de sentimentos e relacionamentos que se tornou a vida é um desafio enorme. O cenário ainda é de incerteza. Mas precisamos nos mover para algum lugar. Assim como nas aulas de laboratório, temos a oportunidade de aprender com esse novo ciclo de decantação que se apresenta. Reagrupar, estudar, experimentar. Entender as mudanças e aprendizados que a pandemia nos trouxe. E aceitar os resíduos que ela deixará.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando o colaborador é o problema

Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura – às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Inteligência artificial e gestão, Estratégia e Execução, Transformação Digital, Gestão de pessoas
29 de julho de 2025
Adotar IA deixou de ser uma aposta e se tornou urgência competitiva - mas transformar intenção em prática exige bem mais do que ambição.

Vitor Maciel

3 minutos min de leitura
Carreira, Aprendizado, Desenvolvimento pessoal, Lifelong learning, Pessoas, Sociedade
27 de julho de 2025
"Tudo parecia perfeito… até que deixou de ser."

Lilian Cruz

5 minutos min de leitura
Inteligência Artificial, Gestão de pessoas, Tecnologia e inovação
28 de julho de 2025
A ascensão dos conselheiros de IA levanta uma pergunta incômoda: quem de fato está tomando as decisões?

Marcelo Murilo

8 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Liderança
25 de julho de 2025
Está na hora de entender como o papel de CEO deixou de ser sinônimo de comando isolado para se tornar o epicentro de uma liderança adaptativa, colaborativa e guiada por propósito. A era do “chefão” dá lugar ao maestro estratégico que rege talentos diversos em um cenário de mudanças constantes.

Bruno Padredi

2 minutos min de leitura
Desenvolvimento pessoal, Carreira, Carreira, Desenvolvimento pessoal
23 de julho de 2025
Liderar hoje exige muito mais do que seguir um currículo pré-formatado. O que faz sentido para um executivo pode não ressoar em nada para outro. A forma como aprendemos precisa acompanhar a velocidade das mudanças, os contextos individuais e a maturidade de cada trajetória profissional. Chegou a hora de parar de esperar por soluções genéricas - e começar a desenhar, com propósito, o que realmente nos prepara para liderar.

Rubens Pimentel

4 minutos min de leitura
Pessoas, Cultura organizacional, Gestão de pessoas, Liderança, times e cultura, Liderança, Gestão de Pessoas
23 de julho de 2025
Entre idades, estilos e velocidades, o que parece distância pode virar aprendizado. Quando escuta substitui julgamento e curiosidade toma o lugar da resistência, as gerações não competem - colaboram. É nessa troca sincera que nasce o que importa: respeito, inovação e crescimento mútuo.

Ricardo Pessoa

5 minutos min de leitura
Liderança, Marketing e vendas
22 de julho de 2025
Em um mercado saturado de soluções, o que diferencia é a história que você conta - e vive. Quando marcas e líderes investem em narrativas genuínas, construídas com propósito e coerência, não só geram valor: criam conexões reais. E nesse jogo, reputação vale mais que visibilidade.

Anna Luísa Beserra

5 minutos min de leitura
Tecnologia e inovação
15 de julho 2025
Em tempos de aceleração digital e inteligência artificial, este artigo propõe a literacia histórica como chave estratégica para líderes e organizações: compreender o passado torna-se essencial para interpretar o presente e construir futuros com profundidade, propósito e memória.

Anna Flávia Ribeiro

17 min de leitura
Inovação
15 de julho de 2025
Olhar para um MBA como perda de tempo é um ponto cego que tem gerado bastante eco ultimamente. Precisamos entender que, num mundo complexo, cada estudo constrói nossas perspectivas para os desafios cotidianos.

Frederike Mette e Paulo Robilloti

6 min de leitura
User Experience, UX
Na era da indústria 5.0, priorizar as necessidades das pessoas aos objetivos do negócio ganha ainda mais relevância

GEP Worldwide - Manoella Oliveira

9 min de leitura