Uncategorized

Clay Christensen sobre estratégias pessoais

Confira a entrevista exclusiva que Clayton Christensen nos deu no 2º semestre de 2014. O entrevistador dessa foi Chris Stanley sobre seu livro How Will You Measure your Life?, mas essa foi apenas uma das várias vezes que esta revista publicou conteúdo de Clayton. Estamos de luto, por razões profissionais e pessoais: não é possível discutir inovação sem passar por conceitos de Christensen – para citar um, a ideia do “job to be done” – e ele foi uma das pessoas mais amáveis com que convivemos.

Compartilhar:

Alguns anos atrás, estudantes de MBA da Harvard Business School propuseram um desafio a seu célebre professor, Clayton Christensen, considerado um dos maiores especialistas mundiais em estratégia. Queriam que ele aplicasse à vida as teorias de negócios que ensinava e que lhes antecipasse onde estariam depois de 20 anos.

Christensen lhes fez perguntas sobre seu principal objetivo para a vida pessoal e foi informado de que esses alunos não se viam cobertos de fama e riqueza, mas no centro de uma família bem estruturada, em um relacionamento sólido com o cônjuge. 

Então, indagou-lhes sobre o caminho que estavam percorrendo em busca desse objetivo: um número significativo dos estudantes priorizava a carreira, investindo tempo e energia em demasia no êxito profissional e, consequentemente, destruindo o casamento e distanciando-se dos filhos. 

Havia uma incongruência, segundo o professor: eles tinham concebido uma estratégia de vida, mas não pensavam realmente em executá-la.  

Relembrando essa história, Christensen diz nesta entrevista que o problema das estratégias pessoais é exatamente o mesmo das empresariais: a não correspondência entre o caminho e o objetivo. A seguir, ele discute um pouco desse assunto pessoal, que tem sido objeto de suas aulas e palestras tanto quanto inovação, desde que lançou seu How Will You Measure Your Life?, em 2012, quando soube que estava com câncer. [Segundo foi noticiado, ele morreu em consequência  de complicações do tratamento do câncer.]

#### O PROBLEMA  DO SUCESSO

Segundo Christensen, poucos se dão conta disso, mas o fato de investirmos na vida profissional no curto prazo contamina nossa maneira de pensar a vida pessoal. 

“Os indivíduos que buscam vencer na carreira investem toda a sua energia e todo o seu tempo em atividades que lhes deem sucesso imediato, como fechar um acordo, lançar um produto, fazer uma apresentação ou conseguir uma promoção”, afirma o especialista, e isso acaba distorcendo as visões relativas ao longo prazo. 

Christensen oferece seu exemplo pessoal como contraponto. Ele também foca o sucesso profissional –é o criador do conceito de inovação de ruptura, que é a base de clusters como o Vale do Silício, inspirou líderes tão emblemáticos quanto Steve Jobs e Andy Grove, e escreveu O Dilema da Inovação, um dos seis livros de negócios mais importantes de todos os tempos, segundo a revista The Economist.

Mesmo assim, ele é religioso –mórmon– e impõe limites à atividade profissional. “Minha mulher e eu decidimos que eu nunca trabalharia aos domingos, por exemplo, por ser um dia dedicado à família e a Deus, e optei por também não trabalhar aos sábados, para poder criar meus filhos e ajudá-los a serem pessoas melhores.” 

Para alguém tão focado no trabalho quanto ele, essas decisões foram difíceis, admite. “É muito mais fácil comprometer-se com a carreira 100% do tempo do que envolver-se de maneira restrita”, explica.

#### **ESTRATÉGIA DELIBERADA**

O que facilitou esse estabelecimento de limites por Christensen foi a aplicação de conceitos do mundo corporativo à vida pessoal, como a diferença entre estratégia “emergente” e estratégia “deliberada”. O professor de Harvard diz ter entendido que a maior parte da vida profissional é determinada por uma estratégia emergente, uma vez que, em começo de carreira, é impossível saber que oportunidades e circunstâncias vão se apresentar. 

Em contrapartida, pensar no tipo de indivíduo que queremos ser é uma estratégia deliberada. “Aliás, não fazer isso na vida pessoal pode nos trazer maus resultados com o tempo.”

A estratégia deliberada de Christensen foi clara e razoavelmente detalhista: “Quis e quero ser uma pessoa amável e desinteressada. Como sou religioso, quero que quem se encontrar comigo sinta que Deus existe e o ama através de mim. E quero ser o tipo de pessoa com quem meus filhos desejem se parecer. Esses objetivos são meu benchmark; é com eles que confronto as oportunidades que se apresentam em minha vida e faço escolhas”. 

Talvez essa estratégia deliberada seja fácil de implementar para um acadêmico respeitado, mas é viável para alguém obrigado pelo chefe a trabalhar nos fins de semana? 

Christensen responde que sim, oferecendo uma história pessoal de quando era mais jovem e colaborador de uma empresa. Ele conta que explicitou ao gerente que dedicaria todos os esforços ao trabalho, mas não trairia seus objetivos da vida pessoal. “Meus superiores e colegas me cumprimentaram por minha coragem.” 

#### **OBSTÁCULOS**

Para quem recorre a situações-limite como doenças para trocar a estratégia deliberada por uma emergente, Christensen diz que isso é desculpa e funciona como um exemplo vivo do contrário. Não faz muito tempo, ele passou por três anos traumáticos, em que sofreu ataque cardíaco, câncer e, finalmente, um derrame cerebral que o deixou sem poder falar. 

Curou-se em todos os casos, recuperando rapidamente a fala e ficando sem sequelas. Ele precisou ser flexível, mas não abandonou sua estratégia deliberada de vida pessoal. 

Depois de tudo isso, em 2012 e 2013, executivos, consultores e professores o elegeram o pensador de gestão mais influente do mundo.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Reaprender virou a palavra da vez

Reaprender não é um luxo – é sobrevivência. Em um mundo que muda mais rápido do que nossas certezas, quem não reorganiza seus próprios circuitos mentais fica preso ao passado. A neurociência explica por que essa habilidade é a verdadeira vantagem competitiva do futuro.

ESG, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
3 de setembro de 2025
O plástico nasceu como símbolo do progresso - hoje, desafia o futuro do planeta. Entenda como uma invenção de 1907 moldou a sociedade moderna e se tornou um dos maiores dilemas ambientais da nossa era.

Anna Luísa Beserra - CEO da SDW

0 min de leitura
Inovação & estratégia, Empreendedorismo, Tecnologia & inteligencia artificial
2 de setembro de 2025
Como transformar ciência em inovação? O Brasil produz muito conhecimento, mas ainda engatinha na conversão em soluções de mercado. Deep techs podem ser a ponte - e o caminho já começou.

Eline Casasola - CEO da Atitude Inovação

5 minutos min de leitura
Liderança, Empreendedorismo, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
1 de setembro de 2025
Imersão de mais de 10 horas em São Paulo oferece conteúdo de alto nível, mentorias com especialistas, oportunidades de networking qualificado e ferramentas práticas para aplicação imediata para mulheres, acelerando oportunidades para um novo paradigma econômico

Redação HSM Management

0 min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
1 de setembro de 2025
Na era da creator economy, influência não é mais sobre alcance - é sobre confiança. Você já se deu conta como os influenciadores se tornaram ativos estratégicos no marketing contemporâneo? Eles conectam dados, propósito e performance. Em um cenário cada vez mais automatizado, é a autenticidade que converte.

Salomão Araújo - VP Comercial da Rakuten Advertising no Brasil

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
29 de agosto de 2025
Estamos entrando na temporada dos planos estratégicos - mas será que o que chamamos de “estratégia” não é só mais uma embalagem bonita para táticas antigas? Entenda o risco do "strategy washing" e por que repensar a forma como construímos estratégia é essencial para navegar futuros possíveis com mais consciência e adaptabilidade.

Lilian Cruz, Cofundadora da Ambidestra

4 minutos min de leitura
Empreendedorismo, Inovação & estratégia
28 de agosto de 2025
Startups lideradas por mulheres estão mostrando que inovação não precisa ser complexa - precisa ser relevante. Já se perguntou: por que escutar as necessidades reais do mercado é o primeiro passo para empreender com impacto?

Ana Fontes - Empreendedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Tecnologia & inteligencia artificial
26 de agosto de 2025
Em um universo do trabalho regido pela tecnologia de ponta, gestores e colaboradores vão obrigatoriamente colocar na dianteira das avaliações as habilidades humanas, uma vez que as tarefas técnicas estarão cada vez mais automatizadas; portanto, comunicação, criatividade, pensamento crítico, persuasão, escuta ativa e curiosidade são exemplos desse rol de conceitos considerados essenciais nesse início de século.

Ivan Cruz, cofundador da Mereo, HR Tech

4 minutos min de leitura
Inovação
25 de agosto de 2025
A importância de entender como o design estratégico, apoiado por políticas públicas e gestão moderna, impulsiona o valor real das empresas e a competitividade de nações como China e Brasil.

Rodrigo Magnago

9 min de leitura
Cultura organizacional, ESG, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
25 de agosto de 2025
Assédio é sintoma. Cultura é causa. Como ambientes de trabalho ainda normalizam comportamentos abusivos - e por que RHs, líderes e áreas jurídicas precisam deixar a neutralidade de lado e assumir o papel de agentes de transformação. Respeito não pode ser negociável!

Viviane Gago, Facilitadora em desenvolvimento humano

5 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Estratégia, Inovação & estratégia, Tecnologia e inovação
22 de agosto de 2025
Em tempos de alta complexidade, líderes precisam de mais do que planos lineares - precisam de mapas adaptativos. Conheça o framework AIMS, ferramenta prática para navegar ambientes incertos e promover mudanças sustentáveis sem sufocar a emergência dos sistemas humanos.

Manoel Pimentel - Chief Scientific Officer na The Cynefin Co. Brazil

8 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança