Transformação Digital, Inteligência artificial e gestão
12 min de leitura

Quão ágil está o ágil em 2025?

Foco no resultado na era da IA: agilidade como alavanca para a estratégia do negócio acelerada pelo uso da inteligência artificial.
Com base nos seus mais de 175 anos de história, a Deloitte é a organização com o portfólio de serviços profissionais mais diversificado do mundo, com cerca de 460 mil profissionais, gerando impactos em mais de 150 países e territórios. A empresa fornece serviços de auditoria e asseguração, consultoria tributária, consultoria empresarial, assessoria financeira e consultoria em gestão de riscos para quase 90% das organizações da lista da Fortune Global 500® e milhares de outras empresas. No Brasil, onde atua desde 1911, a Deloitte é líder de mercado, com mais de 7.000 profissionais e operações em todo o território nacional, a partir de 18 escritórios.
Rafael Ferrari é sócio de Strategy & Business Design e líder de soluções de Inovação da Deloitte. No ano de 2024 foi eleito um dos 3 brasileiro na lista do top 100 OutStanding global LGBT Executive Role Model. Com mais de 15 anos de experiência realizou trabalhos na América Latina e Canada. Liderou de projetos com abrangência global e atualmente lidera os maiores programas de inovação e transformação digital do país. É professor titular da Fundação Dom Cabral no MBA Internacional. Na escola Conquer é professor de transformação digital e inovação. Nos últimos quatro anos se dedicou a criação e evolução do DE&I LGBT+ no Brasil fazendo parte do conselho global do tema em nossa empresa.

Compartilhar:

Mais de duas décadas após o Manifesto Ágil, uma pergunta continua no ar: será que a agilidade está, de fato, gerando valor nas organizações? Em 2025, o quão ágil está o ágil? Essa última pergunta pode soar como um jogo de palavras, mas é, na verdade, um termômetro real sobre a maturidade das organizações diante de um dos temas mais falados — e mal compreendidos — da última década. Neste artigo vamos discorrer um pouco sobre esse cenário e como as empresas estão lidando com os processos ágeis.

Durante o Agile Trends 2025, evento realizada entre 8 e 11 de abril em São Paulo, a Deloitte entrevistou 422 profissionais de diversos setores responderam a um questionário eletrônico para entender o estado atual da transformação ágil. A seguir, comentarei sobre o cenário traçado pelos respondentes, líderes em seus setores.

O retrato que emergiu revela avanços importantes, mas também desafios persistentes. Apenas 1/3 das empresas que responderam a pesquisa estão totalmente ágeis – observa-se que existe uma oportunidade significativa de aplicação de modelos de trabalhos que permitam geração de valor para as organizações. Ao longo dos últimos anos é perceptível a evolução na adoção, mas percebemos que sair da inércia de apenas explorar o ágil é desafiador. Dos projetos que acompanhei nos últimos anos, observo que empresas bem-sucedidas na sua maturidade trazem intencionalidade, disciplina, liderança presente e fluida no tema e que consequentemente são sustentadas por resultados concretos e comprovados. Ou seja, no cenário atual percebemos que:

  • A agilidade como cultura ainda está longe de ser dominante.
  • Fazer ágil não é o mesmo que ser ágil.
  • O foco agora precisa ir além da adoção: escala com propósito, valor e impacto real.

Analisando os dados de forma detalhada, a pesquisa revelou que 13% das empresas estão apenas explorando a agilidade com iniciativas isoladas, enquanto 17% estão em transição, expandindo práticas, mas ainda enfrentando desafios de escala. Outras 37% já adotam práticas estruturadas com foco em cultura e modelo de gestão, e 32% se consideram totalmente ágeis, buscando otimização contínua e conexão entre estratégia e valor. 

As duas principais barreiras para a transformação ágil seguem sendo a resistência cultural (43%), fruto da falta de convicção de que é possível adotar uma nova forma de trabalhar, e a dificuldade de tangibilizar valor (17%). Isso nos mostra que o foco precisa estar no resultado a ser gerado como alavanca de convencimento — mais do que na metodologia em si. Um erro recorrente que observo em diversas jornadas de implantação e escalada da agilidade é tratar a transformação apenas pelo viés metodológico. Estratégia, operação e evolução ficam restritas a frameworks, papéis e ritos. Esse reducionismo gera resistência — especialmente de lideranças e áreas de negócio. Em muitos projetos, ouvimos expressões como: “Lá vêm os iluminados da metodologia que não entendem do negócio” ou ainda “São os auditores da agilidade”.

Isso indica que o valor não está sendo percebido. Por outro lado, nas organizações onde a transformação é bem-sucedida, há um esforço intencional de construir a mudança com base em três perguntas fundamentais: Como essa nova forma de trabalho melhora minha performance individual? Como ela contribui para os resultados da minha equipe e da empresa? Como ela se conecta com um propósito maior ou transformação organizacional?

As transformações que comunicam valor nesses três níveis — individual, coletivo e organizacional — são as que conseguem não só engajar, mas sustentar a mudança. Narrativas de valor claras, que saem do jargão e falam diretamente com o contexto das pessoas, são parte central das jornadas de sucesso, ou seja:

  • Focar apenas na metodologia não é suficiente.
  • É preciso comunicar o valor gerado — não só os rituais implementados.
  • O convencimento vem da entrega, não da teoria.
  • O que move a transformação é resultado percebido, não framework adotado.

Quando questionamos sobre quais são as principais barreiras para a transformação ágil, encontramos o seguinte cenário: 43% apontam a resistência cultural; 21% outros (estrutura, processos, legado, etc.); 17% dificuldade em tangibilizar valor; 13% falta de clareza sobre o objetivo da transformação e 8% baixo engajamento da liderança.

No que diz respeito à governança, mais de um terço das empresas já adotam um modelo em rede para evoluir na jornada ágil. Saber quem lidera a transformação é tão importante quanto o porquê e o como. Os dados mostram que, em 2025, muitas empresas ainda tratam a agilidade como uma iniciativa localizada, enquanto outras começam a apostar em estruturas mais integradas e transversais. Quanto menor a maturidade, mais centralizada tende a ser a gestão. Por outro lado, quanto maior a maturidade e mais enraizada estiver a agilidade na cultura, mais descentralizada tende a ser a governança.

O que vi nos últimos anos de forma bem-sucedidas são implementações de centros de competências em design e agilidade no modelo de rede, tipicamente no formato hub e spoke, que torna-se mais ou menos centralizado/descentralizado de acordo com a maturidade e que tem como foco um objetivo alavancar resultados de negócio, ao mesmo tempo que evolui a maturidade organizacional de práticas, ou seja:

  • A governança da agilidade ainda é fragmentada em parte das empresas.
  • Núcleos multidisciplinares começam a se consolidar como modelo eficaz.
  • A centralização em áreas específicas pode limitar o alcance sistêmico.
  • A ausência de visão integrada impede escala e consistência na transformação.

Ao perguntarmos quem, dentro de sua organização, direciona o movimento ágil, nos deparamos com: 36% transformação centralizada com núcleo multidisciplinar; 35% transformação centralizada em uma área específica; 24% por meio de iniciativas isoladas, definidas por área e 6% a partir de outros formatos (comitês, hubs experimentais etc.).

A aplicação ainda está concentrada em produtos digitais e projetos de TI, com 61% das iniciativas. Os dados mostram que, apesar do avanço da transformação ágil, as novas formas de trabalho seguem majoritariamente concentradas nesse mundo de tecnologia, a evolução da agilidade depende da sua expansão para além da área de TI — tornando-se um modelo de pensar, operar e entregar valor em toda a organização.

Nos últimos anos aplicamos agilidade e grandes programas transformacionais de negócios, em centro de pesquisa e desenvolvimento, ou ainda em áreas operacionais como RH, Logística, Infraestrutura entre outras. Observo que existe uma necessidade de adaptação do modelo para a realidade daquele tipo de desenvolvimento distinto de TI e quando feito de forma bem-sucedida geram impactos significativos. Citando como exemplo a execução de obras, em alguns cases onde realizamos a implantação do lean-agile construction, tivemos  67% de aumento da aderência ao planejamento da obra, reduções acima de 25% no prazo de entrega, entre 10% a 20% de aumento da produtividade, além do retorno ao investimento.

Iniciativas em áreas de negócio, pesquisa e inovação ainda são minoria — o que reforça o desafio da transversalidade e da integração organizacional, e que pode ser observado com uma grande oportunidade para as organizações ao expandir uso dessa forma de trabalho:

  • A nova forma de trabalhar ainda está presa a silos técnicos.
  • Iniciativas em inovação, P&D e áreas de negócio seguem periféricas.
  • A baixa capilaridade da agilidade impede ganhos sistêmicos.
  • enquanto restrita a TI, a agilidade não alcança o core do negócio.

Como já mencionei 61% indicaram que produtos digitais e projetos de TI, outros 23% indicaram em projetos de inovação, enquanto áreas de negócio como RH, operações e jurídico somam apenas 9%, e projetos de pesquisa e desenvolvimento, 7%.

Um dado que chama atenção é que 70% das empresas já adotam inteligência artificial em algumas práticas ágeis, o que indica uma evolução crescente. No entanto, apesar de estar no centro das discussões de inovação, a aplicação prática da IA nas iniciativas ágeis ainda é incipiente em grande parte das organizações.

No último ano, passamos a aplicar a AI nos trens de negócio de uma grande empresa com objetivo de apoiar na definição de entregas do próximo ciclo via ferramenta no PI Planning, o que percebemos sobre dois aspectos:

  • Percepção de Utilidade (Qualitativa): Mesmo com um uso ainda parcial, a maioria dos squads demonstraram uma percepção positiva quanto à utilidade da IA. Há uma expectativa clara de que a ferramenta seja ainda mais útil no futuro, especialmente para apoiar a clareza e alinhamento na construção do backlog.
  • Antes e Após IA (Quantitativa): A análise comparativa apontou melhora na qualidade dos objetivos com o uso da IA reforçando seu valor em tarefas mais estratégicas e demonstrando impacto maior em times menos maduros. Por outro lado, não houve evolução percebida em features e histórias — o que pode estar ligado tanto à menor adesão quanto à menor destreza sobre a ferramenta de IA em níveis mais técnicos.

Esse case reflete o estágio da maioria das organizações, logo que utilizam IA de forma ainda inicial e exploratória — e uma parte ainda não a incorporou de forma alguma, vemos que a próxima onda da transformação ágil passa pela incorporação da IA como aceleradora — não apenas como ferramenta, mas como aliada da experimentação, análise de dados e decisões mais inteligentes, ou seja:

  • A IA ainda não está integrada de forma estruturada à jornada ágil.
  • A maioria das aplicações são pontuais e não estratégicas.
  • A ausência de automação inteligente limita ganhos de escala e eficiência.
  • Integrar IA com propósito é chave para gerar valor de forma exponencial.

Além dos respondentes que apontam que 70% já adotam a IA em algumas práticas ágeis, a pesquisa também revelou que 20% das empresas ainda não adotam IA em suas iniciativas ágeis, enquanto 10% utilizam em formatos ou contextos alternativos. Isso reforça que a próxima onda da transformação ágil passa pela incorporação da IA como aceleradora — não apenas como ferramenta, mas como aliada da experimentação, análise de dados e decisões mais inteligentes.

Para que as empresas sejam, de fato, totalmente ágeis, a implantação precisa entregar valor real — integrada à IA, com propósito, conectando estratégia, cultura e execução.

Sua empresa está pronta para esse próximo ciclo?

Metodologia do estudo

Entre os dias 8 e 11 de abril, durante o evento Agile Trends, 422 profissionais de diversos setores responderam a um questionário eletrônico da Deloitte. A maioria dos participantes veio das áreas de Tecnologia (20%), Financeiro (20%), Consultoria (15%) e Educação (7%). Os cargos ocupados foram variados, com quase metade atuando diretamente nas equipes (48%). Também se destacaram os Gestores e Executivos (20%) e os profissionais especializados em agilidade, como Agile Coaches e Scrum Masters (17%). Os dados refletem a diversidade de perfis e o avanço da adoção de práticas ágeis em diferentes indústrias no Brasil.

Compartilhar:

Com base nos seus mais de 175 anos de história, a Deloitte é a organização com o portfólio de serviços profissionais mais diversificado do mundo, com cerca de 460 mil profissionais, gerando impactos em mais de 150 países e territórios. A empresa fornece serviços de auditoria e asseguração, consultoria tributária, consultoria empresarial, assessoria financeira e consultoria em gestão de riscos para quase 90% das organizações da lista da Fortune Global 500® e milhares de outras empresas. No Brasil, onde atua desde 1911, a Deloitte é líder de mercado, com mais de 7.000 profissionais e operações em todo o território nacional, a partir de 18 escritórios.
Rafael Ferrari é sócio de Strategy & Business Design e líder de soluções de Inovação da Deloitte. No ano de 2024 foi eleito um dos 3 brasileiro na lista do top 100 OutStanding global LGBT Executive Role Model. Com mais de 15 anos de experiência realizou trabalhos na América Latina e Canada. Liderou de projetos com abrangência global e atualmente lidera os maiores programas de inovação e transformação digital do país. É professor titular da Fundação Dom Cabral no MBA Internacional. Na escola Conquer é professor de transformação digital e inovação. Nos últimos quatro anos se dedicou a criação e evolução do DE&I LGBT+ no Brasil fazendo parte do conselho global do tema em nossa empresa.

Artigos relacionados

Homo confusus no trabalho: Liderança, negociação e comunicação em tempos de incerteza

Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas – mas sim coragem para sustentar as perguntas certas.
Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Inovação & estratégia
27 de outubro de 2025
Programas corporativos de idiomas oferecem alto valor percebido com baixo custo real - uma estratégia inteligente que impulsiona engajamento, reduz turnover e acelera resultados.

Diogo Aguilar - Fundador e Diretor Executivo da Fluencypass

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Inovação & estratégia
25 de outubro de 2025
Em empresas de capital intensivo, inovar exige mais do que orçamento - exige uma cultura que valorize a ambidestria e desafie o culto ao curto prazo.

Atila Persici Filho e Tabatha Fonseca

17 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
24 de outubro de 2025
Grandes ideias não falham por falta de potencial - falham por falta de método. Inovar é transformar o acaso em oportunidade com observação, ação e escala.

Priscila Alcântara e Diego Souza

6 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
23 de outubro de 2025
Alta performance não nasce do excesso - nasce do equilíbrio entre metas desafiadoras e respeito à saúde de quem entrega os resultados.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional.

4 minutos min de leitura
Uncategorized
22 de outubro de 2025
No setor de telecom, crescer sozinho tem limite - o futuro está nas parcerias que respeitam o legado e ampliam o potencial dos empreendedores locais.

Ana Flavia Martins - Diretora executiva de franquias da Algar

4 minutos min de leitura
Marketing & growth
21 de outubro de 2025
O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

5 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
20 de outubro de 2025
Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.

Marília Tosetto - Diretora de Talent Management na Blip

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
15 de outubro de 2025
Cuidar da saúde mental virou pauta urgente - nas empresas, nas escolas, nas nossas casas. Em um mundo acelerado e hiperexposto, desacelerar virou ato de coragem.

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)