Liderança
6 min de leitura

Precisamos falar sobre liderança – a tóxica, inclusive

Entenda como construir um ambiente organizacional que prioriza segurança psicológica, engajamento e o desenvolvimento genuíno das equipes.
Athila Machado é cofundador da Mereo, HRTech focada em gestão de performance, talentos, reconhecimento e recompensa.

Compartilhar:

Liderança nas organizações é um dos assuntos que mais me instigam. E, para falar dela, gosto de começar utilizando uma anedota bastante conhecida no universo de RH, a do autor e consultor Simon Sinek. Criador da teoria Golden Circle, ele sustenta que nem sempre a liderança com a melhor performance será a mais confiável, justamente porque fazer gestão e saber liderar são aspectos totalmente distintos.

Sinek promove essa reflexão a partir das suas percepções quando trabalhava para a Navy Seals, a unidade de elite da Marinha norte-americana e organização reconhecida por sua alta performance. Quando perguntou ao comandante da unidade sobre como eram realizados os processos de seleção para os Seals, a resposta foi: “selecionamos pelo fator de confiança. Aquele que está conosco em todo momento, independentemente da situação. Ele pode até não ter boa performance, mas valorizamos a confiança de um Seal”.

A resposta pode ser visualizada de forma gráfica:

Antes de avançarmos, vale pontuar que a confiança é aquilo que não se metrifica dentro dos parâmetros de uma organização. É o oposto de performance, que são as metas alcançadas, os objetivos cumpridos e os resultados expostos.

Pesquisa realizada pela consultoria de recrutamento PageGroup, oito em cada dez colaboradores que pedem desligamento apontam a má gestão como a principal causa da saída voluntária. Na mesma linha, levantamento da consultoria Gallup, no ano passado, aponta que  77% dos colaboradores ativos no mundo se sentem desengajados em seus respectivos trabalhos.

Esses dados denotam que estamos com problemas a resolver na área de liderança. Vale sempre destacar que um líder é, acima de tudo, um influenciador por natureza. Sua função e seu desempenho são cruciais para a organização, afinal, ele é um dos responsáveis pela performance e felicidade do seu time. Além de influenciador, o líder carrega consigo a responsabilidade de ser o porta voz da cultura organizacional. É ele quem cria um ambiente de trabalho que é aliado com os valores da empresa. Sendo assim, seu papel é garantir que o time tenha um espaço em que as trocas de ideias, inovações e desenvolvimento sejam efetivas.

Para que isso aconteça, a liderança precisa sustentar a segurança psicológica entre os colaboradores. Dessa forma, é preciso analisar, por meio de dados, pesquisas e acompanhamento, se a liderança está cumprindo com sua função de manter a cultura da empresa, disseminando os valores e propósitos da marca com seu time por meio de um ambiente psicologicamente seguro e humano. Inclusive, a pesquisadora e escritora Brené Brown, sustenta que, quanto mais a liderança deixa exposto seu lado humano, de vulnerabilidade, mais consegue criar conexões reais e, assim, mais é possível promover a inovação e criatividade. Não é algo que entendo como fácil de se colocar em prática, mas pode ser estratégico para envolver os colaboradores.

Manter colaboradores satisfeitos com a organização e envolvidos no propósito da empresa exigem que as lideranças foquem no engajamento. Ele é composto de cinco dimensões: 1) Resultados: geralmente está atrelado à performance das metas no dia a dia das companhias; 2) Responsabilidade: envolve assumir as consequências das próprias ações e tomar medidas para cumprir com os compromissos estabelecidos e pode se manifestar em diferentes áreas da vida, como trabalho, educação, relações pessoais e sociedade em geral; 3) Compromisso: é a autorresponsabilidade, é quando o colaborador pega para si os objetivos e firma um acordo de contribuição para chegar no resultado que a empresa espera e que ele deseja alcançar; 4) Conflito: a liderança deve conhecer a natureza e o tipo de conflito, direcionar os desafios abordados e entender como as diferenças apresentadas podem ser fundamentais para criar novas possibilidades; e 5) Confiança: times fundamentados na confiança são aqueles em que reconhecer erros, expressar dúvidas ou compartilhar problemas pessoais não é apenas aceitável, mas encorajado.

Isso tudo exige a presença de uma liderança confiável, o que nem sempre é a realidade. E é aí que entramos em um outro ponto muito espinhoso: o da liderança tóxica, questão cada vez mais recorrente nas companhias. Para ajudar no entendimento deste tipo de liderança, recorro novamente a Sinek, que explica: quando a companhia mantém um profissional com uma alta performance e uma figura possivelmente prejudicial para a sua equipe.

Afinal, se a confiança é a base para inspirar, motivar e guiar as pessoas, como um bom líder pode alcançar esse resultado sem ter confiabilidade por parte da sua equipe? Para Sinek, o grande problema das organizações que têm líderes tóxicos acontece porque cada vez mais vemos surgir métricas que acompanham e promovem apenas o desempenho das lideranças, mas quase não conseguimos medir e estimular a influência e a confiança dela. Por isso, monitorar a satisfação e a felicidade dos colaboradores com a sua liderança direta, por meio de pesquisas, como de pulso e termômetro de liderança, pode ser o primeiro passo para desenvolver bons líderes

Fato é que, seja no campo de batalha ou dentro de uma organização, ninguém quer uma liderança que tem uma baixa performance e uma baixa confiança dos seus liderados. O caso da Navy SEALS é emblemático, porque ensina que é preferível um líder de média performance e alta confiança, porque, como explica Sinek, é mais fácil desenvolver habilidades de performance do que mudar o comportamento de um líder.

A confiança é somente um das dimensões de liderança, como destacado na figura abaixo, elaborada por Patrick Lencioni:

Para cada dimensão da liderança, há fatores que impactam positiva ou negativamente na atuação de um líder. Conheça os que se destacam:

Afeta a confiança – Líder / Liderado:

  • Esconde erros
  • Não oferecer ajuda
  • Conclusões precipitadas
  • Não aprende um com o outro 
  • Méritos não compartilhados

Afeta a compromisso – Líder / Liderado:

  • Decisões sem análise
  • Cultura do medo por falhar
  • Mudança da estratégia todo o tempo (falta de planejamento)
  • Não delegar

Afeta a responsabilidade – Líder / Liderado:

  • Líder tem que resolver tudo
  • Perda dos prazos
  • Não existir sistemática de acompanhamento

Afeta o resultado – Líder / Liderado:

  • Falta de método (planejamento)
  • Desperdício de tempo
  • Procrastinação (dificuldade execução)
  • Não fornecer feedback

E na sua companhia, como as lideranças estão desempenhando seus papeis?

Compartilhar:

Artigos relacionados

Pessoas, Cultura organizacional, Gestão de pessoas, Liderança, times e cultura, Liderança, Gestão de Pessoas
23 de julho de 2025
Entre idades, estilos e velocidades, o que parece distância pode virar aprendizado. Quando escuta substitui julgamento e curiosidade toma o lugar da resistência, as gerações não competem - colaboram. É nessa troca sincera que nasce o que importa: respeito, inovação e crescimento mútuo.

Ricardo Pessoa

5 minutos min de leitura
Liderança, Marketing e vendas
22 de julho de 2025
Em um mercado saturado de soluções, o que diferencia é a história que você conta - e vive. Quando marcas e líderes investem em narrativas genuínas, construídas com propósito e coerência, não só geram valor: criam conexões reais. E nesse jogo, reputação vale mais que visibilidade.

Anna Luísa Beserra

5 minutos min de leitura
Tecnologia e inovação
15 de julho 2025
Em tempos de aceleração digital e inteligência artificial, este artigo propõe a literacia histórica como chave estratégica para líderes e organizações: compreender o passado torna-se essencial para interpretar o presente e construir futuros com profundidade, propósito e memória.

Anna Flávia Ribeiro

17 min de leitura
Inovação
15 de julho de 2025
Olhar para um MBA como perda de tempo é um ponto cego que tem gerado bastante eco ultimamente. Precisamos entender que, num mundo complexo, cada estudo constrói nossas perspectivas para os desafios cotidianos.

Frederike Mette e Paulo Robilloti

6 min de leitura
User Experience, UX
Na era da indústria 5.0, priorizar as necessidades das pessoas aos objetivos do negócio ganha ainda mais relevância

GEP Worldwide - Manoella Oliveira

9 min de leitura
Tecnologia e inovação, Empreendedorismo
Esse fio tem a ver com a combinação de ciências e humanidades, que aumenta nossa capacidade de compreender o mundo e de resolver os grandes desafios que ele nos impõe

CESAR - Eduardo Peixoto

6 min de leitura
Inovação
Cinco etapas, passo a passo, ajudam você a conseguir o capital para levar seu sonho adiante

Eline Casasola

4 min de leitura
Transformação Digital, Inteligência artificial e gestão
Foco no resultado na era da IA: agilidade como alavanca para a estratégia do negócio acelerada pelo uso da inteligência artificial.

Rafael Ferrari

12 min de leitura
Negociação
Em tempos de transformação acelerada, onde cenários mudam mais rápido do que as estratégias conseguem acompanhar, a negociação se tornou muito mais do que uma habilidade tática. Negociar, hoje, é um ato de consciência.

Angelina Bejgrowicz

6 min de leitura
Inclusão
Imagine estar ao lado de fora de uma casa com dezenas de portas, mas todas trancadas. Você tem as chaves certas — seu talento, sua formação, sua vontade de crescer — mas do outro lado, ninguém gira a maçaneta. É assim que muitas pessoas com deficiência se sentem ao tentar acessar o mercado de trabalho.

Carolina Ignarra

4 min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)