ESG
3 min de leitura

Cinco razões pelas quais colaboradores autistas podem ter dificuldade para falar temporariamente

É psicólogo, especialista em terapia comportamental cognitiva em saúde mental, mestre em psicologia da saúde. Faz parte do grupo de trabalho sobre Direitos Humanos nas Empresas da rede brasileira do Pacto Global da ONU e é diretor geral da Specialisterne no Brasil.

Compartilhar:

Imagine um colaborador que normalmente é articulado, prolixo e capaz de se expressar com clareza, de repente lutando para formar uma frase simples. Essa situação pode parecer intrigante ou até alarmante para colegas e gestores, mas, para muitas pessoas autistas, é uma experiência comum e profundamente desafiadora chamada mutismo situacional.

Esse fenômeno não é fruto de desinteresse, grosseria ou desobediência, como muitos podem interpretar equivocadamente. Ele está enraizado na neurodiversidade e nas formas únicas como o cérebro autista processa o mundo ao seu redor. Aqui estão cinco razões que ajudam a compreender por que isso acontece:

Surpresa ou interrupção repentina

Para muitas pessoas autistas, mudanças abruptas no ambiente podem ser percebidas como alarmes internos. Um exemplo típico é ser abordado de surpresa com uma pergunta casual, como “Como foi seu fim de semana?”. Apesar de parecer simples, essa interação pode desencadear uma sobrecarga de processamento.

O cérebro autista apresenta padrões únicos de conectividade que pode influenciar a integração de informações — contexto, tom, linguagem corporal e formulação da resposta. Quando surpreendido, esse sistema pode falhar temporariamente, causando dificuldade em articular palavras.

Hiperfoco interrompido

O estado de hiperfoco, comum em muitas pessoas autistas, é como estar imerso em uma bolha de produtividade e concentração. Uma interrupção nesse estado pode ser extremamente desorientadora, como se fios de pensamento cuidadosamente alinhados fossem cortados de repente.

Quando isso acontece, o colaborador pode parecer inexpressivo ou incapaz de responder verbalmente. Essa reação não é insubordinação, mas uma resposta natural ao impacto cognitivo da mudança abrupta.

Sobrecarga emocional e confusão social

Pessoas autistas muitas vezes lutam para compreender nuances sociais e reações emocionais inesperadas. Uma resposta agressiva ou sarcástica a algo que disseram ou fizeram pode ser um gatilho potente para o mutismo situacional.

A confusão entre intenção e reação — especialmente quando há uma discrepância entre o que o colaborador pretendia e como foi interpretado — pode criar um estado de “congelamento”, dificultando a fala.

Esgotamento sensorial e mental

O cérebro autista processa significativamente mais informações em repouso do que o cérebro neurotípico, o que aumenta a suscetibilidade ao esgotamento. Dias particularmente intensos ou ambientes sensorialmente desafiadores podem levar a uma redução temporária na capacidade de falar.

O mutismo situacional, nesse caso, é um sinal claro de sobrecarga. Assim como um músculo exausto, o sistema cognitivo precisa de tempo para se recuperar.

Ansiedade diante de demandas sociais

Situações de pressão, como reuniões inesperadas ou perguntas reiteradas, podem amplificar a ansiedade e agravar o mutismo situacional. Quanto mais o colaborador sente que está sendo julgado ou pressionado, maior a probabilidade de a fala travar completamente.

Essa ansiedade pode ser exacerbada pelo medo de ser mal compreendido ou pela percepção de que seu silêncio está sendo visto como desrespeito ou descaso.

Mais do que uma questão de acolhimento, adaptar o ambiente para atender às necessidades de colaboradores autistas é um investimento estratégico. Empresas que promovem inclusão e empatia não só retêm talentos valiosos, mas também fortalecem a cultura organizacional como um todo.

Afinal, compreender o silêncio é tão importante quanto valorizar a fala.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando o corpo pede pausa e o negócio pede pressa

Entre liderança e gestação, uma lição essencial: não existe performance sustentável sem energia. Pausar não é fraqueza, é gestão – e admitir limites pode ser o gesto mais poderoso para cuidar de pessoas e negócios.

Inovação & estratégia
24 de outubro de 2025
Grandes ideias não falham por falta de potencial - falham por falta de método. Inovar é transformar o acaso em oportunidade com observação, ação e escala.

Priscila Alcântara e Diego Souza

6 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
23 de outubro de 2025
Alta performance não nasce do excesso - nasce do equilíbrio entre metas desafiadoras e respeito à saúde de quem entrega os resultados.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional.

4 minutos min de leitura
Uncategorized
22 de outubro de 2025
No setor de telecom, crescer sozinho tem limite - o futuro está nas parcerias que respeitam o legado e ampliam o potencial dos empreendedores locais.

Ana Flavia Martins - Diretora executiva de franquias da Algar

4 minutos min de leitura
Marketing & growth
21 de outubro de 2025
O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

5 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
20 de outubro de 2025
Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.

Marília Tosetto - Diretora de Talent Management na Blip

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
15 de outubro de 2025
Cuidar da saúde mental virou pauta urgente - nas empresas, nas escolas, nas nossas casas. Em um mundo acelerado e hiperexposto, desacelerar virou ato de coragem.

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Marketing & growth
14 de outubro de 2025
Se 90% da decisão de compra acontece antes do primeiro contato, por que seu time ainda espera o cliente bater na porta?

Mari Genovez - CEO da Matchez

3 minutos min de leitura
ESG
13 de outubro de 2025
ESG não é tendência nem filantropia - é estratégia de negócios. E quando o impacto social é parte da cultura, empresas crescem junto com a sociedade.

Ana Fontes - Empreendeedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança