No setor automotivo, todo ano é de aprendizado, mas 2025 ficará marcado como um período de lições mais profundas para a indústria local. Mais do que números absolutos, o período revelou limites estruturais, dependências históricas e a necessidade de adaptação a um ambiente econômico, político e geopolítico mais complexo.
Do ponto de vista do mercado, a produção de veículos cresceu 4% no acumulado até novembro, alcançando 2,459 milhões de unidades, desempenho superior ao de 2024, mas insuficiente para atingir a projeção das montadoras: 2,7 milhões de unidades.
O descompasso entre expectativa e realidade pode ensinar às montadoras que nem sempre projeções otimistas provocam efeitos positivos no mercado – e na opinião pública. Se a ideia era injetar ânimo, não deu certo. O crédito caro e a retração vista em segmentos importantes passou um recado de que o tempo é de se ligar alertas.
A crise dos caminhões foi o principal exemplo: enquanto o volume de veículos leves avançaram nas linhas, a produção de caminhões caiu cerca de 9%, com impactos diretos sobre empregos, turnos de fábrica e confiança do setor.
Esse contraste deixou claro que o mercado brasileiro passou a operar em duas velocidades. De um lado, os leves sustentados por vendas diretas (e não pelo varejo), promoções e pelo Programa Carro Sustentável; de outro, os pesados travados pela Selic elevada, que adiou a renovação de frotas mesmo diante de uma safra agrícola robusta.
Sem crédito acessível, a demanda simplesmente não se materializa, independentemente da necessidade econômica. Claro que o controle da Selic não está nas mãos das fabricantes e sua cadeia de suprimentos, mas em 2025 ficou aquela sensação no ar de que o setor não conseguiu ser criativo a ponto de mudar o panorama.
No campo das políticas públicas, 2025 também foi pedagógico. A regulamentação do Programa Mover, o anúncio do IPI Verde e a criação do Carro Sustentável mostraram um Estado mais ativo, disposto a usar instrumentos fiscais para induzir descarbonização, eficiência energética e reciclabilidade.
Ao mesmo tempo, a lentidão na implementação e as incertezas regulatórias ensinaram à indústria que o timing das políticas é tão relevante quanto seu conteúdo. Programas ajudam, mas não substituem estabilidade macroeconômica.
Outro aprendizado relevante veio da diversificação de negócios. A entrada da Stellantis no mercado de autopeças recicladas simboliza uma mudança de mentalidade: em um cenário de margens pressionadas no veículo novo, novas fontes de receita – pós-venda, economia circular, serviços – tornam-se estratégicas. 2025 deixou claro que sobreviver apenas da venda do zero quilômetro é um risco crescente.
A crise dos semicondutores, reacendida pelo caso Nexperia, reforçou talvez a lição mais sensível do ano: a dependência externa. Mesmo chips de baixa complexidade, essenciais para veículos a combustão e elétricos, expuseram a vulnerabilidade da cadeia local diante de disputas geopolíticas. A indústria aprendeu, novamente, que eficiência global sem resiliência local cobra seu preço.
Por fim, eventos climáticos extremos, como o vendaval que paralisou fábricas da Toyota, e tensões internacionais que pressionaram o petróleo, completaram o quadro.
Em 2025, a indústria automotiva aprendeu que planejamento precisa considerar não apenas mercado e tecnologia, mas também clima, diplomacia e cadeias globais frágeis. Foi um ano menos de celebração e mais de amadurecimento – e isso, em si, pode ser seu maior legado.




