#TBT Especial

Continue a ir além do valor de venda

Em 2002, a área de vendas começou a ficar mais estratégica com o livro "Beyond Selling Value", que surgiu em resposta a uma crescente complexidade. O vendedor passou a ser um jogador de xadrez. Em 2022, o método segue válido – mas ainda não é adotado por todos
Rubens Pimentel é CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial e já treinou mais de 32 mil executivos e profissionais.

Compartilhar:

Vinte anos atrás era lançado nos Estados Unidos o livro *Beyond selling value*, de Mark Shonka e Dan Kosch, que representou um salto na história das vendas estratégicas. Foi com ele que as estratégias de negociação passaram a evoluir para algo próximo a uma partida de xadrez. O vendedor, assim como o enxadrista, passou a precisar conhecer as regras, fazer uma boa abertura, desenvolver seu jogo conhecendo bem seu oponente e adaptando suas jogadas e, principalmente, apresentar um gran finale para ganhar a partida.

As duas décadas de existência desse método não significam, no entanto, que todo vendedor hoje esteja jogando como um Magnus Carlsen. Ou um Kasparov. Ou um Mequinho, para ficar num exemplo brasileiro. Então, ocupo este espaço para listar pontos-chave do método de Shonka e Kosch – que são extremamente atuais, mas ainda não amplamente dominados. À luz de Shonka e Kosch (e mais uns autores), venho apoiar três fases das estratégias de negociação: abertura do processo; comunicação com os contatos e apresentação de condições; e o fechamento.

## Fase um: 25% do tempo
Os aspectos que devem ser observados na fase de abertura são: o histórico e números do cliente; a possibilidade de negócios com ele; o papel e o perfil dos principais contatos. Em geral, as duas primeiras estruturas de pesquisa estão disponíveis na internet e basta uma rápida navegação para ter acesso a elas.
Os dois últimos são diferentes; dependem de pesquisas no mercado e com clientes por meio de conversas, perguntas e observação. Por isso, me concentro nos padrões desses dois.

Os perfis dos contatos, como muitos sabem, remontam aos tipos psicológicos de Jung, com suas preferências no modo de comunicação:(i) racional e analítico, (ii) relacional e integrador, (iii) conceitual e expressivo e (iv) pragmático e objetivo.

Os papéis dos contatos, por sua vez, são seis. Insiders(1) e coaches(2) são os personagens dentro do cliente (ou prospect) que genuinamente querem os serviços e produtos. De modo ético, eles dão os sinais e acendem as luzes da pista para podermos pousar. Essas relações requerem estudo, pesquisa, idas a campo, empatia e flexibilidade. Avaliadores (3) e usuários (4) são os que precisam ter a vida facilitada por sua oferta. Em geral trabalham para evitar problemas, portanto é fundamental entender o que esperam. Gatekeepers (5) são contra a proposta, ou por terem outras preferências, ou por verem mais valor nos concorrentes – ou ainda por já terem tido problemas com sua empresa. São os mais negligenciados, mas identificá-los e trabalhar para neutralizar sua resistência de modo positivo é o caminho mais curto para o sucesso. Exigem empatia, flexibilidade e, muitas vezes, paciência.

Tudo isso ajudará a acessar os decisores (6). Sempre que não estiver falando com decisores, você correrá mais riscos de fracasso ou, pelo menos, terá um ciclo de fechamento de venda mais longo.

Todos os contatos, independentemente do perfil ou papel, ainda devem ser qualificados pelo diagrama “beyond selling value” {veja abaixo}: localize a pessoa de “alta influência e alta posição”; é quem decide. Mas não decide só; ouve colegas de “alta influência e baixa posição”. Ache-os também. Atenção: isso não significa centrar esforços só em altas posições e influenciadores; cuide de todos.

![Thumbs HSM 156-06](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/68FsRSjtxcqsOheADyVrMy/6d940c25248b0dbf56c9b92eb9889938/Thumbs_HSM_156-06.jpg)

Agora prepare bem sua abordagem. Ajuda fazer-se perguntas com o método 5W2H, que já foi atribuído até a Aristóteles.

## Fases dois e três: 75% do tempo
A etapa de reuniões e comunicações com os envolvidos requer um preparo próprio, que começa pela atenção à comunicação. Geralmente cuidamos bem do que dizemos – embora sempre dê para melhorar, – mas negligenciamos a comunicação não verbal.
No que dizemos, as perguntas ao cliente/prospect são cruciais – para definir objetivos e metas. Então, não improvise. Acione, por exemplo, o método spin selling para elaborar perguntas sobre situação, problema, implicações e solução necessária. É outro #tbt poderoso, que cria valor para os clientes de modo gentil e eficiente.

A linguagem não verbal é ligada à condição emocional e física do momento. Ou seja, quem quiser vender deve cuidar do próprio bem-estar. Cuidar de si é um dos dois grandes segredos dos profissionais de vendas de sucesso!

E o outro segredo? É cuidar do tempo. Então, você deverá criar um roadmap dos contatos e encontros que serão necessários, e terá uma boa visão do tempo que o processo pode levar.

Em campo, siga duas regrinhas: usar a própria experiência (em tudo) e nunca tirar os olhos do objetivo e do valor que pode ser criado para os clientes.

No fim do processo, não caia na armadilha dos elementos “preço” ou “desconto”. É mais efetivo primeiro apresentar a solução, os benefícios e o valor efetivo que a transação trará para o negócio do cliente. Sem improvisos. Quando for negociar o preço, se houver impasse, busque a zona de possível acordo entre as partes, algo que seja viável para o cliente e que traga recursos para sua empresa. Entre com o preço próximo de seu alvo e negocie ajustes que façam sentido nessa zona. Se o cliente demorar a responder, faça uma tentativa de fechamento para sentir a temperatura. Sendo o momento, feche. Não sendo, volte duas casas para terminar algo que faltou no processo.

Há muitos anos acompanho profissionais de vendas. Suas maiores dificuldades em fechar têm a ver com a falta de uma frase ou gatilho treinado e testado que os deixem confortáveis nessa fase. Algo que pede autoconhecimento, tão essencial quanto o preparo.

A CONQUISTA DE PROSPERIDADE segue diretamente ligada à eficácia e à produtividade em transações comerciais. E, para ambas, o método Beyond Selling Value continua atualíssimo.

Artigo publicado na HSM Management nº 156.

Compartilhar:

Rubens Pimentel é CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial e já treinou mais de 32 mil executivos e profissionais.

Artigos relacionados

Relacionamentos geram resultados

Em tempos de alta performance e tecnologia, o verdadeiro diferencial está na empatia: um ativo invisível que transforma vínculos em resultados.

Inovação & estratégia, Marketing & growth
1 de setembro de 2025
Na era da creator economy, influência não é mais sobre alcance - é sobre confiança. Você já se deu conta como os influenciadores se tornaram ativos estratégicos no marketing contemporâneo? Eles conectam dados, propósito e performance. Em um cenário cada vez mais automatizado, é a autenticidade que converte.

Salomão Araújo - VP Comercial da Rakuten Advertising no Brasil

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
29 de agosto de 2025
Estamos entrando na temporada dos planos estratégicos - mas será que o que chamamos de “estratégia” não é só mais uma embalagem bonita para táticas antigas? Entenda o risco do "strategy washing" e por que repensar a forma como construímos estratégia é essencial para navegar futuros possíveis com mais consciência e adaptabilidade.

Lilian Cruz, Cofundadora da Ambidestra

4 minutos min de leitura
Empreendedorismo, Inovação & estratégia
28 de agosto de 2025
Startups lideradas por mulheres estão mostrando que inovação não precisa ser complexa - precisa ser relevante. Já se perguntou: por que escutar as necessidades reais do mercado é o primeiro passo para empreender com impacto?

Ana Fontes - Empreendedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Tecnologia & inteligencia artificial
26 de agosto de 2025
Em um universo do trabalho regido pela tecnologia de ponta, gestores e colaboradores vão obrigatoriamente colocar na dianteira das avaliações as habilidades humanas, uma vez que as tarefas técnicas estarão cada vez mais automatizadas; portanto, comunicação, criatividade, pensamento crítico, persuasão, escuta ativa e curiosidade são exemplos desse rol de conceitos considerados essenciais nesse início de século.

Ivan Cruz, cofundador da Mereo, HR Tech

4 minutos min de leitura
Inovação
25 de agosto de 2025
A importância de entender como o design estratégico, apoiado por políticas públicas e gestão moderna, impulsiona o valor real das empresas e a competitividade de nações como China e Brasil.

Rodrigo Magnago

9 min de leitura
Cultura organizacional, ESG, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
25 de agosto de 2025
Assédio é sintoma. Cultura é causa. Como ambientes de trabalho ainda normalizam comportamentos abusivos - e por que RHs, líderes e áreas jurídicas precisam deixar a neutralidade de lado e assumir o papel de agentes de transformação. Respeito não pode ser negociável!

Viviane Gago, Facilitadora em desenvolvimento humano

5 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Estratégia, Inovação & estratégia, Tecnologia e inovação
22 de agosto de 2025
Em tempos de alta complexidade, líderes precisam de mais do que planos lineares - precisam de mapas adaptativos. Conheça o framework AIMS, ferramenta prática para navegar ambientes incertos e promover mudanças sustentáveis sem sufocar a emergência dos sistemas humanos.

Manoel Pimentel - Chief Scientific Officer na The Cynefin Co. Brazil

8 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Finanças, Marketing & growth
21 de agosto de 2025
Em tempos de tarifas, volta de impostos e tensão global, marcas que traduzem o cenário com clareza e reforçam sua presença local saem na frente na disputa pela confiança do consumidor.

Carolina Fernandes, CEO do hub Cubo Comunicação e host do podcast A Tecla SAP do Marketês

4 minutos min de leitura
Uncategorized, Empreendedorismo, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
20 de agosto de 2025
A Geração Z está redefinindo o que significa trabalhar e empreender. Por isso é importante refletir sobre como propósito, impacto social e autonomia estão moldando novas trajetórias profissionais - e por que entender esse movimento é essencial para quem quer acompanhar o futuro do trabalho.

Ana Fontes

4 minutos min de leitura
Inteligência artificial e gestão, Transformação Digital, Cultura organizacional, Inovação & estratégia
18 de agosto de 2025
O futuro chegou - e está sendo conversado. Como a conversa, uma das tecnologias mais antigas da humanidade, está se reinventando como interface inteligente, inclusiva e estratégica. Enquanto algumas marcas ainda decidem se vão aderir, os consumidores já estão falando. Literalmente.

Bruno Pedra, Gerente de estratégia de marca na Blip

3 minutos min de leitura