ESG
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Diversidade, equidade e inclusão: a arte de sorrir, cada vez que o mundo diz “não”

Infelizmente a inclusão tem sofrido ataques nas últimas semanas. Por isso, é necessário entender que não é uma tendência, mas uma necessidade estratégica e econômica. Resistir aos retrocessos é garantir um futuro mais justo e sustentável.
Desde 2008, a Talento Incluir tem a missão de levar ações focada em colaborar com o desenvolvimento das pessoas com deficiência para ampliar a inclusão no mercado de trabalho e na sociedade como um todo. É a pioneira em inclusão produtiva de Profissionais com Deficiência. Seu propósito Propósito é romper o capacitismo para que as pessoas com deficiência ocupem os espaços nas empresas e na sociedade.

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Por Carolina Ignarra, CEO e fundadora da Talento Incluir.

“Fé para quem é forte, fé para quem é f…, fé pra quem não foge à luta. Fé pra quem não perde o foco. Fé pra enfrentar esses f…!” Esses versos da música de Iza traduzem o momento desafiador enfrentado por todos que trabalhamos e acreditamos na construção de um mundo mais justo por meio da Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I). Apesar das barreiras e dos movimentos contrários, o foco e a resiliência permanecem como marcas dessa jornada.

A crescente onda anti-ESG (Ambiental, Social e Governança), nomeada “anti-woke”, tenta enfraquecer e deslegitimar investimentos corporativos em sustentabilidade e inclusão. Porém, esse retrocesso carrega consequências claras: empresas que abandonam esses compromissos se distanciam do mercado do futuro. A agenda ESG, que inclui o fortalecimento da diversidade, não é apenas uma causa social; é uma necessidade humana, econômica e estratégica para a sobrevivência empresarial.

Mas se por um lado representa ameaça ao trabalho de algumas décadas para tentar diminuir as desigualdades sociais, por outro o movimento escancara as empresas que se apressaram em apoiar tal movimento, provando que até aqui nunca trabalharam de fato na agenda ESG. Praticaram o greenwashing e/ou socialwashing — iniciativas vazias que buscavam mais marketing do que impacto real. Essa exposição talvez seja a única “contribuição” dessa onda retrógrada, evidenciando quem realmente apoia mudanças estruturais e quem apenas seguiu tendências. Chamo de incluir por conveniência.

A situação se agrava quando um chefe de estado, como Donald Trump, desvaloriza publicamente o compromisso com pautas climáticas e de inclusão. A saída dos EUA do “Acordo de Paris” decretada por ele, somada a discursos que enfraquecem a diversidade e exterminam o amor ao próximo, revela uma postura que coloca em risco avanços sociais e ambientais conquistados a duras penas.

Essa bufonaria ainda traz o conceito distorcido de meritocracia como escudo. A meritocracia é a exclusão de base para quem é de grupos minorizados. Sua essência pressupõe igualdade de condições. No entanto, como exigir os mesmos méritos de pessoas que enfrentaram desigualdades históricas desde a infância? Para pessoas com deficiência, negros, mulheres e outros grupos, o caminho é duas vezes mais longo, e o ponto de partida, profundamente desigual.

No caso das pessoas com deficiência, a Lei de Cotas é um exemplo disso: ainda que represente um avanço, ela é frequentemente a única porta de entrada para pessoas com deficiência no mercado. Mesmo assim, a maioria dessas contratações resulta em estagnação, com profissionais permanecendo por anos na mesma posição. A meritocracia só pode ser justa quando todos têm acesso igualitário às oportunidades de desenvolvimento.

A exclusão ainda nos atinge nas interseccionalidades. Mulheres com deficiência, pessoas negras com deficiência e outros grupos que acumulam múltiplos marcadores sociais enfrentam camadas adicionais de discriminação.

Apesar dos desafios, muitas empresas continuam firmes no propósito de promover DE&I, reforçando o compromisso com um futuro mais inclusivo e sustentável. Essa postura não passa despercebida pelo consumidor, que está cada vez mais atento às ações reais das marcas.

Quando começamos a atuar na inclusão de pessoas com deficiência nas empresas esse tema era pouco valorizado e passou a ganhar força com movimentos contra o racismo, contra a homofobia, contra as intolerâncias e preconceitos. A partir daí, as empresas conheceram o rombo que a falta de políticas de inclusão da diversidade causou em tristes episódios que tiveram desfechos trágicos e de comoção pública.

A valorização do trabalho de pessoas com deficiência, por exemplo, mesmo aquém do ideal, já fomentou um nicho valioso de consumidores que agora contam com mais produtos e serviços. Com trabalho, a pessoa com deficiência desonera o INSS e movimenta a economia. Isso é notório quando percebemos agência de turismo criando pacotes específicos de viagens e passeios. Também assistimos a indústria automobilística nacional salvando seus lucros com vendas específicas de automóveis para pessoas com deficiência.

Na pesquisa “Radar da Inclusão: mapeando a empregabilidade de Pessoas com Deficiência”, realizada em parceria entre a Talento Incluir, Instituto Locomotiva, Pacto Global e iO Diversidade – com 1.230 pessoas com 18 anos ou mais, que se declararam com deficiência ou neurodivergência – destacou que a maioriados respondentes (52%) é responsável por ao menos a maior parte da renda da casa. Vejam até onde o trabalho de “formiguinha” para o avanço da diversidade já chegou. Além disso, ganhamos em representatividade, mais atores, cantores com deficiência atuando em produções de novelas, cinema, séries, propagandas etc.

As ações de DE&I no mercado de trabalho não são mais opcionais; é uma obrigação ética e econômica. Resistir aos movimentos contrários faz parte de um histórico de luta que conhecemos bem. Como diz Fernanda Montenegro, “o mundo sempre esteve para acabar”. E, ainda assim, seguimos.

É preciso ter fé na força coletiva, na resiliência e na capacidade de transformação. O poder muda de lado, e os avanços que conquistamos não serão apagados. Resistiremos.

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