Intraempreendedorismo

Uma transformação bem visível nos modelos de trabalho

Os novos modelos de trabalho impactam a contratação de novos profissionais. E abrem janela para intraempreendedores encontrarem novos campos para inovar
Alexandre Waclawovsky, o Wacla, é um hacker sistêmico, especialista em solucionar problemas complexos, através de soluções criativas e não óbvias. Com 25 anos de experiência como intraempreendor em empresas multinacionais de bens de consumo, serviços e entretenimento, ocupou posições de liderança em marketing, vendas, mídia e inovação no Brasil e América Latina. Wacla é pioneiro na prática da modalidade Talento sob Demanda no Brasil, atuando como CMO, CRO e Partner as a Service em startups e empresas de médio porte, desde 2019. Atua também como professor convidado em instituições renomadas, como a Fundação Dom Cabral, FIAP e Miami Ad School, além de autor de dois livros: "Guide for Network Planning" e "invente o seu lado i – a arte de

Compartilhar:

Uma manchete recente do jornal O Estado de S. Paulo chamou minha atenção. Ela dizia: [“Empresas fazem até shows para estimular a volta ao escritório”](https://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,empresas-fazem-ate-shows-para-estimular-retorno-ao-escritorio,70004039940). E levou à uma pergunta necessária: qual será o limite para atrair e engajar as pessoas, após esses dois anos que atravessamos?

Uma das grandes discussões entre empresas e CEOs tem sido exatamente sobre qual modelo será adotado daqui para frente. Afinal, o trabalho remoto foi regra por tempo suficiente para muitos novos hábitos surgirem e se consolidarem como o novo normal.

Pessoas mudaram de cidade, reformaram ou adaptaram suas casas para o trabalho remoto, perceberam que é possível trabalhar à distância sem comprometer suas entregas, reorganizaram suas rotinas pessoais e familiares. O que no início era recheado de desconfiança e desconforto, logo se transformou no modelo desejado por muitos.

Enquanto isso, as empresas – compostas por essas mesmas pessoas – passaram (e ainda passam) por grandes desafios na adaptação a essa nova modalidade de trabalho. Como controlar a produtividade ou como saber o que as pessoas estão fazendo quando as fronteiras geográficas foram, literalmente, pulverizadas, com pessoas trabalhando de todos e para todos os lugares?

Se antes era impensável para uma empresa de São Paulo contratar alguém do Norte do Brasil, sem que essa pessoa viesse morar fisicamente na capital paulista, agora essa barreira foi eliminada. Escritórios foram remodelados, reduzidos ou extintos. Talentos de tecnologia do Brasil passaram a ser assediados por empresas do exterior, multiplicando seus ganhos e desfrutando de uma liberdade de escolha raramente experimentada.

O [Léo Xavier](https://www.linkedin.com/in/leoxavier/), empreendedor pioneiro do universo mobile no Brasil e atual CEO e co-founder da Môre Design e da Leve Fotos (entre outras empresas que ele traz no portfólio) me contou, recentemente, sobre a dificuldade de contratar pessoas pelo regime CLT. Ao receber uma oferta de trabalho, alguns profissionais preferem o modelo do job ou da nota fiscal, sem um vínculo formal com a empresa.

O que era sonho, num passado não muito distante, se transformou numa “bola de ferro” para pessoas, que cada vez mais prezam por sua liberdade de escolher e estar a serviço e não mais “no serviço”.

E quando tudo parecia ter se ajeitado, eis que as barreiras sanitárias estão sendo levantadas, levando vida a (tentar) ser como era antes.

## Mas peraí!! Será que as pessoas querem voltar ao “velho normal”?
Ao convocar seus colaboradores a retornarem aos seus postos presenciais de trabalho, as empresas começaram a sentir o efeito dessa mudança (acredito que definitiva) nas relações de trabalho.

Uma parcela significativa tem resistido a retomar ao modelo full time presencial. Inconformadas com essa resistência, as organizações têm criado os mais variados tipos de incentivo, inclusive o mencionado no início deste artigo.

E se você pensa que esse “efeito ratoeira” acontece apenas no trabalho, engana-se. Há universidades promovendo shows com DJs, nos intervalos das aulas, para atrair a presença dos alunos.

Algo mudou e é importante refletir. Confesso que sempre fui um adepto do modelo híbrido e flexível. Durante minha carreira corporativa, pude exercitar essa modalidade ao ocupar posições de liderança na América Latina, com as constantes viagens e fusos horários me oferecendo oportunidades de gerenciar minha agenda com mais flexibilidade.

Sempre acreditei no engajamento pelo propósito e pelo valor de contribuição mútuo entre empresa e colaborador versus o modelo tradicional do cartão de ponto, do controle, do chefe e do crachá que mostra que pertenço a algo.

__Vejo no modelo híbrido, um ótimo teste de engajamento real e de cultura para as empresas.__

E pelo mesmo ponto de vista, tenho muita dificuldade em acreditar no modelo 100% remoto, pois ele cria um gap claro de pertencimento. Vivo isso, na prática, há três anos trabalhando em startups. Em uma delas, onde trabalhei por seis meses, não conheci ninguém pessoalmente, o que me dava uma leitura fraca sobre a cultura e sobre o modo de pensar das pessoas. As relações eram transacionais e os vínculos, fracos. O que me faz continuar avaliando como superar o desafio de como transmitir valores e sustentar a cultura em uma organização à distância.

E não se trata de julgar o modelo certo ou errado, mas de uma necessidade urgente das empresas recalibrarem suas expectativas e suas expectativas sobre os modelos de trabalho.

Se no passado os colaboradores “eram da ou pertenciam à empresa”, no futuro (e arrisco a dizer, já no presente) uma boa parte deles estará feliz por estar “a serviço” da empresa em sprints, projetos ou temporadas. E tudo bem.

E tudo bem também se uma pessoa tiver mais de um trabalho. Precisamos despir nosso pensamento de emprego e começar a pensar em trabalho, onde colaboro e sou remunerado e valorizado por minha contribuição real e efetiva.

O intraempreendedorismo e a inovação são altamente estimulados com um olhar além dos muros corporativos. Essa lateralidade de perspectivas é essencial para que as pessoas acessem esse mundo real e dinâmico que vivemos.

E gostemos ou não, esse contexto de negócios como conhecíamos segue a passos largos para uma transformação de modelos organizacionais, ainda baseados na era industrial.

E você, como fica: desconfortável ou animado?

Compartilhar:

Alexandre Waclawovsky, o Wacla, é um hacker sistêmico, especialista em solucionar problemas complexos, através de soluções criativas e não óbvias. Com 25 anos de experiência como intraempreendor em empresas multinacionais de bens de consumo, serviços e entretenimento, ocupou posições de liderança em marketing, vendas, mídia e inovação no Brasil e América Latina. Wacla é pioneiro na prática da modalidade Talento sob Demanda no Brasil, atuando como CMO, CRO e Partner as a Service em startups e empresas de médio porte, desde 2019. Atua também como professor convidado em instituições renomadas, como a Fundação Dom Cabral, FIAP e Miami Ad School, além de autor de dois livros: "Guide for Network Planning" e "invente o seu lado i – a arte de

Artigos relacionados

Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
15 de outubro de 2025
Cuidar da saúde mental virou pauta urgente - nas empresas, nas escolas, nas nossas casas. Em um mundo acelerado e hiperexposto, desacelerar virou ato de coragem.

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Marketing & growth
14 de outubro de 2025
Se 90% da decisão de compra acontece antes do primeiro contato, por que seu time ainda espera o cliente bater na porta?

Mari Genovez - CEO da Matchez

3 minutos min de leitura
ESG
13 de outubro de 2025
ESG não é tendência nem filantropia - é estratégia de negócios. E quando o impacto social é parte da cultura, empresas crescem junto com a sociedade.

Ana Fontes - Empreendeedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Estratégia
10 de outubro de 2025
Com mais de um século de história, a Drogaria Araujo mostra que longevidade empresarial se constrói com visão estratégica, cultura forte e design como motor de inovação.

Rodrigo Magnago

6 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Liderança
9 de outubro de 2025
Em tempos de alta performance e tecnologia, o verdadeiro diferencial está na empatia: um ativo invisível que transforma vínculos em resultados.

Laís Macedo, Presidente do Future is Now

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Bem-estar & saúde, Finanças
8 de outubro de 2025
Aos 40, a estabilidade virou exceção - mas também pode ser o início de um novo roteiro, mais consciente, humano e possível.

Lisia Prado, sócia da House of Feelings

5 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
7 de outubro de 2025
O trabalho flexível deixou de ser tendência - é uma estratégia de RH para atrair talentos, fortalecer a cultura e impulsionar o desempenho em um mundo que já mudou.

Natalia Ubilla, Diretora de RH no iFood Pago e iFood Benefícios

7 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
6 de outubro de 2025
Como a evolução regulatória pode redefinir a gestão de pessoas no Brasil

Tatiana Pimenta, CEO da Vittude

4 minutos min de leitura