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“Best before”: repensar o consumo é um passo cultural, que aproxima o Brasil de uma economia mais inteligente e sustentável

Modernizar o prazo de validade com o conceito de “best before” é mais do que uma mudança técnica - é um avanço cultural que conecta o Brasil às práticas globais de consumo consciente, combate ao desperdício e construção de uma economia verde.
CEO e founder da Food To Save - empresa que atua no combate ao desperdício de alimentos no país e na promoção do acesso a bons alimentos. Lucas foi eleito empreendedor do ano pela EY, reconhecido como um dos Top 50 Creators do LinkedIn na categoria Food Industry & Food Tech.

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Recentemente participei da sessão da Frente Parlamentar de Comércio e Serviços, em Brasília, em que foi discutida a PL 3095/2025. O encontro reuniu parlamentares, o presidente da ABRAS, João Galassi, ABIA | Associação Brasileira da Indústria de Alimentos e diversas entidades do setor. A proposta busca modernizar o prazo de validade dos alimentos, introduzindo o conceito de “best before” ou “consumir preferencialmente antes de”.

O conceito, já adotado na União Europeia, Reino Unido, EUA e Canadá, indica que a data de validade não significa, necessariamente, que o produto não pode mais ser consumido. Após essa data, é necessário que o consumidor faça uma análise sensorial simples – verificando cheiro, aparência e sabor – para avaliar se o produto ainda está próprio para o consumo. Essa política há décadas orienta consumidores e empresas a aproveitarem alimentos de forma mais consciente e segura. A experiência internacional mostra que é possível, sim, reduzir o desperdício por meio da mudança no consumo.

Em ano de COP 30, as discussões sobre o impacto do desperdício de alimentos tornam-se ainda mais urgentes. Apesar de ser impactado fortemente pelas alterações climáticas, anualmente, o Brasil descarta um volume impressionante de alimentos, equivalente à capacidade total do estádio Maracanã, totalizando cerca de 46 milhões de toneladas de comida desperdiçada, conforme dados da ONU. Enquanto milhões de pessoas passam fome, estamos jogando fora bilhões de reais e contribuindo para a emissão de gases do efeito estufa. É mais do que urgente a necessidade de nos unir para mudar essa realidade.

A boa notícia é que o combate ao desperdício de alimentos já se consolidou como um novo setor da economia verde, com impacto ambiental direto e potencial de escala global. Hoje, combater o desperdício é também uma forma de reduzir emissões e gerar valor econômico. As empresas que entenderem isso sairão na frente, porque o consumidor está mais consciente e quer fazer parte da solução. Só para se ter uma ideia, o estudo “Investing in the Green Economy”, elaborado pelo London Stock Exchange Group revelou que a economia verde global atingiu a marca de US$ 7,2 trilhões de capitalização de mercado só no primeiro trimestre do ano passado, tornando-se o segundo setor com melhor desempenho mundial na última década, atrás apenas do setor de tecnologia.

Na Food To Save, por exemplo, tratamos esse tema com seriedade porque acreditamos que transformar o ecossistema alimentar exige união entre iniciativa privada, entidades setoriais e poder público. É preciso promover políticas públicas modernas, educação do consumidor e práticas que tornem o consumo consciente um hábito e o combate ao desperdício uma cultura. Atualizar a legislação brasileira é um passo essencial para evitar que alimentos próprios para consumo continuem sendo descartados por falta de clareza nas datas de validade. Produtos não perecíveis, como biscoitos, massas ou cereais, podem perder crocância ou sabor, mas mantêm seu valor nutricional e segurança.

Apesar de não ser uma solução única, podemos nos inspirar e olhar para o modelo do “Best Before” como uma ferramenta poderosa dentro de uma estratégia maior para reduzir o desperdício e ensinar sobre os alimentos. Modernizar o prazo de validade é muito mais do que uma questão técnica, é um passo cultural, que aproxima o Brasil de uma economia mais inteligente, sustentável e alinhada aos desafios do futuro. 

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