Sustentabilidade
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Mulheres no centro da decisão climática: um novo pacto entre equidade e futuro

O protagonismo feminino se consolidou no movimento com a Carta das Mulheres para a COP30
Luiza Helena Trajano é presidente do conselho de administração do Magazine Luiza e do Grupo Mulheres do Brasil, e Fabiana Peroni, diretora de projetos e parcerias do Grupo Mulheres do Brasil.

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A COP30, realizada em Belém, é um marco não apenas para o Brasil, mas para toda a agenda global do clima. Pela primeira vez, a Amazônia tornou-se o epicentro das discussões sobre o futuro do planeta, e foi simbólico ver as vozes femininas levantando-se para afirmar: não há justiça climática sem equidade de gênero.

As mudanças climáticas não afetam todas as pessoas da mesma forma. Mulheres e meninas, especialmente as negras, indígenas, quilombolas, periféricas e ribeirinhas, continuam entre as mais impactadas por desastres naturais e crises ambientais. E, paradoxalmente, ainda são minoria nos espaços onde se decidem os rumos do clima, da economia e do desenvolvimento sustentável.

Essa desigualdade é o que chamamos de injustiça climática de gênero, e é justamente ela que buscamos transformar. À frente do Grupo Mulheres do Brasil, reafirmamos nosso compromisso de colocar as mulheres no centro da decisão e da ação climática, reconhecendo que o cuidado, a inovação e a liderança feminina são forças fundamentais para uma transição ecológica justa, ética e duradoura.

Nosso protagonismo nessa discussão consolidou-se com a Carta das Mulheres para a COP30, um documento político e técnico construído de forma coletiva e suprapartidária. Reunimos lideranças de todo o país, entre gestoras públicas, ativistas, empresárias, organizações sociais e mulheres que vivem nos territórios, para apresentar propostas que tornassem o desenvolvimento sustentável mais inclusivo e participativo.

A Carta foi estruturada em sete eixos de ação, abrangendo desde a proteção dos biomas e saberes tradicionais até o financiamento climático com recorte de gênero, a criação de redes de mulheres pela justiça climática, a educação para a resiliência e a transparência na gestão dos dados ambientais. Essas diretrizes não foram apenas reivindicações. Foram estratégias concretas de futuro, mostrando que as mulheres não querem estar apenas na linha de frente do enfrentamento às crises, mas também na linha de comando das soluções.

Ao longo da COP30, fica ainda mais evidente que o setor empresarial tem um papel decisivo nesse movimento. A equidade de gênero e a sustentabilidade deixaram de ser temas periféricos: têm se mostrado essenciais à competitividade e à legitimidade das organizações.

As empresas que desejam ser parte da solução precisam alinhar suas estratégias de negócio a uma nova lógica de prosperidade, que conecta resultado econômico com impacto social e ambiental. Isso significa garantir a presença de mais mulheres nos conselhos, nas lideranças e nos espaços onde se definem políticas e investimentos. Quando as mulheres estão nesses lugares, as soluções são mais amplas, humanas e inovadoras. A diversidade não é apenas uma bandeira, é uma vantagem competitiva.

COP das Mulheres

Nesse contexto, a COP das Mulheres, em Belém, é um desdobramento natural dessa trajetória. Ao reunir lideranças femininas de todas as regiões do país e de diversas esferas de atuação, alinhando expectativas dos meios público e privado e estendendo os holofotes para as realizações e demandas das populações dos territórios, o evento sinalizou que há uma geração de mulheres prontas para redesenhar a forma como pensamos o clima, a economia e o desenvolvimento.

A COP chancela a certeza de que a transição ecológica só será justa se for também uma transição de poder, um movimento que reconheça a força e a contribuição das mulheres em todos os níveis da sociedade. Já temos em nossos territórios excelentes exemplos de mulheres que fazem girar a roda da economia inclusiva.

Em Belém mesmo, a potência feminina ribeirinha trilha caminhos de subsistência e economia sustentável em várias atividades, do extrativismo ao artesanato e em projetos significativos de bioeconomia de grande impacto, produtos de beleza, medicinais e tecidos ecológicos, entre outros. Na própria COP30 há um espaço colaborativo que dá visibilidade a muitos desses empreendimentos. Que essas iniciativas locais sejam inspiração para movimentos globais de equidade de gênero para a justiça climática.

Nosso desafio, a partir de agora, é dar continuidade ao legado da COP30: apoiar políticas públicas, fortalecer redes e inspirar o setor privado a agir com coragem e propósito. Cuidar do planeta é também cuidar das pessoas. E as mulheres, que há séculos sustentam a vida, estão prontas para sustentar também o futuro.

Saiba mais sobre o documento

Nos dias 7 e 8 de outubro último, Brasília assistiu ao evento “Bancada Feminina na COP30”, que reuniu parlamentares, gestoras publicas, lideranças da sociedade civil, organizações feministas e movimentos de base de todo o País para debater os pontos de vista femininos sobe a construção de economias e democracias sustentáveis, a defesa de biomas e a educação para a vida e para o futuro. Isso deu tração à Carta das Mulheres para a COP30, chamada de “COP das Mulheres”, elaborada de maneira colaborativa, suprapartidária e interseccional, reunindo contribuições de todas as regiões do Brasil sob a coordenação do Grupo Mulheres do Brasil.

A Carta lista propostas concretas para o enfrentamento da crise climática, organizadas em sete diferentes eixos:
1) biomas e territórios,
2) economia verde e inovação,
3) financiamento climático com perspectiva de gênero,
4) construção de redes femininas e participação plena nas decisões climáticas,
5) educação para resiliência climática e comunicação,
6) justiça climática e direitos humanos: agentes mulheres, paz e segurança, e
7) monitoramento, dados e transparência.

Você pode conferir a íntegra das propostas aqui.

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