No dinâmico setor de telecomunicações, conhecemos bem a figura do empreendedor que construiu seu negócio do zero. O dono de um provedor regional é, antes de tudo, um visionário que identificou uma necessidade em sua comunidade e, com imensa dedicação e senso de oportunidade, a supriu. Ele conhece os clientes, entende as particularidades de sua rede e é a força motriz por trás de uma operação que gera empregos e conecta pessoas. Esse sucesso, no entanto, frequentemente encontra um teto. Isto ocorre à medida em que as funções de apoio – faturamento, marketing, expansão de portfólio, gestão de rede – além das burocracias regulatórias acabam retirando o foco dos fundadores das atividades fundamentais para a manutenção do crescimento.
É nesse ponto que o empreendedor geralmente se vê diante de alternativas disponíveis no mercado para seguir alavancando o crescimento do negócio. No caso do segmento de telecom, uma opção inovadora é o modelo de franquias, tradicional para outros ramos de atividade. Contudo, para o dono de um provedor já estabelecido e bem-sucedido, a palavra “franquia” pode soar como uma ameaça à autonomia, uma potencial diluição de sua atuação arduamente conquistada. A percepção muitas vezes é de que se trata de uma via de mão única, onde uma grande marca impõe suas regras em troca de um selo. Mas, e se pudéssemos ressignificar essa visão?
Acredito que a evolução dos modelos de negócio em nosso setor não está na simples transferência de uma marca, mas na construção de uma parceria real, de dono para dono. A tese central é que o futuro pertence à gestão compartilhada, um modelo que substitui a hierarquia pela co-construção de valor. Não se trata de transformar um empreendedor em um “franqueado”, mas de elevá-lo à condição de parceiro estratégico.
Essa nova abordagem se fundamenta em três pilares essenciais:
- Escuta ativa e inteligência de mercado: uma grande operadora possui escala, estrutura, dados e uma visão macro do mercado. O dono do provedor local possui a inteligência de campo, o conhecimento profundo das dores e anseios de sua região. A gestão compartilhada cria um canal de troca contínua, em que a estratégia corporativa é alimentada pela realidade da ponta, e o parceiro local se beneficia de uma ampla infraestrutura que as grandes empresas de telecom desenvolveram por décadas que, sozinho, não conseguiria acessar.
- Cultura de co-gestão: em vez de um manual de regras, a franqueadora pode oferecer um ecossistema de suporte que pode incluir aporte de recursos da franqueadora proporcional ao número de clientes ativos do franqueado. Isso significa assumir a complexidade de operações como faturamento, atendimento em larga escala e conformidade regulatória – desafios que consomem o tempo estratégico do dono do negócio. Ao liberá-lo dessa carga, o modelo permite que ele foque no que faz de melhor: relacionamento com o cliente e expansão comercial. A gestão é feita em conjunto, com o objetivo comum de fortalecer a operação regional.
- Crescimento sustentável: o provedor que hoje atende 10 mil clientes com excelência tem potencial para muito mais. O modelo de franquias oferece o “backbone” – não apenas em fibra óptica, mas em estrutura de negócios, poder de marca e capacidade de investimento – para que esse crescimento aconteça de forma estruturada e sustentável. Ele não está “dividindo o bolo”, mas sim se unindo a um parceiro para fazer um bolo muito maior, com mais segurança e previsibilidade.
O cenário de consolidação do mercado torna a jornada solitária do empreendedor cada vez mais desafiadora. A questão não é mais “se” irá se unir, mas “como” irá se unir de uma forma que preserve a essência do negócio e potencialize seus resultados.
A chave para essa parceria de sucesso é um diálogo entre iguais, uma conversa de dono para dono, focada em como podemos unir a agilidade e o conhecimento local à força e à estrutura de uma marca consolidada. O futuro do nosso setor será construído por meio de parcerias inteligentes que respeitem o legado do empreendedor e ofereçam um caminho claro para um novo patamar de sucesso. É a inovação a serviço do crescimento compartilhado.