Não importa se você é pessoa física ou jurídica: todo mundo já teve aquela ideia que mudaria o mundo (ou, pelo menos, o mundo da sua empresa) e ela nem chega a sair do papel. Muitas vezes, ela morre ainda na semente. E, mesmo que o impacto fosse limitado ao seu próprio negócio, só o fato de dar forma à ideia já seria altamente relevante. Ainda assim, por falta de execução, talvez uma boa oportunidade de negócio tenha se perdido.
A verdade é que aquele produto genial que vemos na rua (“Como ninguém nunca pensou nisso?”) não surgiu do nada, muito menos se expandiu de forma revolucionária. Um bom exemplo é o AirBNB. Em 2007, Brian Chesky e Joe Gebbia tiveram a ideia de alugar colchões infláveis para hóspedes que precisavam de acomodação durante uma conferência em São Francisco. Três pessoas se hospedaram. Quando o site foi lançado, em agosto do ano seguinte, para a Convenção Democrata, o total subiu para 80 reservas.
Da ideia até a primeira ferramenta disponível, passou-se um ano – e ainda levou mais tempo até a virada de chave. Foi só em 2019 que a empresa processou 70 bilhões de dólares em pagamentos. Não foi do dia para a noite, mas resultado de muito esforço e resiliência. O negócio quase naufragou durante a pandemia, quando as viagens foram interrompidas com as restrições provocadas pela pandemia de COVID-19. Novos desafios seguem surgindo, e o esforço de manter a plataforma relevante e competitiva é contínuo.
Ideias precisam de terreno fértil
Acreditar que grandes descobertas acontecem por acaso é um pensamento romântico e, em grande parte, equivocado. Elas surgem a partir de investimento em pesquisa. O acaso pode até estar presente, mas também exige preparo. A chamada serendipidade, a descoberta de algo de maneira inesperada, exige capacidade de observação e intuição para identificar algo valioso em meio às situações não planejadas.
Para que o acaso se torne oportunidade, é preciso considerar a combinação de outros três fatores: observação, interpretação e ação. É uma habilidade que pode ser desenvolvida ao se manter aberto a novas experiências e ao cultivar a curiosidade e a capacidade de ver conexões inesperadas. Ou seja, a serendipidade não é sorte, mas um método.
Uma boa exemplificação disso é a descoberta da penicilina. Embora atribua-se ao acaso, o fato é que Alexander Fleming era médico, estava pesquisando e soube interpretar os resultados. Se fosse outra cientista igualmente brilhante, como Marie Curie, talvez a descoberta não tivesse ocorrido, porque ela era física, e o olhar seria outro. A propósito, vale salientar que o sucesso não foi instantâneo: a penicilina só passou a ser usada em larga escala nos anos 1940.
Qual o seu método para tirar as ideias do papel e levá-las à escala?
O primeiro passo é mudar o modelo mental. Como disse Steve Jobs, inovação é a capacidade de ver a mudança como uma oportunidade, e não como uma ameaça. É preciso também se desapegar: entender que encontrar a melhor solução para um problema é mais importante do que se agarrar à ideia original.
Vivemos em um mundo cada vez mais complexo, com tecnologias que aceleram transformações. Estar pronto para inovar exige aliar conhecimento acadêmico, tecnologia habilitadora e experiência prática. É isso que permite enxergar a oportunidade de oferecer colchões infláveis durante uma conferência – ou de ver, num fungo, um potencial antibiótico que vai salvar milhões de vidas nas décadas seguintes.
Da ideia à execução: um caminho possível
Depois de trabalhar o ambiente, é hora de se aprofundar no estado da arte, mapear as tendências de evolução da tecnologia e criar um plano de trabalho que define o caminho a seguir dentre tantas possibilidades, priorizando temas que podem servir de insumo para uma esteira inovadora.
Você iniciou sua pesquisa e já consegue enxergar oportunidades? Hora de experimentar, porque quem nunca errou, nunca experimentou nada novo – já diz a citação atribuída a Einstein. A oportunidade vai servir um segmento de clientes novos ou preexistentes? É uma nova proposta de valor ou amplia o alcance de algo que já está na rua?
Lembre-se: comece pequeno. Compre os colchões infláveis antes de construir o site. Teste na conferência local antes de lançar globalmente. Só assim é possível validar a ideia antes de investir pesado em algo que pode não se sustentar.
Enquanto o seu time constrói uma primeira versão da solução para testar com mais pessoas as explorações seguem, em busca de novos insights e novos acasos, até que chegue o dia de lançar a solução para os agentes externos. A cada ciclo, você aprende, ajusta e se aproxima de um modelo escalável.
Tecnologia como habilitadora estratégica
Na construção da primeira versão, também é hora de estamos abertos a novas tecnologias, arquiteturas e tendências. Em muitos casos, esses elementos já estão definidos e amplamente difundidos nas organizações. Ainda assim, é fundamental mantermos uma postura aberta para avaliar o novo, entendendo como tecnologias e arquiteturas podem atuar como habilitadoras estratégicas para o negócio.
Se os testes forem positivos e houver sinais claros de que vale a pena seguir em frente, é hora de expandir. Mas atenção: ainda não é o momento de buscar lucro. Escalar ainda exige investimento. É um estágio de crescimento com suas próprias dores e desafios.
Inovação é jornada, não destino
Entender que o momento é de escalar só indica que temos lastro para crescer e não precisamos parar para revisar os planos e voltar à prancheta antes de injetar mais recursos. É um passo à frente na trilha e não a vista maravilhosa da montanha ainda – essa parte ainda está por vir e não vai ser na escala.
A transição de uma ideia promissora para uma inovação em escala é um percurso árduo que exige mais do que inspiração momentânea. Como evidenciado pelos exemplos do Airbnb e da penicilina, a serendipidade desempenha um papel, mas sua verdadeira força reside na capacidade de observação, interpretação e ação metódica.
Afinal, regar a ideia é um processo contínuo, e o sucesso duradouro emerge da capacidade de transformar o acaso em oportunidade.
A experiência do CESAR
No CESAR, é colocado em prática uma jornada completa de inovação, da pesquisa à escala. Esse caminho combina experimentação e concretização de ideias por meio de protótipos, MVPs (na tradução, Produto Mínimo Viável) com tecnologia de ponta e evolução estruturada até soluções escaláveis.
No entanto, sentimos a necessidade de aprofundar ainda mais a conexão com a pesquisa de fronteira e estado da arte. Foi nesse contexto que surgiu o EDGE (Emerging Digital Growth Experience), um framework que parte da pesquisa tecnológica para enxergar suas conexões com problemas reais, propondo soluções digitais escaláveis alinhadas às necessidades de negócio.
Aliar pesquisas a processos colaborativos, focados nas necessidades das pessoas e negócios é o caminho para transformar ideias em soluções emergentes, não deixando que o sucesso aconteça ao acaso, mas trazendo todos os fatores que permitirão transformar as oportunidades em uma realidade escalável.




