Você já ouviu falar em “power skills”? Em tradução livre, esse rol de habilidades no universo do trabalho se enquadraria com alguma tranquilidade no cardápio das fortes competências. Àquelas que alteram o ponteiro da carreira de qualquer pessoa e que são valorizadas, e reconhecidas, pelos gestores dos diversos departamentos de Liderança no Brasil e no exterior.
Criado em 2019, quando Josh Bersin, um influente analista e estudioso da área de recursos humanos, fez um artigo defendendo que, na verdade, as chamadas “soft skills” deveriam ser encaradas como habilidades extraordinárias e, portanto, de soft, ou seja, suave, nada tinham. Na verdade, esses pontos eram power.
Só que essa discussão ganhou novo impulso, quando a Inteligência Artificial (IA) entrou de vez na vida das pessoas, das empresas e de qualquer iniciativa socioeconômica e cultural do planeta. Tanto que até uma ferramenta passou a identificar os principais pontos fortes de um colaborador. Essa ferramenta é a “StrengthsFinder”, usada na avaliação de talentos criada pela Gallup, que identifica os principais pontos fortes de uma pessoa em sua carreira profissional.
Borja Castelar, palestrante e educador, afirma que áreas do conhecimento como comunicação, criatividade, pensamento crítico, persuasão, escuta ativa e curiosidade são exemplos de habilidades humanas que, segundo o palestrante, representam hoje 85% do sucesso profissional. Mas com a IA… Bem, com a IA, essa proporção deve chegar a 95%.
O raciocínio é simples: as tarefas técnicas serão cada vez mais automatizadas, mas as habilidades humanas continuarão sendo decisivas. E o mais importante: devemos potencializar as “power skills” que já temos como fortalezas, e não gastar a maior parte da energia tentando corrigir o que não é natural para nós.
Se pararmos um minuto para refletir sobre isso, vamos perceber que estamos falando de autoconhecimento. Mas não como trajeto. E sim como ponto de partida. Porque não dá para falar em alta performance ou liderança inspiradora sem entender profundamente quais são as nossas forças.
É justamente aí que temos um ponto. Uma questão. A maior parte das avaliações e feedbacks no mundo corporativo foca nas “áreas de melhoria”. Raramente líderes e departamentos de Recursos Humanos concentram esforços em mapear e amplificar as forças já existentes. E isso cria um senão o qual Castelar classificou como “sociedade das fraquezas”. Explico.
O local de trabalho é onde passamos a maior parte do nosso valioso tempo. Nesse espaço de convivência e produtividade, tentamos nos tornar medianos no que somos ruins, em vez de excepcionais no que somos bons. E essa é a mudança essencial de perspectiva para quem deseja repensar o desenvolvimento de pessoas.
Nessa esteira, a IA terá um papel crucial, porque ela pode funcionar como amplificador das forças humanas, liberando tempo e energia para que possamos usar mais nossas potencialidades. E é aí que surge uma reflexão: dominar a IA generativa será tão fundamental quanto “saber inglês” no futuro.
Portanto, o papel dos departamentos de Gestão e de Liderança não é só adotar tecnologia, mas garantir que ela seja usada para reduzir tarefas repetitivas e criar espaço para o que exige habilidades humanas. Em outras palavras, usar a IA para que as pessoas tenham mais tempo para se comunicar, criar, resolver problemas complexos e liderar – áreas onde as “power skills” podem brilhar.
Só que nada se dá num passe de mágica. Vai precisar do interesse do colaborador, claro, mas fundamentalmente da liderança e de sua força catalisadora. Porque um bom líder não apenas reconhece as forças da sua equipe, mas também cria as condições para que elas sejam usadas todos os dias. E isso envolve muita coisa. Desde possuir curiosidade genuína, praticar escuta ativa, comunicar com clareza e propósito, além de estimular o aprendizado contínuo.
Quando líderes agem assim, conseguem não apenas melhorar resultados, mas também aumentar o engajamento e a retenção de talentos.
Em outras palavras, a união entre IA e “power skills” será uma vantagem competitiva. Porque, sem dúvida, será mais produtivo, mais humano e mais alinhado ao futuro do trabalho. E não se trata de ignorar as fraquezas. Não! Mas parar de fazer delas o centro do desenvolvimento, porque quando trabalhamos a partir do que já somos bons, não só entregamos mais, como nos sentimos mais engajados e realizados.
Essa mudança de mentalidade – do esforço para corrigir, para o impulso de potencializar – pode ser a chave para transformar a gestão de pessoas nos próximos anos. E é exatamente nisso que quero continuar apostando: produtos e práticas que ajudem líderes e equipes a performar com mais naturalidade, propósito e impacto.