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Mercado de trabalho: precisamos falar sobre jovens e mulheres

Afetadas pelo binômio pandemia e crise econômica, muitas organizações relegam a segundo plano a contratação de pessoas pouco experientes e do gênero feminino
Larissa Pessi é colaboradora de HSM Management.

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A pandemia atingiu em cheio a economia global. Estima-se que, só no Brasil, quase [600 mil empresas fecharam desde março de 2020](https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/09/quase-600-mil-empresas-fecham-as-portas-e-dificultam-recuperacao-do-emprego.shtml). Entre as organizações que conseguiram se manter ativas no mercado, a imensa maioria viu-se obrigada a enxugar custos, inclusive recorrendo a demissões. Nesse contexto, quando os líderes e os departamentos de recursos humanos precisam escolher quem fica e quem sai, os mais jovens e especialmente as mulheres acabam levando a pior.

É o que mostra o [estudo *World Employment and Social Outlook – Trends 2021*](https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/—dgreports/—dcomm/documents/publication/wcms_794452.pdf), da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que considerou dados de 58 países. Enquanto a quantidade de empregos entre os homens reduziu 3,9% em 2020, o indicador foi de 5% entre as mulheres. Uma das explicações é a predominância de pessoas do gênero feminino em empregos dos setores de comércio e serviços, que figuram entre os mais atingidos pelo distanciamento social imposto pela covid-19.

Mesmo com a retomada gradual das atividades, a economia brasileira segue patinando, com reflexos diretos no mercado de trabalho. No terceiro trimestre de 2021, o número de desempregados chegou a 13,5 milhões, segundo [dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)](https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9173-pesquisa-nacional-por-amostra-de-domicilios-continua-trimestral.html?=&t=destaques&utm_source=landing&utm_medium=explica&utm_campaign=desemprego). A desocupação é maior entre as mulheres (15,9%) do que entre os homens (10,1%), e afeta principalmente as juventudes – pessoas com idade entre 18 e 24 somam 25,7% do total de desocupados.

Para piorar a situação, uma parcela da força de trabalho feminina aparece em um limbo. O [*Panorama da Educação – Destaques*](https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/estatisticas_e_indicadores/panorama_da_educacao_destaques_do_education_at_glance_2021.pdf), do Education At Glance 2021, apontou que 69,7% das jovens de 18 a 24 anos nem trabalhavam nem estudavam em 2020. Desconsiderando gêneros, 35,9% dos indivíduos desta faixa etária estavam na mesma situação.

A realidade retarda a conquista da almejada igualdade de gênero no mercado de trabalho. No caso dos jovens, a desocupação prejudica a transição do ensino básico ou superior para o começo da carreira. Como consequência, a própria economia é afetada. Em meio ao crescimento do desemprego e da redução de oportunidades, aumentam as ocupações temporárias ou informais. Ao mesmo tempo, as chances de desenvolvimento de habilidades ligadas à área de formação reduzem consideravelmente.

## O papel da qualificação na empregabilidade
Períodos de crise costumam impulsionar a busca por educação formal. Ao menos teoricamente, a [estratégia reflete na conquista de melhores empregos e maiores remunerações](https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2020-12/diploma-de-ensino-superior-aumenta-renda-em-182-mostra-pesquisa). Mas o contexto atual é de renda em queda – inclusive pelo aumento da inflação. Da mesma forma, falta estrutura adequada para ampliar o acesso à educação a distância no país. Assim, muitos brasileiros deixaram de lado a qualificação profissional, em detrimento de manter o sustento familiar.

Mesmo entre aqueles profissionais com curso superior, o cenário é de instabilidade. Sobretudo para as mulheres. A constatação é do [relatório *Education at a Glance 2021*](https://www.gov.br/inep/pt-br/assuntos/noticias/acoes-internacionais/inep-divulga-education-at-a-glance-da-ocde), da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE). Conforme o documento, elas têm mais probabilidade de ingressarem e concluírem o ensino superior do que os homens, mas paradoxalmente têm menos chances de terem um emprego formal. O [Censo da Educação Superior 2019](https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/estatisticas_e_indicadores/resumo_tecnico_censo_da_educacao_superior_2019.pdf) mostrava que as brasileiras eram imensa maioria nas licenciaturas (com 72,2% das matrículas) e nos cursos da área de saúde e bem-estar, sendo minoria em graduações ligadas às ciências exatas e à esfera da produção.

O Brasil ainda convive com um outro problema, a chamada fuga de cérebros. A falta de perspectivas de atuar na profissão escolhida, de ser bem remunerado e de manter uma vida digna leva muitos jovens a procurarem oportunidades fora do país depois de formados. Já entre aqueles que já começam os estudos no exterior, os principais destinos são Argentina, Portugal e Estados Unidos, conforme o Panorama de Educação.

## Como atrair e reter jovens e mulheres
Frente a esse cenário, o que deve ser feito? Ainda que o Estado tenha sua parcela de responsabilidade na tentativa de reverter a crise econômica e dar um basta na desigualdade de gênero, o engajamento do setor privado é fundamental.

Atualmente, a abertura de vagas formais, por si só, não é mais suficiente. Daí a importância de se manter um diálogo aberto e levar adiante estratégias mais inclusivas ao mercado de trabalho – considerando as camadas mais frágeis da sociedade. Logo, [atrair e reter esses talentos](https://www.revistahsm.com.br/post/people-analytics-ajuda-a-reter-jovens-talentos) é a chave para um futuro mais justo e igualitário. Ações nesse sentido, inclusive, tendem a refletir positivamente no desempenho das organizações. Afinal, a diversidade é vista cada vez mais com bons olhos, tanto por consumidores quanto por investidores – inclusive por aumentar a lucratividade. Essa predisposição acaba, ainda, por atrair mais candidatos qualificados, interessados em experiências que proporcionem bem-estar e que sirvam a um propósito.

Outro aspecto relevante é a adoção de medidas que [auxiliem mães a terem mais acesso](https://www.revistahsm.com.br/post/ser-mae-te-torna-uma-profissional-melhor-para-o-mercado) e estabilidade nos empregos. De acordo com a pesquisa [*Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil*](https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101784_informativo.pdf), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019 a ocupação das mulheres entre 25 e 49 anos vivendo com crianças de até três anos foi de apenas 54,6%. A taxa foi menor entre pretas ou pardas (49,7%). Uma opção, aqui, é [oferecer incentivos às mulheres em termos de flexibilidade e autonomia](https://www.revistahsm.com.br/post/saude-emocional-beneficios-flexiveis-gestao-humana-caminhos-para-implementar).

Oportunizar um plano de carreira e benefícios como plano de saúde também são atrativos para quem busca recolocação – e ainda ajuda na retenção de talentos. O mesmo acontece com quem inclui mulheres em cargos de nível hierárquico mais elevado. O movimento é necessário em um país com apenas 37,4% dos cargos gerenciais ocupados por pessoas do gênero feminino em 2019. Como se não bastasse, a disparidade salarial continua sendo um obstáculo a superar: elas recebiam 77,7% do rendimento dos homens, segundo o IBGE.

__*O E-dossiê: Jovens Talentos é uma coprodução de HSM Management e Eureca.*__

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