Empreendedorismo
5 min de leitura

O maior erro dos empreendedores sociais (e como ele quase me parou)

Impacto social e sustentabilidade financeira não são opostos – são aliados essenciais para transformar vidas de forma duradoura. Entender essa relação foi o que permitiu ao Aqualuz crescer e beneficiar milhares de pessoas.
CEO da SDW, cientista, empreendedora social e biotecnologista formada pela Universidade Federal da Bahia. Dedica-se a democratizar o acesso à água e saneamento globalmente por meio de tecnologias inovadoras e acessíveis, beneficiando mais de 25 mil pessoas com o desenvolvimento de 6 tecnologias. Reconhecida internacionalmente pela ONU, UNESCO, Forbes e MIT. Foi premiada pelos Jovens Campeões da Terra, pela Forbes Under 30 e finalista do prêmio mundial Green Tech Award. Seu compromisso com a sustentabilidade, impacto social e responsabilidade social é inabalável e continua dedicando sua carreira para resolver os desafios mais prementes da nossa era.

Compartilhar:

Liderança, empreendedorismo

Aos 15 anos, quando criei o Aqualuz, minha única preocupação era transformar vidas. Levar água limpa para comunidades sem acesso era o meu propósito, o meu norte. Nunca imaginei que a paixão que me movia também poderia se tornar uma armadilha. Afinal, quem pensa em dinheiro quando o objetivo é salvar vidas?

O tempo, porém, me mostrou uma dura realidade: impacto social não sobrevive só de boas intenções.


A Dura Verdade Que Eu Demorei a Entender

Nos primeiros anos da SDW, eu tinha uma crença quase romântica: se o propósito fosse genuíno, as coisas dariam certo. Não pensava em sustentabilidade financeira, não tinha um plano claro de expansão e evitava falar de receita como se isso fosse um tabu no mundo social.

Até que veio a pergunta que mudou tudo:
 “Como você pretende levar o Aqualuz para milhões de pessoas sem um modelo sustentável?”

A verdade é que eu não sabia. Era como se, ao focar apenas no impacto, eu estivesse negligenciando a ferramenta que o tornaria possível. Foi quando percebi: impacto social e sustentabilidade financeira andam juntos. Sem isso, o sonho de transformar vidas fica pelo caminho.


O Click: Lean Impact e a Virada de Jogo

Foi mergulhando no conceito do Lean Impact, de Ann Mei Chang, que comecei a enxergar o empreendedorismo social com outros olhos. Entendi que não bastava ter um propósito, era preciso criar algo que pudesse crescer, se adaptar e se sustentar ao longo do tempo.

A lógica é simples e poderosa:

  1. Testar rápido e aprender constantemente. Descobri que entender a fundo as necessidades reais das comunidades era o primeiro passo para criar algo que funcionasse.
  2. Medir o impacto de cada ação. Precisávamos saber exatamente como o Aqualuz transformava vidas e onde podíamos melhorar.
  3. Criar um modelo que financiasse o crescimento. Foi quando começamos a trabalhar com governos e empresas, integrando nossas tecnologias em políticas públicas e projetos ESG.

Quando Impacto Social Vira Transformação Real

Hoje, a SDW já beneficiou cerca de 40 mil pessoas em 15 estados do Brasil e até no Equador e Porto Rico. Isso só foi possível porque entendemos que gerar receita não é perder o foco no propósito — é garantir que ele alcance mais pessoas, de forma duradoura.

Se eu pudesse voltar no tempo e dar um conselho para a Ana de 15 anos, seria este:
 “Não tenha medo de falar de dinheiro. Ele não é o vilão, é o combustível que vai levar o seu impacto mais longe.”


E Você, Está Pronto Para Quebrar Essa Barreira?

Se você é um empreendedor social, pergunte-se:

  • Seu projeto pode crescer sem depender de doações?
  • Você está medindo o impacto que gera de forma realista?
  • Está preparado para unir propósito e estratégia financeira?

O maior erro que eu cometi foi achar que transformar vidas bastava. Não basta. É preciso fazer isso de forma inteligente, sustentável e com visão de longo prazo.

Impacto social e sustentabilidade financeira não são inimigos. Juntos, eles têm o poder de mudar o mundo.

E você, já pensou nisso?

Compartilhar:

CEO da SDW, cientista, empreendedora social e biotecnologista formada pela Universidade Federal da Bahia. Dedica-se a democratizar o acesso à água e saneamento globalmente por meio de tecnologias inovadoras e acessíveis, beneficiando mais de 25 mil pessoas com o desenvolvimento de 6 tecnologias. Reconhecida internacionalmente pela ONU, UNESCO, Forbes e MIT. Foi premiada pelos Jovens Campeões da Terra, pela Forbes Under 30 e finalista do prêmio mundial Green Tech Award. Seu compromisso com a sustentabilidade, impacto social e responsabilidade social é inabalável e continua dedicando sua carreira para resolver os desafios mais prementes da nossa era.

Artigos relacionados

Reputação sólida, ética líquida: o desafio da integridade no mundo corporativo

No mundo corporativo, reputação se constrói com narrativas, mas se sustenta com integridade real – e é justamente aí que muitas empresas tropeçam. É o momento de encarar os dilemas éticos que atravessam culturas organizacionais, revelando os riscos de valores líquidos e o custo invisível da incoerência entre discurso e prática.

Vivemos a reinvenção do CEO?

Está na hora de entender como o papel de CEO deixou de ser sinônimo de comando isolado para se tornar o epicentro de uma liderança adaptativa, colaborativa e guiada por propósito. A era do “chefão” dá lugar ao maestro estratégico que rege talentos diversos em um cenário de mudanças constantes.

ESG
Construímos um universo de possibilidades. Mas a pergunta é: a vida humana está realmente melhor hoje do que 30 anos atrás? Enquanto brasileiros — e guardiões de um dos maiores biomas preservados do planeta — somos chamados a desafiar as retóricas de crescimento e consumo atuais. Se bem endereçados, tais desafios podem nos representar uma vantagem competitiva e um fôlego para o planeta

Filippe Moura

6 min de leitura
Carreira, Diversidade
Ninguém fala disso, mas muitos profissionais mais velhos estão discriminando a si mesmos com a tecnofobia. Eles precisam compreender que a revolução digital não é exclusividade dos jovens

Ricardo Pessoa

4 min de leitura
ESG
Entenda viagens de incentivo só funcionam quando deixam de ser prêmios e viram experiências únicas

Gian Farinelli

6 min de leitura
Liderança
Transições de liderança tem muito mais relação com a cultura e cultura organizacional do que apenas a referência da pessoa naquela função. Como estão estas questões na sua empresa?

Roberto Nascimento

6 min de leitura
Inovação
Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Átila Persici

6 min de leitura
Gestão de Pessoas
Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Rubens Pimentel

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
US$ 4,4 trilhões anuais. Esse é o prêmio para empresas que souberem integrar agentes de IA autônomos até 2030 (McKinsey). Mas o verdadeiro desafio não é a tecnologia – é reconstruir processos, culturas e lideranças para uma era onde máquinas tomam decisões.

Vitor Maciel

6 min de leitura
ESG
Um ano depois e a chuva escancara desigualdades e nossa relação com o futuro

Anna Luísa Beserra

6 min de leitura
Empreendedorismo
Liderar na era digital: como a ousadia, a IA e a visão além do status quo estão redefinindo o sucesso empresarial

Bruno Padredi

5 min de leitura
Liderança
Conheça os 4 pilares de uma gestão eficaz propostos pelo Vice-Presidente da BossaBox

João Zanocelo

6 min de leitura