Bem-estar & saúde
4 minutos min de leitura

Segurança psicológica: o poder invisível por trás das equipes de alta performance

Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.
Diretora de Talent Management na Blip, empresa referência em AI conversacional. Com sólida trajetória em empresas como RD Station e Stilingue, Marília é especialista em construção de times de alta performance, estratégias de aquisição e desenvolvimento de talentos e cultura organizacional. Psicóloga de formação, com pós-graduação em Psicologia Positiva, atua há mais de uma década na interseção entre gestão de pessoas, inovação e resultados de negócio.

Compartilhar:

Nenhuma equipe se torna de alta performance apenas com processos ágeis ou tecnologia de ponta. O que realmente diferencia times excepcionais é algo invisível e muitas vezes mal interpretado: a segurança psicológica.

Em um cenário em que inovação e adaptabilidade são determinantes para a sobrevivência das empresas, esse conceito pode parecer menos tangível do que metodologias ou ferramentas. Mas ele é decisivo. Segurança psicológica significa criar um ambiente onde os profissionais se sintam à vontade para expor ideias, levantar dúvidas e até cometer erros sem receio de julgamento ou punição. Quem cunhou o termo foi Amy Edmondson, professora de Harvard, que afirma que “errar certo” é o primeiro passo para uma cultura corporativa mais segura, em que colaboradores se sintam confortáveis para falar sobre tudo. Essa confiança é o que sustenta a colaboração genuína e abre espaço para a inovação. Se queremos que o time desafie o status quo e vá além, é preciso entender que o campo de experimentação também suporta falhas. O estudo global da Gallup, publicado esse ano e realizado em 52 países com mais de 30 mil profissionais, aponta a confiança como uma das quatro qualidades essenciais para um líder.

Isso só corrobora o papel central da liderança nesse processo. Antes de tudo, precisa praticar em si mesma, já que o bem-estar emocional reflete diretamente nas suas decisões. Entender como você, líder, lida com erros no processo é fundamental.  Também cabe ao líder agir pelo exemplo e demonstrar essa postura por meio de atitudes simples, como fazer boas perguntas: “o que posso fazer para ajudar?” ou “como vocês enxergam essa situação?” e é a partir daí que abrem espaço para diálogo e construção coletiva. Afinal, assumir uma postura aberta e admitir que não sabe todas as respostas, convida a equipe a participar! 

Muitas vezes o tema é mal interpretado como a criação de um ambiente onde “tudo vale” e em que as pessoas não são desafiadas. E essa interpretação está totalmente equivocada. Estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso. Isso exige práticas consistentes: feedbacks construtivos, escuta ativa, transparência e valorização do esforço coletivo.


O grande desafio está em equilibrar segurança psicológica e performance.


Quando existe apenas cobrança por resultados, os times se tornam ansiosos e até paralisados. Quando há só acolhimento, sem padrões claros de exigência, o risco é a estagnação. O ponto de equilíbrio está em promover um espaço em que metas sejam claras e desafiadoras, mas as pessoas tenham suporte para aprender, experimentar e evoluir. É nesse território que surge a chamada zona de aprendizado, onde erros são tratados como oportunidades e a evolução se torna contínua. Afinal, não existe performance sem um ambiente que estimule a ir além, nem aprendizado sem desafio.


Time de alta performance VS indivíduo de alta performance

Sempre que puxamos pessoas para ir além, em algum momento elas podem derrapar – faz parte do processo de aprendizado. Profissionais que se sentem respeitados e ouvidos não apenas entregam melhores resultados, como também desenvolvem resiliência para lidar com mudanças e incertezas. Além disso, apresentam abertura para falar sobre erros – o que permite que sejam identificados cedo, e também ownership para corrigi-los. Foi o que mostrou o Projeto Aristóteles, desenvolvido pelo Google: a segurança psicológica apareceu no topo da lista como fator número um para o sucesso das equipes.

Para mensurar esse contexto, já existem ferramentas como pesquisas de clima e de engajamento, além da própria escala de segurança psicológica, que ajudam as organizações a entenderem como está o ambiente interno. Mais do que métricas, o essencial é uma liderança atenta e disposta a analisar de forma crítica se o espaço realmente favorece a colaboração e a exposição segura.

No fim, segurança psicológica não é apenas um diferencial competitivo, trata-se de um investimento invisível que gera impacto concreto: equipes mais motivadas, inovadoras e preparadas para o futuro. Mais do que um conceito de gestão, é um compromisso diário de líderes e organizações em transformar confiança em resultados duradouros.

O que você pode fazer hoje para convidar seu time a participar e criar um ambiente em que a vulnerabilidade seja premiada, e não punida?

Compartilhar:

Artigos relacionados

Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de novembro de 2025
A cultura de cocriação só se consolida quando líderes desapegam do comando-controle e constroem ambientes de confiança, autonomia e valorização da experiência - especialmente do talento sênior.

Juliana Ramalho - CEO da Talento Sênior

4 minutos min de leitura
Liderança
14 de novembro de 2025
Como dividir dúvidas, receios e decisões no topo?

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

2 minutos min de leitura
Sustentabilidade
13 de novembro de 2025
O protagonismo feminino se consolidou no movimento com a Carta das Mulheres para a COP30

Luiza Helena Trajano e Fabiana Peroni

5 min de leitura
ESG, Liderança
13 de novembro de 2025
Saiba o que há em comum entre o desengajamento de 79% da força de trabalho e um evento como a COP30

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
12 de novembro de 2025
Modernizar o prazo de validade com o conceito de “best before” é mais do que uma mudança técnica - é um avanço cultural que conecta o Brasil às práticas globais de consumo consciente, combate ao desperdício e construção de uma economia verde.

Lucas Infante - CEO da Food To Save

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, ESG
11 de novembro de 2025
Com a COP30, o turismo sustentável se consolida como vetor estratégico para o Brasil, unindo tecnologia, impacto social e preservação ambiental em uma nova era de desenvolvimento consciente.

André Veneziani - Vice-Presidente Comercial Brasil & América Latina da C-MORE Sustainability

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
10 de novembro de 2025
A arquitetura de software deixou de ser apenas técnica: hoje, ela é peça-chave para transformar estratégia em inovação real, conectando visão de negócio à entrega de valor com consistência, escalabilidade e impacto.

Diego Souza - Principal Technical Manager no CESAR, Dayvison Chaves - Gerente do Ambiente de Arquitetura e Inovação e Diego Ivo - Gerente Executivo do Hub de Inovação, ambos do BNB

8 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
7 de novembro de 2025
Investir em bem-estar é estratégico - e mensurável. Com dados, indicadores e integração aos OKRs, empresas transformam cuidado com corpo e mente em performance, retenção e vantagem competitiva.

Luciana Carvalho - CHRO da Blip, e Ricardo Guerra - líder do Wellhub no Brasil

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
6 de novembro de 2025
Incluir é mais do que contratar - é construir trajetórias. Sem estratégia, dados e cultura de cuidado, a inclusão de pessoas com deficiência segue sendo apenas discurso.

Carolina Ignarra - CEO da Talento Incluir

5 minutos min de leitura
Liderança
5 de novembro de 2025
Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas - mas sim coragem para sustentar as perguntas certas. Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Angelina Bejgrowicz - Fundadora e CEO da AB – Global Connections

12 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)