Tecnologia e inovação

Entendendo o maior desafio da humanidade

Confira os motivos pelos quais você precisa se aprofundar no tema guerra por talentos em tecnologia
É inovador insaciável, ajuda empresas a incluir pessoas através da educação tecnológica oferecida pela mesttra. Engenheiro Mecânico de formação, membro da Confraria do Empreendedor, participou de capacitações na Fundação Dom Cabral, Endeavor e Singularity University.

Compartilhar:

O fascínio ao dominar novas ferramentas e processos produtivos sempre inspirou os seres humanos. Uma espécie de prazer intrínseco ao se resolver desafios com menos recursos faz algumas pessoas perderem longas noites de sono. Esses inovadores incansáveis, por sua vez, criam novas realidades que demandam adaptações dos demais. De repente, aquilo que estávamos acostumados a fazer simplesmente não é mais a maneira usual.

Na era exponencial, encontramos desafios interessantes como criar carros voadores autônomos, missões de mineração de asteroides e até turismo espacial. Sem dúvida atividades que criarão novas ferramentas que serão utilizadas em diversos setores, ampliando mais uma vez as possibilidades de evolução. No entanto, ainda necessitamos de muitas soluções em áreas emergenciais: a fome ainda não foi erradicada e o desperdício de alimentos é enorme; enquanto uns possuem conforto no lar, outros não possuem acesso à água potável e tratamento de esgoto; além da emergência de evolução das nossas soluções para o combate às pandemias que destroem vidas e tudo o que foi conquistado de valor para e pela sociedade.

Mas e quando não é possível encontrar pessoas digitalmente alfabetizadas (do inglês, digital literacy) para resolver os problemas da humanidade? Para explicar melhor este desafio, permitam-me contar uma pequena história sobre oferta e demanda.

“A disponibilidade de trigo varia de acordo com a oferta e a demanda do mercado. Se a safra foi ruim, o preço dele sobe. Você até encontra trigo, mas é de qualidade baixa, porque o de qualidade alta já foi vendido. Sua padaria precisa fazer pão amanhã, como você lida com isso? Você continua procurando trigo e fica melhor nisso. Seu time de compras fica maior e mais estratégico. Você encontra trigo com preços nunca antes vistos, você acaba não pagando. No dia seguinte, a mesma história, ou mais caro, aí você acaba pagando para poder fazer seu pão. De repente o time de compras começa a te chatear. Dinheiro não compra mais trigo, porque simplesmente não tem! Esse problema se torna tão grande que você decide fazer alguma coisa. Se aproxima dos produtores, eventualmente resolve plantar trigo no fundo da sua padaria. Só que você nunca plantou trigo, então não consegue resolver a qualidade que você quer nem a quantidade. Só que o trigo, em sua grande parte, é importado, então sua cotação é em dólar. O dólar sobe, o preço do trigo sobe ainda mais. Parece que sua padaria, antes rentável, agora enfrenta um grande risco que parece não ter solução.”

Se trocarmos a palavra trigo por pessoas, conheceremos melhor o contexto que estamos vivendo.

## Do caos para a ordem

A Grande Peste foi a pior catástrofe já vivida pela humanidade, dizimou 60% da população europeia e não havia ninguém para plantar ou colher, a sociedade entrou em colapso. Na falta de remanescentes para desempenhar as atividades diárias, alguns salários foram triplicados ou mais. Será que estamos vivendo a história novamente?

De acordo com o [ManpowerGroup](https://go.manpowergroup.com/hubfs/Talent%20Shortage%202021/MPG_2021_Outlook_Survey-Global.pdf), atingimos o recorde dos últimos 15 anos de déficit de talentos. Dos 19.046 entrevistados de 42 países, 69% reportaram dificuldades no preenchimento de vagas. Já o [relatório “The Global Talent Crunch”](https://www.kornferry.com/content/dam/kornferry/docs/pdfs/KF-Future-of-Work-Talent-Crunch-Report.pdf), realizado pelo Korn Ferry Institute antes da pandemia covid-19, afirma que em 2030 o Brasil terá um déficit de quase 800.000 talentos em tecnologia, mídia e telecomunicações, o que pode representar uma perda de valor de 28 bilhões de dólares para nossa economia.

Ao observarmos a procura por cursos de ciência da computação, algo inusitado acontece: mesmo com a grande quantidade de vagas abertas, os jovens de hoje não procuram a carreira. Infelizmente computação não está entre os 15 cursos mais concorridos na Fuvest 2019 e em muitas outras universidades, que viram seus cursos relacionados serem cancelados por falta de interesse. O índice de desistência também é alarmante, em torno de 72% para a Universidade Federal de Uberlândia em 2019. Quando fatores de diversidade são avaliados, o cenário continua caótico: somente 13% dos estudantes de ensino superior relacionados à tecnologia são mulheres (INEP/MEC).

O setor de software é campeão em rotatividade no mundo [de acordo com o LinkedIn](https://business.linkedin.com/talent-solutions/recruiting-tips/global-talent-trends-2020), mas no Brasil esta taxa é ainda maior: 35%, de acordo com a pesquisa feita em 2019 pela SinSalarial. Algumas consultorias de tecnologia já relataram taxas alarmantes de 56% na cidade de São Paulo!

Enquanto alguns já se adaptaram a contratos de trabalho mais flexíveis (do inglês, gig economy), a maioria das pessoas se desdobra para acompanhar estas mudanças e se veem excluídas, incapazes de liderar suas carreiras para uma maior relevância. Dror Gurevich, CEO da Velocity Career Labs, afirma: “O mercado de trabalho moderno é fragmentado, ultra especializado, repleto de todos os tipos de arranjos de trabalho alternativos ou empregos-gig”.

Frente a desafios desta magnitude, precisamos olhar para as oportunidades. Não se trata da busca pela redução dos salários, mas especificamente de guiar carreiras para a execução de atividades que produzam maior valor, que permitam maior liberdade e independência dos trabalhadores. As carreiras tecnológicas precisam ser melhor divulgadas, há um desconhecimento das oportunidades por grande parte da população e não há muitos casos de sucesso próximos em que pessoas possam se inspirar.

Empresas necessitam aplicar técnicas mais modernas para “dar match” entre carreiras, pessoas e tecnologias. O debate da sustentabilidade de ecossistemas locais e globais passa a fazer parte da agenda de negócios, e a urgência pela inclusão digital se faz presente no nosso cotidiano: é preciso incluir pessoas e promover a diversidade com a criação de programas completos, em que todos os interessados possam ganhar.

## O essencial, muito bem feito

O mundo mudou, a economia mundial cresceu e a utilização de tecnologias aumentou de maneira vertiginosa e transversal. O ambiente empresarial se tornou mais volátil e incerto, pressionado pela crescente demanda por competências técnicas e comportamentais: a rotatividade aumentou, os salários atingiram novos recordes e a competição por talentos agora é internacional e em dólar, trazendo um risco muito alto para os negócios, que são impactados consideravelmente quando rodadas recorde de investimento são realizadas. É preciso calcular a probabilidade e o impacto de atingirmos o momento em que o dinheiro não compra mais o crescimento empresarial. Será que já rompemos esta barreira?

Talentos e inovação, sem dúvida, são o maior desafio da humanidade, pois precisamos de pessoas trabalhando nos problemas corretos, utilizando com propriedade as novas tecnologias que surgem com uma velocidade cada vez maior, para assim contribuírem de forma mais efetiva com os grandes desafios que ainda enfrentaremos.

Se todas as empresas agora querem se tornar empresas de tecnologia, precisam entender como uma empresa dessas funciona e quais fatores permeiam seu dia a dia. Hoje o principal motivo que impede a expansão dos negócios é o fator humano. Empresas de sucesso em tecnologia são, em essência, empresas especialistas em recrutamento e seleção. Resta entender como estas podem partir de uma atuação com foco em tomar recursos de outras, para atuarem como criadoras de talentos. Todo mundo ganha.

Este é o primeiro artigo da série “O maior desafio da humanidade”. Nas próximas discussões abordaremos os temas recrutamento, seleção, capacitação e outros fatores correlacionados.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Homo confusus no trabalho: Liderança, negociação e comunicação em tempos de incerteza

Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas – mas sim coragem para sustentar as perguntas certas.
Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Liderança
29 de setembro de 2025
No topo da liderança, o maior desafio pode ser a solidão - e a resposta está na força do aprendizado entre pares.

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

4 minutos min de leitura
ESG, Empreendedorismo
29 de setembro de 2025
No Dia Internacional de Conscientização sobre Perdas e Desperdício de Alimentos, conheça negócios de impacto que estão transformando excedentes em soluções reais - gerando valor econômico, social e ambiental.

Priscila Socoloski CEO da Connecting Food e Lucas Infante, CEO da Food To Save

2 minutos min de leitura
Cultura organizacional
25 de setembro de 2025
Transformar uma organização exige mais do que mudar processos - é preciso decifrar os símbolos, narrativas e relações que sustentam sua cultura.

Manoel Pimentel

10 minutos min de leitura
Uncategorized
25 de setembro de 2025
Feedback não é um discurso final - é uma construção contínua que exige escuta, contexto e vínculo para gerar evolução real.

Jacqueline Resch e Vivian Cristina Rio Stella

4 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
24 de setembro de 2025
A IA na educação já é realidade - e seu verdadeiro valor surge quando é usada com intencionalidade para transformar práticas pedagógicas e ampliar o potencial de aprendizagem.

Rafael Ferreira Mello - Pesquisador Sênior no CESAR

5 minutos min de leitura
Inovação
23 de setembro de 2025
Em um mercado onde donos centralizam decisões de P&D sem métricas críveis e diretores ignoram o design como ferramenta estratégica, Leme revela o paradoxo que trava nosso potencial: executivos querem inovar, mas faltam-lhes os frameworks mínimos para transformar criatividade em riqueza. Sua fala é um alerta para quem acredita que prêmios de design são conquistas isoladas – na verdade, eles são sintomas de ecossistemas maduros de inovação, nos quais o Brasil ainda patina.

Rodrigo Magnago

5 min de leitura
Inovação & estratégia, Liderança
22 de setembro de 2025
Engajar grandes líderes começa pela experiência: não é sobre o que sua marca oferece, mas sobre como ela faz cada cliente se sentir - com propósito, valor e conexão real.

Bruno Padredi - CEP da B2B Match

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Liderança
19 de setembro de 2025
Descubra como uma gestão menos hierárquica e mais humanizada pode transformar a cultura organizacional.

Cristiano Zanetta - Empresário, palestrante TED e filantropo

0 min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Inovação & estratégia
19 de setembro de 2025
Sem engajamento real, a IA vira promessa não cumprida. A adoção eficaz começa quando as pessoas entendem, usam e confiam na tecnologia.

Leandro Mattos - Expert em neurociência da Singularity Brazil

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de setembro de 2025
Ignorar o talento sênior não é só um erro cultural - é uma falha estratégica que pode custar caro em inovação, reputação e resultados.

João Roncati - Diretor da People + Strategy

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)