Bem-estar & saúde
3 minutos min de leitura

Quando o corpo pede pausa e o negócio pede pressa

Entre liderança e gestação, uma lição essencial: não existe performance sustentável sem energia. Pausar não é fraqueza, é gestão - e admitir limites pode ser o gesto mais poderoso para cuidar de pessoas e negócios.
Fundadora e CEO da Vittude, referência no desenvolvimento e gestão estratégica de programas de saúde mental para empresas. Engenheira civil de formação, possui MBA Executivo pelo Insper e especialização em Empreendedorismo Social pelo Insead, escola francesa de negócios. Empreendedora, palestrante, TEDx Speaker e produtora de conteúdo sobre saúde mental e bem-estar, foi reconhecida em 2023 como LinkedIn Top Voice e, em 2024, como uma das 500 pessoas mais influentes da América Latina pela Bloomberg Linea.

Compartilhar:


No primeiro trimestre da gestação, meu corpo parecia ter um plano próprio. E ele não incluía reuniões, metas ou entregas. Eu, que sempre funcionei em ritmo acelerado, me vi sendo desacelerada por dentro. Era um sono quase infinito, e um cansaço que não se resolvia com café, literalmente. Grávidas são quase proibidas de tomar cafeína. Então, quando bate a saudade do sabor, recorro ao descafeinado, mas ele não desperta ninguém. E chá? Só camomila, erva-doce ou capim-cidreira. Nada de chá verde, preto ou mate. Ou seja, nada que “dê energia”.

A vida decidiu me ensinar, na marra, que às vezes não há outro jeito senão parar. Enquanto o corpo pedia pausa, o negócio pedia pressa. E entre um e outro, aprendi o que ninguém ensina: está tudo bem dizer não, está tudo bem remarcar, e está tudo bem não dar conta de tudo.

Outro dia, precisei cancelar uma reunião importante. Escrevi: “Oi, eu preciso remarcar. Estou grávida e hoje estou bastante indisposta.” A resposta foi empática, e na reunião seguinte, o clima foi ainda melhor. Em outro almoço, ganhei até um mimo pra Lara. A pessoa sabia da minha trajetória, das perdas gestacionais, das tentativas, da FIV frustrada, e celebrou comigo. Foi um lembrete simples: ser honesta sobre o que se vive aproxima as pessoas.


Liderar também é escutar o corpo

Liderar e gestar têm algo em comum: ambos exigem energia, mas também pedem pausa. O corpo avisa antes de quebrar, e a mente também. E precisamos aprender a ouvir. Segundo o Work Trend Index 2025, da Microsoft, 80% dos profissionais dizem não ter energia suficiente para cumprir suas tarefas. A Gallup mostrou que 6 em cada 10 líderes relatam sentir exaustão.  Ou seja, estamos cansando de um jeito estrutural, e não é por falta de propósito, é por falta de limite.

Quando se lidera uma empresa em crescimento, o descanso precisa ser planejado como qualquer outro processo. Não é luxo, é gestão. O cérebro em exaustão perde capacidade de decisão, empatia e foco. Não há inovação nem performance sustentáveis quando o time está no limite. É exatamente isso que a NR-1, revisada em 2024, tenta mostrar: que saúde e segurança no trabalho não se resumem a EPIs ou a riscos físicos. A norma trouxe para o centro o gerenciamento dos riscos psicossociais, aqueles que nascem da sobrecarga, da insegurança, da pressão constante e da falta de controle. Em outras palavras, se o ambiente adoece, o negócio também adoece.

Ser um líder humano não é sobre discurso inspirador, é sobre coerência. Quando o gestor admite que está cansado, ele autoriza os outros a fazer o mesmo, e esse simples gesto evita afastamentos, melhora o clima e reduz riscos. A segurança psicológica, conceito amplamente estudado por Amy Edmondson e Timothy Clark, mostra que ambientes onde as pessoas podem falar sem medo erram menos, inovam mais e adoecem menos.

Ser CEO e estar grávida aos 44 anos é um lembrete diário de que o corpo não opera em modo automático.  Que às vezes é preciso ajustar o ritmo, e que trabalhar com intensidade não precisa significar trabalhar sem pausa. Não romantizo o trabalho, eu gosto de trabalhar, e trabalho muito. Mas aprendi que não existe entrega de qualidade sem energia de qualidade.

O corpo é o primeiro indicador de risco, e ignorar isso não é força, é má gestão.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando o corpo pede pausa e o negócio pede pressa

Entre liderança e gestação, uma lição essencial: não existe performance sustentável sem energia. Pausar não é fraqueza, é gestão – e admitir limites pode ser o gesto mais poderoso para cuidar de pessoas e negócios.

Inovação e comunidades na presença digital

A creators economy deixou de ser tendência para se tornar estratégia: autenticidade, constância e inovação são os pilares que conectam marcas, líderes e comunidades em um mercado digital cada vez mais colaborativo.

Bem-estar & saúde
9 de dezembro de 2025
Entre liderança e gestação, uma lição essencial: não existe performance sustentável sem energia. Pausar não é fraqueza, é gestão - e admitir limites pode ser o gesto mais poderoso para cuidar de pessoas e negócios.

Tatiana Pimenta - Fundadora e CEO da Vittude,

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
8 de dezembro de 2025
Com custos de saúde corporativa em alta, a telemedicina surge como solução estratégica: reduz sinistralidade, amplia acesso e fortalece o bem-estar, transformando a gestão de benefícios em vantagem competitiva.

Loraine Burgard - Cofundadora da h.ai

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Liderança
5 de dezembro de 2025
Em um mundo exausto, emoção deixa de ser fragilidade e se torna vantagem competitiva: até 2027, lideranças que integram sensibilidade, análise e coragem serão as que sustentam confiança, inovação e resultados.

Lisia Prado - Consultora e sócia da House of Feelings

5 minutos min de leitura
Finanças
4 de dezembro de 2025

Antonio de Pádua Parente Filho - Diretor Jurídico, Compliance, Risco e Operações no Braza Bank S.A.

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
3 de dezembro de 2025
A creators economy deixou de ser tendência para se tornar estratégia: autenticidade, constância e inovação são os pilares que conectam marcas, líderes e comunidades em um mercado digital cada vez mais colaborativo.

Gabriel Andrade - Aluno da Anhembi Morumbi e integrante do LAB Jornalismo e Fernanda Iarossi - Professora da Universidade Anhembi Morumbi e Mestre em Comunicação Midiática pela Unesp

3 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
2 de dezembro de 2025
Modelos generativos são eficazes apenas quando aplicados a demandas claramente estruturadas.

Diego Nogare - Executive Consultant in AI & ML

4 minutos min de leitura
Estratégia
1º de dezembro de 2025
Em ambientes complexos, planos lineares não bastam. O Estuarine Mapping propõe uma abordagem adaptativa para avaliar a viabilidade de mudanças, substituindo o “wishful thinking” por estratégias ancoradas em energia, tempo e contexto.

Manoel Pimentel - Chief Scientific Officer na The Cynefin Co. Brazil

10 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Liderança
29 de novembro de 2025
Por trás das negociações brilhantes e decisões estratégicas, Suits revela algo essencial: liderança é feita de pessoas - com virtudes, vulnerabilidades e escolhas que moldam não só organizações, mas relações de confiança.

Lilian Cruz - Fundadora da Zero Gravity Thinking

3 minutos min de leitura
Estratégia, Marketing & growth
28 de novembro de 2025
De um caos no trânsito na Filadélfia à consolidação como código cultural no Brasil, a Black Friday evoluiu de liquidação para estratégia, transformando descontos em inteligência de precificação e redefinindo a relação entre consumo, margem e reputação

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
27 de novembro de 2025
A pergunta “O que você vai ser quando crescer?” parece ingênua, mas carrega uma armadilha: a ilusão de que há um único futuro esperando por nós. Essa mesma armadilha ronda o setor automotivo. Afinal, que futuros essa indústria, uma das mais maduras do mundo, está disposta a imaginar para si?

Marcello Bressan, PhD, futurista, professor e pesquisador do NIX - Laboratório de Design de Narrativas, Imaginação e Experiências do CESAR

4 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança